Edilson Pinto & Linnequer Santos
O Irã está intensificando seus esforços para equipar o Hezbollah e outros aliados regionais com sistemas avançados de defesa aérea, como o Khordad-15. Este sistema, semelhante ao Patriot dos EUA, tem um alcance de até 120 quilômetros e pode atingir simultaneamente até seis alvos do tamanho de caças a jato. A possível presença desses sistemas na Síria levanta preocupações sobre seu impacto nos cálculos de Israel e dos EUA na região, especialmente em meio aos conflitos em Gaza e às tensões com o Hezbollah. O Irã tem demonstrado um interesse estratégico em fortalecer as defesas aéreas de seus aliados, visando complicar as operações aéreas inimigas na região. O Khordad-15 representa uma classe significativamente avançada de defesa aérea, o que poderia ter implicações no equilíbrio de poder na região.
Assista ao vídeo
Aparentemente, Teerã está a redobrar os seus esforços para equipar o Hezbollah e outros aliados regionais com sistemas avançados de defesa aérea, o que poderá afetar os cálculos de Israel e dos EUA na guerra de Gaza e não só.
Relatórios provenientes da província síria de Deir al-Zoor sugerem que as milícias estariam treinando ativamente para utilizar o sistema avançado de mísseis de defesa aérea de média a alta altitude Khordad-15 do Irã, que é semelhante ao sistema norte americano Patriot. A presença de unidades Khordad-15 dentro da Síria não foi confirmada e o seu destino final é desconhecido se foram de fato transferidas para lá.
Há apossibilidade destas baterias serem destinadas às forças armadas de Bashiar al-Assad já que Damasco e Teerã teriam chegado a um acordo em julho de 2020 para fornecer ao regime de Assad uma série de sistemas de defesa aérea iranianos que incluem o Khordad-15, que pode atingir até seis alvos do tamanho de caças a jato simultaneamente a um alcance de 120km.
A perspectiva de um sistema sofisticado como o Khordad-15 ser introduzido no sul do Líbano ou no sudoeste da Síria é particularmente alarmante no atual contexto da guerra de Israel com o Hamas, dos crescentes confrontos fronteiriços com o Hezbollah e das tentativas dos militares dos EUA para contrariar o aumento dos ataques dos sírios e milícias iraquianas.
O Khordad-15 representa uma classe diferente de defesa aérea e poderá diminuir a vulnerabilidade das forças aliadas do Irã. Apresentado pela primeira vez em 2019, teria entrado em serviço no Irã no ano seguinte. O sistema é móvel e seus componentes podem ser transportados em um avião cargueiro Il-76.
Seu radar de engajamento e estação de controle estão integrados em um caminhão, tornando o sistema rapidamente reimplementável. É claro que mesmo um sistema altamente móvel seria vulnerável a esforços determinados de supressão do inimigo, especialmente se fosse implantado perto da fronteira de israel numa função de antiacesso/negação de área (A2AD). Proteger o Khordad-15 com o sistema Pantsir de alcance de combate de 20 km poderia aliviar um pouco esta vulnerabilidade. Alternativamente, os Khordads poderiam ser implantados mais profundamente no território libanês ou sírio para melhor defender o aeroporto de Damasco, Beirute incluindo o reduto do Hezbollah no bairro de Dahiya e a estrada estratégica que liga as duas capitais.
Este artigo se dedicará a explicar melhor as origens e características destes sistemas de defesa aérea, e situá-los nos sistemas mais modernos hoje disponíveis as forças de defesa aérea do Irã e seus respectivos níveis tecnológicos.
Para tal faz-se necessário uma regressão histporica que se inicia lá nos anos 80 pois, ao longo das décadas o Irã passou a desenvolver ses próprios sistemas de defesa áerea, sendo seus principais projetos apresentados consoante a cronologia simplificada do desenvolvimento dos sistemas de defesa do Irã ao longo das décadas
Linha do Tempo
1980: Durante a Guerra Irã-Iraque (1980-1988), o Irã iniciou o desenvolvimento de um programa de defesa aérea para se proteger dos ataques aéreos iraquianos.
1990: O Irã adquiriu sistemas de defesa aérea russos, como o sistema de mísseis S-200 (SA-5 Gammon) e o sistema de mísseis 1 Tor-M(SA-15 Gauntlet).
2000: Desenvolvimento do sistema de mísseis antiaéreos Bavar-373, projetado para ser comparável ao sistema russo S-300. Desenvolvimento do sistema de mísseis antiaéreos Mersad, baseado no sistema de defesa aérea Shahin iraniano. Já o sistema de defesa aérea Raad consiste numa variante do sistema russo Tor-M1.
2010: Introdução do sistema de defesa aérea Sayyad-2, desenvolvido para interceptar alvos aéreos de médio alcance. além do desenvolvimento do sistema de defesa aérea Khordad, que inclui radares de busca e rastreamento e lançadores de mísseis.
2024: revelados os sistema de defesa anti mísseis Balísticos Arman e o sistema de defesa de curto alcance Azarakhsh.
Azarakhsh
Revelado em 2024, o sistema Azarakhsh, é capaz de proteger as instalações críticas e vitais do país contra ameaças de drones e microveículos aéreos.
O sistema utiliza um avançado sistema de radar tridimensional, um sistema de busca óptica e buscadores de ponta muito ágeis e é capazes de destruir alvos em curto tempo, além disso, o sistema pode ser implantado em vários veículos e utilizado para operações. dia e noite.
O sistema é capaz de transportar até 4 mísseis capazes de atacar múltiplos alvos e pode ser usado a partir de plataformas móveis e fixas. O alcance operacional na detecção de radar é de 50 km e com detector óptico de 25 km
Sevom Khordad
O Sevom Khordad , também conhecido como Khordad-3, é o mais avançado e poderoso sistema iraniano de mísseis de defesa aérea de médio alcance.O sistema foi exibido oficialmente em 2016 e utiliza chassi 6×6, baseado no caminhão comercial IVECO, porém com muitas alterações de design.
Este sistema de defesa aérea contém um radar ativo APAR (Active Phased Array Radar) na parte frontal e transporta três mísseis no sistema lançador. É capaz de atingir alvos num raio de alcance de até 105 km e a uma altitude de até 30 km . Sabe-se que pelo menos três batalhões de Sevom Khordad estão ativos.
As origens do sistema remontam dos anos 2005 à 2010. Na altura, os iranianos planejavam comprar sistemas de defesa aérea russos. O resultado foi a encomenda, em 2007, do sistema russo de mísseis de defesa aérea de longo alcance S-300. Contudo, em 2010, a entrega foi suspensa devido às sanções da ONU impostas ao Irã pelo seu programa nuclear. O Conselho de Segurança da ONU adotou uma resolução contra o Irã.
Embora esta resolução nunca tenha mencionado o sistema S-300, os russos jogaram o seu próprio jogo e usaram esta resolução como desculpa para não entregar o S-300 ao Irã. Assim, o Irã respondeu desenvolvendo sistemas de defesa antimísseis autóctones o sistema Bavar 373 (descrito a seguir). Ao mesmo tempo, o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) acelerou o desenvolvimento de novos sistemas de defesa aérea que levaram à criação da família Raad .
Muito provavelmente estes sistemas de defesa aérea de médio alcance foram desenvolvidos com assistência russa ou bielorrussa. A família Raad ( Trovão ) que contém 3 sistemas diferentes que entraram em serviço sucessivamente.
O sistema de mísseis de defesa aérea Raad original foi exibido oficialmente em 2012. Era um sistema de médio alcance com novo design. Ele usa dois sistemas eletro-ópticos para fornecer cobertura de deteção e engajamento.
Cada veículo lançador transporta 3 mísseis, além de radar passivo adicional. O segundo membro da família foi Tabas. Seu nome refere-se ao incidente no deserto de Tabas em 1980. Este sistema aprimorado de mísseis de defesa aérea foi exibido oficialmente em 2014.
O Tabas está equipado com um radar mecânico e também carrega 3 mísseis. Pode atingir alvos com alcance máximo de até 75 km. O terceiro, até agora o membro mais avançado da família Raad, é o Sevom Khordad-3 ( Terceiro , Khordad – terceiro mês do calendário iraniano ). O nome “Sevom Khordad” refere-se ao terceiro dia do terceiro mês do calendário iraniano. Isto coincide com a libertação da cidade de Khorramshahr durante a Guerra Irã-Iraque.
O Sevom Khordad usa o mesmo chassi com rodas 6×6 dos sistemas Raad e Tabas. O novo sistema é muito mais avançado que o Tabas e utiliza um radar ativo de engajamento phased array de banda X com 1700 elementos. O sistema utiliza um sistema lançador vertical, Transporter Erector Launcher and Radar (TELAR) e usa os mesmos mísseis Taer-2. Estes têm um alcance de 50 a 105 km e podem atingir alvos a uma altitude de 25 a 30 km dependendo da versão.
Cada Sevom Khorad TELAR pode rastrear 100 alvos aéreos de uma só vez. Uma bateria contém 1 veículo TELAR (lançador + Radar) e 2 veículos TEL (apenas o lançador). Portanto, uma única bateria possui 9 mísseis prontos para disparar.
O sistema pode atingir 4 alvos simultaneamente e guiar 2 mísseis em cada alvo. Um batalhão possui 4 baterias com 4 TELAR e 8 TEL e pode atacar 16 alvos simultaneamente. Cada batalhão inclui adicionalmente um radar de vigilância em Phase 3D de banda S Bashir que tem um alcance de detecção de 350 km. O batalhão conta ainda com uma unidade de comando e controle (C2), baseada em chassis de caminhões IVECO. A unidade C2 fornece comunicação entre as baterias Sevom Khordad.
Além disso, a unidade C2 pode conectar outros sistemas de defesa aérea da família Raad, incluindo Raad e Tabas, numa única rede de defesa aérea. Isto permite cobrir grandes áreas e os alvos podem ser atacados com uma ampla gama de mísseis, desde os mísseis Taer-1 mais baratos até os Taer-2 mais capazes.
Isto adiciona a capacidade de enfrentar diferentes tipos de ameaças com diferentes tipos de interceptadores. No caso de interferência pesada, quando mesmo o radar de engajamento da banda X não consegue cumprir sua função, a unidade C2 pode fornecer um link de dados adicional, conectando o sistema aos sistemas de engajamento eletro-ópticos das baterias Raad, a fim de guiar os mísseis em direção alvos.
Em 19 de junho de 2019, um veículo aéreo não tripulado americano RQ-4 Global Hawk foi abatido pelo sistema Sevom Khordad sobre o Estreito de Ormuz. Embora os iranianos já tivessem alvejado alvos aéreos antes, foi a primeira vez na história que um sistema de defesa aérea fabricado no Irã conseguiu abater um alvo.
A atualização do sistema ainda está em andamento e segundo se sabe o sistema foi equipado com mísseis de 200 km de alcance antes de 2021, tornando-o um sistema de defesa aérea de médio e longo alcance.
O Sevom Khordad se assemelha fortemente a um sistema de mísseis de defesa aérea russo Buk M2EK . O Buk M2EK que é na verdade uma versão de exportação do Buk M2 de origem Russa, baseado em um chassi especial com rodas MZKT-6922 da Bielorrússia com configuração 6×6.
Certos sistemas do Buk M2EK de exportação são menos capazes que os Buk M2 original, o qual foi projetado para o Exército Russo. O iraniano Sevom Khordad tem layout semelhante, mas usa 3 mísseis em vez de 4 no Buk M2EK. Esta é basicamente a mais distoante difernças entre os sitema iraniano e o Russo. Ainda em 2021 foi observado um novo sistema de mísseis de defesa aérea iraniano. É uma versão do Sevom Khordad, mas equipado com 8 lançadores em formato de caixa. Essencialmente, o lançador do Sevom Khordad foi modificado para disparar novos tipos de mísseis.
Bavar 373
As Forças de Defesa Aérea do Exército Iraniano iniciaram o desenvolvimento de seu próprio sistema equivalente do S-300, que foi denominado Bavar 373. O sistema foi projetado para atacar alvos inimigos a longas distâncias e surgiu após o fracassado das compras de 2007, quando o Irã fez um acordo com a Rússia para adquirir sistemas de defesa aérea de longo alcance S-300PMU2 .
Contudo, em 2010, a entrega foi suspensa devido às sanção da ONU impostas ao Irã devido ao seu programa nuclear. Embora esta resolução nunca tenha mencionado o sistema S-300, os russos usaram este subterfúgio escondendo-se atrás da resolução como desculpa para não entregarem o S-300 ao Irã. Assim, o Irã respondeu lançando o desenvolvimento de um sistema de mísseis de defesa aérea local.
Apesar de todos os desafios técnicos, o Irã conseguiu adquirir tecnologia e desenvolver todos os componentes deste novo sistema de defesa aérea ao longo dos anos.
Isto incluiu o desenvolvimento de novos mísseis de longo alcance, radar de longo alcance e posto de comando associado. Também tiveram de ser desenvolvidos novos veículos lançadores de múltiplos eixos, uma vez que o Irã nunca produziu veículos adequados para transportar componentes do novo sistema de defesa aérea com capacidade off road.
Suspeita-se que há uma intrincada colaboração no desenvolvimento de sistemas coma Coreia do Norte e até mesmo com a China, que de certa forma colabora para o avanço mútuo de todos os envolvidos.
Em 2013, os subsistemas do Bavar 373 foram testados com sucesso. Em 2014, o sistema de defesa aérea foi colocado em operação de teste atingido com sucesso no alvo. O Bavar 373 foi revelado publicamente pela primeira vez em 2016 altura em que se descobriu que o sistema iraniano nada tinha a ver com o sistema S-300 Russo. Algumas fontes relatam que o Bavar 373 tornou-se operacional em 2019 porém, alguns altores ainda afirmam que o sistema não havia entrado em operação até 2023.
Este sistema de defesa aérea usa mísseis Sayyad 4 os quais se assemelham a mísseis Sayyad 3 porém possuem fuselagem alongada. O alcance real desses mísseis é desconhecido, embora algumas fontes relatem que seja de 200 km. Sabe-se que este míssil pode atingir alvos a uma altitude máxima de pelo menos 27 km e que está equipado com um sistema de radar semi-ativo com atualização por datalink. A ogiva é do tipo de impacto ou detonação por proximidade.
Cada veículo lançador é baseado no chassi especial com rodas Zoljanah com configuração 10×10 e transporta até 4 mísseis qu epodem ser lançados verticalmente. Esse método de lançamento oferece uma cobertura de 360 º sem a necessidade de girar o lançador. Por sua vez, os veículos destinados aos sistemas de radares e posto de comando são baseados no chassi especial com rodas Zafar com configuração 8×8.
O primeiro radar desenvolvido para o Bavar 373 tinha um alcance de detecção de 350 km e podia rastrear alvos a um alcance de 260 km. Eventualmente, um radar aprimorado foi introduzido. O sistema de defesa aérea Bavar 373 também pode ser conectado em rede com vários outros radares e sistemas de defesa aérea.
Todos os componentes do Bavar 373 são móveis e podem mudar de posição várias vezes ao dia para evitar fogo de unidades hostis. Sabe-se que o Irã opera uma rede de abrigos localizados sob as montanhas, onde estes sistemas de defesa aérea podem esconder-se com frequência e sairem para operaçõe spor tempos determinados, dificultando a localização e ataque por parte d epotenciais adversários.
Curiosamente, em 2016, o Irã recebeu um total de 4 baterias S-300PMU2 da Rússia devido ao alívio de algumas sanções dos EUA. Esta é a versão mais capaz da série russa S-300.
Seus mísseis têm alcance máximo de 200 km e podem atingir altitude máxima de 35 km. O radar tem um alcance de detecção de 300 km. Ele pode rastrear 100 alvos e atacar 36 deles simultaneamente, guiando 72 mísseis contra os alvos. Assim, eventualmente, o Irão conseguiu desenvolver um sistema de defesa aérea nativo que, em alguns aspectos, é até superior ao sistema de defesa aérea russo da série S-300, mais capaz.
Recentemente surgiram informações sobre uma versão melhorada do Bavar 373 que utiliza novo radar e é compatível com novos mísseis. O míssil Sayyad 4B aprimorado e que supostamente tem um alcance de mais de 300 km e pode atingir altitude de 32 km.
Alegadamente o seu radar possui um alcance de detecção de 450 km e pode rastrear alvos até 400 km. O novo sistema foi introduzido um novo veículo lançador 8×8, que tem seu motor localizado atrás e sob a cabine. Além disso, este veículo carrega um radar de rastreamento. Curiosamente o Irã adulterou fotos do novo veículo TELAR para ocultar o seu radar de rastreamento e até adicionar alguns detalhes que não estavam presentes no lançador.
O Irã revelou tambpem o seu interesse em exportar uma variante do sistema batizadad e “AD-200” a qual foi revelada em 2022. O desempenho deste sistema de defesa aérea é considerado semelhante ao da versão inicial do Bavar 373.
Ele utiliza os mísseis AD-200 versão de exportação do Sayyad 4. O alcance máximo de tiro é de 200 km, a altitude máxima do alvo é de 27 km. A bateria inclui até 6 veículos lançadores com mísseis, radar de busca com alcance de detecção de 320 km, radar de rastreamento com alcance de rastreamento de 260 km e rastreamento de 200 alvos, e veículo de posto de comando. Este sistema pode rastrear 200 alvos aéreos e atacar 6 deles com 12 mísseis simultaneamente.
ARMAN
Revelado em 2024, o sistema de mísseis antibalísticos “Arman” foi apresentado em uma cerimônia na capital iraniana, Teerã, com a presença do ministro da Defesa, Mohammad-Reza Ashtiani.
Há muito poucas informaçõe ssobre o sistema mas o Irã o considera uma das maiores conquistas tecnológicas uma vez que o sistema em questão repsonde às ameaças de míssies balísticos.
O Arman é um sistema dedicado para combate à médio alcance e alta altitude capaz de detectar alvos a uma distância de até 180 km e destruí-los num raio de 120 km. O lançador transporta um radar solidário ainda não especificado mas que alegadamente permite a entrada de operação e disparo em pronto emprego em menos de três minutos.
Excelente material! Parabéns pelo conteúdo!
Muito obrigado