Irã pode ser pressionado sem ação militar, diz especialista

David Menashri

MARCELO NINIO – DE JERUSALÉM

Em meio à escalada retórica do governo israelense contra o Irã, que aumentou a percepção de que um ataque é iminente, há vozes importantes no país que defendem uma alternativa à ação militar.

Em entrevista à Folha, Menashri defendeu outras formas de pressão para convencer os aiatolás a atrasar seu programa nuclear e dar aos jovens iranianos esperança de que é possível mudar vencer a tirania do regime.

Como é possível conter o programa nuclear iraniano sem um ataque militar?

David Menashri – O regime está enfraquecido e as suas últimas ações mostram isso. Navios de guerra no Golfo, ameaças de fechar o estreito de Hormuz, o ataque à embaixada britânica em Teerã, esses são em minha visão sinais de fraqueza.

Não sei se pode-se enfraquecer o regime, mas é possível forçá-lo a mudar de atitude.

Não é preciso recorrer à opção militar, que, espero, não seja usada. Acho que há muitas outras áreas em que é possível pressionar o regime.

O Irã é um país que nos últimos 33 anos sempre optou por soluções pragmáticas. Sempre que houve choques entre os interesses do Estado e a ideologia do regime, o governo islâmico optou por soluções racionais e pragmáticas, priorizando o interesse do Estado.

Eu começaria pelo tema dos direitos humanos. O Irã se importa com o que o mundo fala dele. E as violações de direitos humanos deveriam ser enfatizadas na mídia mundial diariamente. Eles amam ser amados e odeiam ser odiados.

Além disso é possível exercer pressão diplomática. Quando os iranianos atacaram a embaixada britânica, há três meses, imagine se a Europa retirasse todos os seus embaixadores.

Seria um grande golpe para o Irã se a UE se unisse e não tolerasse esse tipo de comportamento. E há a economia, a pressão financeira sobre os bancos.

Há muitas opções para convencer os iranianos de que para o seu próprio bem é melhor atrasar seu programa nuclear.

A pressão do Brasil em direitos humanos pode ter resultado?

Acho que quem deveria ter o papel principal é a Europa, ela tem que mostrar seu músculo moral. Os europeus estão sempre falando de direitos humanos, países como Alemanha, França, os escandinavos.

Mas o Brasil é um país muito importante para o Irã e também pode contribuir.

O ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, tem dito que não há resta muito tempo e que por isso é preciso pensar na opção militar.

Dou grande apoio ao diálogo com o Irã, mas não tenho grande crença nele. Você pode ir a Teerã para um diálogo e depois de seis meses ou um ano eu sei qual será a resposta. Eles não dirão sim nem não.

Sua resposta variará entre “não, porém…” e “sim, mas…”. Eles são bons diplomatas, por isso vão começar com o sim. E depois tudo volta ao início. Acho que o diálogo ainda é importante, sobretudo para mandar um sinal para dois grupos.

Um objetivo é mandar um sinal aos jovens iranianos de que tentou tudo antes de recorrer a ações mais radicais, e também mostrar ao povo americano que seu governo também tentou tudo. É verdade que o tempo está se esgotando. E lhe digo honestamente, eu não sei qual o calendário.

Ouvimos o tempo todo que este é o ano crucial, como disse o secretário de Defesa dos EUA Leon Panetta. Ouvimos dos israelenses que é uma questão de meses, não de anos. Certamente o tempo está se esgotando.

Não sei quando os iranianos chegarão lá, mas a cada dia que passa ficam mais próximos de possuir capacidade nuclear. Há dois trens em movimento no Irã.

Um deles carrega a mensagem de mudança social e o outro carrega a mensagem de poder nuclear. Infelizmente, o segundo está indo mais rápido. Portanto, sim, é urgente, mas a opção militar tem tamanhas consequências que é preciso pensar muito antes de adotá-la.

E aí entra também a pergunta de que executará [o ataque]. E também, de que é o problema.

A maioria das pessoas aponta para Israel e pergunta quando ele irá atacar. E a minha pergunta é: por que Israel? O problema do Irã é do mundo livre, do Oriente Médio e também de Israel. Por isso, eu não acho que o problema iraniano, ou o desafio, ou ameaça, qualquer que seja o jeito de descrevê-lo, tenha uma solução com marca registrada em Israel.

É um desafio enorme e exige uma frente unida, principalmente uma aliança transatlântica entre os EUA e seus aliados europeus para pressionar o Irã a mudar sua atitude. Acho que isso é possível, mesmo sem a China e a Rússia.

O que é o desafio iraniano?

O problema é um regime com uma ideologia tão radical ter armas nucleares. Até agora a política do Irã foi baseada principalmente em interesse nacional.

Acho que estamos entrando numa nova fase, em que as políticas são tomadas não apenas com base no interesse mas na sobrevivência do regime. E regimes radicais, para sua sobrevivência, podem ser impelidos a tomar passos mais radicais.

Imagine se a Líbia de Gaddafi tivesse armas nucleares. Ou a Síria de Bashar Assad hoje. Se houver um meio de evitar que essa ideologia radical tenha armas nucleares, é algo que deve ser feito.

O que mudaria com um Irã nuclear?

Não acho que no dia que tiver uma bomba atômica o Irã irá lançá-la contra Tel Aviv ou Riad. Eles são mais espertos que isso. Mas não concordo que não mudaria nada [como dizem alguns analistas].

Acho que seria uma mudança geoestratégica dramática no Oriente Médio. A simples posse faria uma grande diferença. Para começar, no dia em que o Irã tiver armas nucleares, Egito, Arábia Saudita e outros países seguirão os passos.

E o que acontecerá com o [grupo palestino] Hamas e o [grupo libanês] Hizbollah, sob o guarda-chuva nuclear de Teerã? Muitas coisas mudariam. Mas se você me perguntar se eles vão jogar a bomba em Tel Aviv, eu duvido.

A bomba garantiria a sobrevivência do regime?

Daria um poder tremendo. Se há alguma esperança de mudança no Irã, não é pela opção militar ou pela pressão do Ocidente. É pelo povo do Irã. Porque eles vão acabar se levantando para mudar a situação.

O problema é que não sabemos quando, porque o trem nuclear está indo mais rápido que o das mudanças sociais. Não sabemos quando os movimentos sociais emergirão. Pode ser amanhã ou em 20 anos.

Eu acredito que a chamada Primavera Árabe é algo mais tipicamente iraniano. O Irã é o único país do Oriente Médio em que o povo mudou a política, incluindo a Revolução Islâmica e a revolução constitucional de 1906.

Eles também começaram um movimento em 2009, depois das eleições no Irã. E apesar de o regime ter reprimido com violência, sob a superfície a chama está acesa.

E eles estão esperando uma nova oportunidade. Por isso, a chance de uma pressão popular para mudar a realidade no Irã é muito alta, só não sabemos quando.

A questão é se isso vai acontecer antes ou depois de o Irã se tornar uma potência nuclear.

Quem está dirigindo o trem das mudanças sociais no Irã?

Os jovens do Irã. Houve recentemente a celebração pelos 33 anos da Revolução Islâmica e a atmosfera era de depressão. Essa revolução não foi bem sucedida em satisfazer as expectativas das pessoas. Eu vivi no Irã.

As pessoas não foram à revolução em 1979 para criar um regime islâmico. Elas buscavam basicamente duas coisas: pão e liberdade. É o mesmo que os egípcios buscaram na revolução contra Mubarak.

As pessoas querem bem estar social e a esperança de que seus filhos viverão num país melhor. Esse era o objetivo da Revolução Islâmica e não foi alcançado.

Não há mais liberdade hoje da que havia sob o xá e nós sabemos que o xá não era um democrata. E a situação social dos pobres do Irã também não é melhor que na época do xá. Esses são os problemas do país.

Veja a desvalorização da moeda iraniana, 50% em quatro meses, desemprego, problemas para conseguir habitação, serviços de saúde.

E o povo iraniano, os jovens, formam uma sociedade civil maravilhosa. Veja o cinema iraniano. Veja os livros, os que são permitidos. Veja as organizações de mulheres, por exemplo.

Eles são a esperança de um futuro brilhante para o Irã, mas no momento eles estão sendo reprimidos. Tenho certeza que em, algum momento eles levantarão sua voz.

Qual o efeito das ameaças israelenses na atitude do regime?

Não acho que alguém sabe quando e se haverá um ataque. Meu medo não é de uma guerra intencional. Ninguém está interessado numa guerra, nem Israel, nem EUA, nem Irã e nem a Europa.

Mas infelizmente, todos estão promovendo a guerra com essa escalada retórica. As guerras ao longo da história com frequência começam não por decisões e intenções, mas por erros de cálculo e de interpretação.

O perigo dessa escalada retórica é permitir a um erro de cálculo.

Qual seria a reação do Irã a um ataque?

Alguns dizem que um ataque uniria o povo iraniano, mas movimentos populares são imprevisíveis. Ninguém sabia um ano atrás que Mubarak seria deposto. Nem Gaddafi. Vemos tantas previsões erradas ao longo da história.

Mas acho que se começarmos a falar de direitos humanos e darmos esperança aos jovens do Irã, no final das contas caberá a eles fazer algo para mudar. Dois relógios estão batendo, mas infelizmente o relógio nuclear é mais rápido.

Provavelmente haveria uma reação militar, que pode ser direta ou pelo Hamas, Hizbollah, terrorismo no mundo e aí eles terão uma certa legitimidade para fazer isso.

Por isso acho que essa escalada deve ser contida. porque ninguém vai lucrar com um confronto.

David Menashri é um dos maiores especialistas em Irã de Israel, fundador do departamento de estudos iranianos da Universidade de Tel Aviv, da qual é professor emérito.

Fonte: Folha

7 Comentários

  1. Primeiro o “especialista” diz:

    “David Menashri – O regime está enfraquecido e as suas últimas ações mostram isso.”

    Segundos depois diz:

    “Não sei se pode-se enfraquecer o regime, mas é possível forçá-lo a mudar de atitude.”

    AAAHHHHHH!! VAI JOGAR BINGO VEIO!!!

  2. As nações ricas quase falidas estão gastando uma grana em propagandas dentro do estado iraniano via instituição de ensino-universidades, até o momento nada mudou, ja é sabido entre os estudantes que o imperio do norte so respeita a bomba nuclear. Quem é o boi de piranha?

  3. Sou leitor, mas este texto é uma BOSTA. Somente se tira de proveito isto: Arma Nuclear ninguém usa e é importante, tanto que Gaddafi se foi e agora vai o Mubarak: é fato. Acorda Brasil. Também só reforça aquilo que ja sabemos: o mídia podre não esta conseguindo destruir a construção da Defesa Persa na velocidade que Israel quer.

  4. Eu tbm acho que o não ataque pode ter mais efeito do que um ataque ao Irã,um ataque pode unir bastante o país agregando até os opositores,imagina vc sendo contra o governo do seu país e apoiando a visão de outros países contra o governo do seu,más mesmo assim vc não quer bombas caindo na sua terra e na sua cabeça,se o Irã terminar o desenvolvimento nuclear não quer dizer que ira atacar outros países imediatamente,terá a bomba como salva-guarda,ai caberá o mundo mudar principalmente as potencias nucleares que pouco fazem pra se desarmar e retirar o ambiente de ameaça a outros países facilitando a desnuclearização de forma global.

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