A Unidade Radwan do Hezbollah

E.M.Pinto


Em um movimento que atraiu atenção global, a Força Radwan, uma unidade de elite do Hezbollah, passou a ser um ponto de tensão na fronteira entre Israel e Líbano. Desde o 07/10/2023, Israel exigiu que o grupo se retirasse para pelo menos 30 km da linha de fronteira, ameaçando retirá-lo à força caso isso não acontecesse voluntariamente. Rumores ainda apontam que a unidade estaria ativa nas Colinas de Golã, o que, segundo analistas, poderiam indicar a abertura de uma nova frente com Israel.

Criada em 2006 como unidade de “intervenção rápida”, a Força Radwan ganhou fama com a captura de soldados israelenses, evento que desencadeou a guerra entre Israel e Hezbollah em julho daquele ano. Após a morte do comandante Imad Mughniyeh, conhecido como “Hajj Radwan,” em 2008, o grupo foi renomeado em sua homenagem. Desde então, a Força Radwan passou a lutar ao lado do regime sírio na guerra civil do país, expandindo suas operações para o sul e norte da Síria.

As Radwan demonstram um alto nível de preparo e habilidades e são treinadas para enfrentar ambientes de combate desafiadores e operar com precisão sob pressão.

Segundo relatórios, as operações da unidade na Síria endureceram suas fileiras, preparando os soldados para combates em estilo comando, distintos das táticas de guerrilha empregadas por outras forças do Hezbollah. Atualmente, fontes do exército israelense afirmam que a Força Radwan adotou a missão de “conquistar a Galileia”, região ao norte de Israel, e que sua presença na fronteira seria inaceitável.

Na primavera passada, a Força Radwan participou de raros exercícios militares públicos realizados pelo Hezbollah, simulando uma infiltração em território israelense. Com um contingente estimado em cerca de 2500 combatentes, a unidade representa uma parcela pequena, porém altamente capacitada, do Hezbollah, que teria aproximadamente 25 mil combatentes ativos e uma reserva de mesmo monte. Analistas indicam que a Força Radwan recebeu treinamento especializado da unidade de elite Sabeerin, vinculada à Guarda Revolucionária do Irã.

Durante confrontos, unidades Radwan teriam a função de realizar incursões transfronteiriças para atacar civis e tomar reféns, uma tática que se alinha com o histórico de 2006, quando a captura de dois soldados israelenses marcou o início do conflito entre Israel e Hezbollah. Nos últimos anos, o Hezbollah tem ampliado suas capacidades ofensivas, com o exército israelense em alerta máximo na região fronteiriça devido à possibilidade de ataques surpresa.

Equipamentos Flexíveis e Leves nas Operações, a variedade de equipamentos usados pelos Radwan, incluindo lança-foguetes, mísseis e drones, que permitem mobilidade e adaptabilidade em diferentes tipos de terreno.

A Força Radwan consolidou uma reputação de combate durante sua atuação na guerra civil síria, onde teve um papel estratégico na tomada da cidade de Aleppo. O fortalecimento da unidade e seu avanço nas capacidades de combate refletem uma transição do Hezbollah, que, segundo o general israelense Shlomi Binder, atua cada vez mais como um exército regular, com o poderio de realizar operações ofensivas de larga escala.

Estrutura Operacional e Formação Tática

Estrutura de Comando e sua organização hierárquica, divididos em esquadrões, pelotões e companhias, facilita a comunicação e a coordenação estratégica durante as operações.

A Força Radwan é altamente treinada para operações que demandam precisão e adaptabilidade, refletindo sua capacidade em executar tanto missões de guerrilha quanto operações convencionais em ambientes urbanos e rurais.

Um esquadrão tático típico das Radwan é composto por  8 a 10 soldados, com um comandante, operadores de armas pesadas (como PKM ou RPG), e o restante equipado com fuzis de assalto.

Numa estrutura maior, as Radwan congregam o Grupo de Combate, composto por cerca de 40 a 60 soldados e inclui divisões de infantaria, suporte de fogo, operadores de drones e inteligência.

Ao nível de companhia de Elite as unidades variam de 100 a 150 combatentes,  estas unidades já são equipadas com veículos blindados, drones e suporte de artilharia leve.

Alguns dos equipamnetos utilizados pelas unidades do Radwan são apresnetados na tabela que segue.

Categoria Equipamentos Descrição
Armas Pessoais Fuzis de Assalto: AK-47, M4 Carbine, FN FAL AK-47 pela durabilidade; M4 Carbine (capturados/adquiridos) para operações especiais; FN FAL para longo alcance.
Metralhadoras Leves: PKM, RPD PKM em posições defensivas e patrulhas; RPD para apoio de fogo, especialmente em terrenos montanhosos.
Pistolas: Glock 19, Browning Hi-Power Glock para combate próximo e operações discretas; Browning Hi-Power como pistola padrão regional.
Sistemas de Mísseis Lançadores Antitanque: RPG-29, Kornet-E (ATGM), TOW RPG-29 para veículos blindados; Kornet-E (russo) e TOW para fortificações e blindados.
Drones Reconhecimento e Ataque: Mohajer-6, Shahed-129, Drones Comerciais Modificados Mohajer-6 e Shahed-129 para reconhecimento e ataque de precisão; drones comerciais modificados com explosivos.
Veículos Blindados Utilitários: Toyota Hilux, Toyota Land Cruiser, Tanques T-72 veículos blindados para proteção e mobilidade; Hilux e Land Cruiser modificados com metralhadoras; tanques T-72 capturados.
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Estrutura de Comando

A cadeia de comando da Unidade Radwan é composta por três níveis principais, permitindo uma organização hierárquica que maximiza a eficiência operacional.

Liderança Central

A Mobilidade com Motocicletas e Mísseis Anti carro e antiaéreo no Campo de Batalha, ilustra o uso de motocicletas e tropas equipadas com mísseis, destacando a velocidade e a flexibilidade das forças Radwan no teatro de operações.

A unidade é diretamente ligada ao Comando Geral do Hezbollah e responde diretamente à liderança do Hezbollah, sob o controle estratégico do secretário-geral, que supervisiona todas as operações militares.

A força posusi representação e é integrante do comando militar do Hezbollah, a unidade recebe designações e coordena sua estratégia conforme as prioridades da organização.

O Comando Operacional do Radwan se subdivide em unidades.
Sendo o Comandante da Unidade Radwan, Um oficial específico, que reporta diretamente ao comando superior do Hezbollah, lidera a unidade. Este comandante supervisiona as operações, define as estratégias de combate e organiza as missões.

Ao nível de Comando Regional, a unidade Radwan é dividida em companhias ou grupos de combate regionais, cada qual liderado por um comandante que responde pelas operações em sua área de atuação. No que se refere aos oficais de campo , cada grupo de combate, composto de 40 a 60 combatentes, possui um oficial responsável pelo planejamento tático e pela comunicação direta com o comandante da unidade.

A estrutura de combate das unidades Radwan é bem enxuta e cada comandante de Esquadrão em campo lidera entre 8 a 12 soldados. Apenas combatentes provados em campo com experiencia é que podem chegar a este posto, estas frações de tropas são especializadas em operações de pequeno porte, como ataques rápidos e emboscadas.

As unidades Radwan também possuem em campo os seus Oficiais de Inteligência os quais são direcionados para fornecer informações cruciais sobre o terreno e os alvos, esses oficiais de inteligência oferecem suporte fundamental para o planejamento estratégico e tático.

Locais de Concentração e Funções Estratégicas

A Unidade Radwan mantém bases em áreas críticas tanto no Líbano quanto na Síria, incluindo a fronteira com Israel e regiões de conflito. Com a proximidade da fronteira israelense, os membros da unidade permanecem no terreno confrontando as tropas de israel que tentam ocupar o sul do líbano, prontos para responder rapidamente a movimentações e ameaças, consolidando-se como uma das principais forças estratégicas do Hezbollah, mas há outras regiões onde os Radwan estão presentes.

A tabela a seguir apresenta as principais localidades onde se concentram as forças do Hezbollah.

País Região Descrição
Líbano Vale do Bekaa Reduto do Hezbollah, usado como base de operações logísticas e treinamento. A proximidade com a Síria facilita a mobilização.
Sul do Líbano Área estratégica na fronteira com Israel, monitorada pelo Hezbollah com forças de prontidão para operações de guerrilha.
Dahiyeh (Beirute) Subúrbio ao sul de Beirute, serve como reduto político e militar do Hezbollah, com segurança da Unidade Radwan.
Síria Província de Aleppo A Unidade Radwan apoiou o regime sírio na defesa de Aleppo, atuando em operações urbanas contra rebeldes e extremistas.
Qalamoun Região fronteiriça onde a unidade realizou operações de controle de território e combate a insurgentes.
Damasco e arredores Unidade Radwan participou da defesa da capital, protegendo áreas críticas e auxiliando forças do governo.
Fronteira Israel-Líbano Fronteira Sul do Líbano Área sensível onde a Unidade Radwan é mantida em alerta para responder a ações hostis.

A Unidade Radwan do Hezbollah é uma força de elite envolvida em vários conflitos importantes na última década, especialmente no Líbano, Síria e confrontos com Israel.

Variedade de Sistemas de Armas do Hezbollah – Seus diversos tipos de armamentos disponíveis, incluem sistemas de defesa e ataque que conferem ampla capacidade militar.

Conflito Ano(s) Descrição Estimativa de Combatentes Perdidos
Guerra Civil Síria 2013–presente A Unidade Radwan atuou em apoio ao regime de Assad, especialmente em Aleppo e Damasco. Aproximadamente 1.700 combatentes do Hezbollah, incluindo membros da Unidade Radwan.
Conflito no Vale do Bekaa 2006, 2014 Operações contra insurgentes e extremistas na fronteira do Líbano com a Síria. Perdas inclusas nas baixas totais da guerra síria.
Conflito de 2006 com Israel 2006 Confronto de 34 dias, onde a Unidade Radwan enfrentou forças israelenses no sul do Líbano. Cerca de 250 combatentes do Hezbollah, incluindo membros da Unidade Radwan.
Defesa e Operações na Fronteira Israel-Líbano 2015–presente A Unidade Radwan permanece em prontidão na fronteira sul do Líbano, focada em defesa e dissuasão. Perdas específicas não detalhadas, principalmente operações de vigilância e combate.
Conflitos na Fronteira Líbano-Israel (Escalada 2023-2024) 2023–2024 Após o ataque do Hamas em outubro de 2023, a Unidade Radwan participou de ataques frequentes na fronteira. Mais de 20 combatentes mortos em ataques israelenses, incluindo líderes eliminados em setembro de 2024 em Beirute há um número declarado pelas IDF de cerca de outros 1200 combatentes mortos pelso bombardeios e confrontos diretos, algo que o Hezbollah não confirma

Mapa das Regiões de Conflito entre Radwan e IDF em 2024, o mapa representa as áreas de conflito ativo entre as forças Radwan e as Forças de Defesa de Israel (IDF) no ano de 2024, indicando zonas estratégicas e pontos de tensão no cenário atual.

 

Em resumo, a Unidade Radwan esteve envolvida em alguns dos conflitos mais intensos da região, particularmente contra Israel e na guerra civil síria, onde suas baixas foram substanciais, mas seus sucessos em combate ajudaram a consolidar sua reputação de força de elite.

 


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EDILSON PINTO
EDITOR CHEFE


Graduado em Física pela UNESP-Bauru, Mestrado em Física pelo IFGW UNICAMP e Doutorado em Engenharia de Materiais pela Universidade de Coimbra, Portugal. Edilson Pinto é pesquisador e diretor de projetos na SinTech Innovation. É Pesquisador no campo dos Bio Materiais, materiais nanoestruturados, modificações de superfícies, polímeros condutores, sensores para eletroanálise e corrosão metálica. Possui experiência internacional, em projetos de pesquisa. É Editor chefe e criador do Plano Brazil e Colaborador e analista dos canais Arte da Guerra e História Militar em Debate (HMD) e Falando de Guerra.

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