A Política Norte-Americana de Vendas de Armas para Taiwan

E.M.Pinto


Os Estados unidos mantém a retórica e uma política equivocada sobre vendas de armas para Taiwan, e isto está escrito não em tablóides, mas sim nos relatórios recentes provenientes da Casa Branca, do Departamento de Estado e do Departamento de Defesa  que afirmaram que Taiwan deveria “concentrar as compras de armas” em “armas assimétricas”. Ao que tudo indica, uma pressão da administração Biden, especialmente em ambos os departamentos, defesa e estado, visa forçar Taiwan a prosseguir na compra de“armas assimétricas” e reflete uma avaliação imprecisa da ameaça militar da República popular da china sobre Taiwan. Biden estaria propondo limitar o leque de armas que Taiwan pode comprar e que “coincidentemente se alinha com o desejo do Partido comunista chinês de enfraquecer a capacidade de defesa de Taiwan. Etsamos vendo nascer uma nova Ucrânia no oriente?

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Um conflito assimétrico é caracterizado pela guerra entre partes em que há uma notável disparidade no poder militar relativo ou uma diferença significativa em estratégias e táticas. Um exemplo claro desse tipo de guerra é o uso ou ameaça de usar armas nucleares contra um estado não nuclear, ilustrando a assimetria, e isso pode ser exemplificado em várias situações.

Ao contrário de uma guerra simétrica, que envolve confrontos diretos de força contra força, como foi observado nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, um conflito assimétrico e não militar se caracteriza pelo uso de meios não militares para coagir ou prejudicar a capacidade do adversário durante a guerra. Um exemplo emblemático desse tipo de conflito é a infiltração do malware “Stuxnet” em centrífugas iranianas, realizado pelos EUA e Israel.

Após o término da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos adotaram uma abordagem diferente, afastando-se da estratégia de aniquilação em conflitos como a Guerra da Coreia, a Guerra do Vietnã e enfrentamentos contra grupos terroristas no Oriente Médio. Mesmo detendo superioridade militar, a vantagem assimétrica não resultou em vitória, uma vez que os adversários, como norte-coreanos, norte-vietnamitas e vietcongues, contaram com o apoio da Rússia e China, levando a guerras tanto simétricas quanto assimétricas.

Com duas décadas de conflitos subsequentes, tornou-se evidente que a assimetria em termos de armas e recursos não é garantia de vitória, demonstrando que o foco exclusivo em armamento não é suficiente para prevalecer em uma guerra. Esse entendimento ressalta a importância, especialmente no contexto de Taiwan em um possível conflito com a China, de considerar fatores além do poder militar para alcançar o sucesso em um cenário assimétrico.

Depois que o então presidente Jimi Carter abandonou Taiwan em 1979, o Congresso dos Estados Unidos iniciou o processo de sanar a divergência ao promulgar a Lei de Relações com Taiwan (TRA). A TRA prometeu garantir que o estatuto de Taiwan seria resolvido pacificamente.

A TRA também estabeleceu o Instituto Americano em Taiwan que no fundo era locado na Embaixada dos EUA e cuja existência servia para fornecer armas defensivas para Taiwan. O ex-presidente Reagan reforçou o compromisso dos EUA ao fornecer a Taiwan Seis Garantias de apoio, das quais, duas delas estavam relacionadas às armas sendo elas:

  1. Os EUA não concordaram em definir uma data para acabar com as vendas de armas a Taiwan
  2. Os EUA não concordaram em consultar a RPC sobre vendas de armas a Taiwan

Em outubro de 2021, Chiu Kuo-cheng, Ministro da Defesa de Taiwan, afirmou que

“Até 2025, os custos e desgaste da China serão reduzidos ao nível mais baixo e terá a capacidade de lançar uma invasão em grande escala de Taiwan. ”

Consequentemente, o Ministério da Defesa Nacional de Taiwan fez encomendas para que os sistemas de armas chegassem o mais tardar em 2025.

No entanto, durante uma recente audiência do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Esatados Unidos, o deputado Andy Barr afirmou que:

“As entregas de armas para Taiwan estão atrasadas, os 66 caças F-16 não serão entregues até 2026; os 108 tanques Abrams só em 2027; os 40 obuseiros autopropulsados Paladin foram adiados para 2027. Além disso, Taiwan está vendo atrasos agora nos Stingers, nos sistemas de defesa  de mísseis costeiros Harpoon e na atualização do F-16 V”.

Com o cronograma de 2025 em mente, a administração Biden ou não está vendendo ou está fazendo de tudo para atrasar os sete sistemas de armas que Taiwan considera imprescindíveis para a sua defesa, arriscando a possibilidade de que esses recursos não possam estar disponíveis a tempo de defender Taiwan caso um conflito ecloda entre as Chinas.

Até agora não se sabe quando  as aeronaves E-2D solicitadas chegarão, Taiwan encomendou seis aeronaves para comando e controle do espaço aéreo para defender o espaço aéreo de Taiwan contra incursões diárias de aeronaves do PLA em sua zona de identificação de defesa aérea (ADIZ), um ataque aéreo contra Taiwan ou um bloqueio aéreo, boicote ou embargo.

Os Helicópteros anti-submarinos MH-60R Seahawk também não chegaram. Os militares de Taiwan solicitaram doze novos helicópteros MH-60R para proteger o transporte marítimo de e para Taiwan contra a ameaça de submarinos do PLA conduzindo uma estratégia de negação do mar, como bloqueio naval, boicote ou embargo. Taiwan comprou seus atuais helicópteros anti-submarinos Hughes 500MD e Sikorsky S-70C nas décadas de 1970 e 1980, e os helicópteros já têm mais de 40 anos.

Adiados para 2026, os F16 70 eram os ativos mais aguardados. Porém, a administração Obama vetoua  venda dos caças enterrando o pedido de Taiwan para comprar sessenta e seis novos caças F-16 Block 70, mas em contrapartida, aprovou a atualização de 140 modelos F-16 A/B para V modelos (chamados de programa Phoenix Rising) para Taiwan. A administração Trump aprovou a venda de 66 caças F-16 Block 70 (em substituição aos F-5E/F) porém o governo Biden igualmente colocou uma pedra sobre programa e não está certo quando e se as aeronaves serão entregues.

Mísseis antiaéreos Stinger estão atrasados. A entrega da encomenda de 250 Stingers está atrasada e ao contrário do que possa parecer, não tem nada a ver com o conflito da Ucrânia.

A General Dynamics venceu uma concorrência para fornecimento de 108 carros de combate M1 A2 Abrhams que por agora foram adiados para 2027; a administração Biden questiona a utilidade da compra.

Obuses autopropulsados M109A6 Paladin estão atrasados. As Autoridades de Taiwan alegaram que os sistemas Paladin foram adiados e a entrega foi adiada para 2026.

Os Mísseis anti-navio AGM-84 Harpoon estão igualmente atrasados. A administração Biden considera os mísseis anti-navio Harpoon II baseados em terra como “armas assimétricas”.

Os EUA aprovaram recentemente o contrato de Taiwan com a Boeing para mísseis terrestres Harpoon II, que fazem parte do Sistema de Defesa Costeira Harpoon (HCDS), mas com um alcance máximo de 120,7 quilómetros. O míssil não ameaça nenhum porto da República Popular da China, uma vez que a distância de Taiwan à costa da República Popular da China é superior a 160 km.

A Boeing projetou os mísseis Harpoon II para também atacar “sítios de defesa costeira, sítios de mísseis terra-ar, aeronaves expostas, instalações portuárias/industriais e navios no porto”. Nenhum destes alvos adicionais é relevante quando os alvos estão fora do alcance do míssil terrestre. Os mísseis Harpoon são ferramentas eficazes contra invasões e negações do mar, leia-se bloqueio naval.

Em fevereiro de 2022, o Partido Comunista Chinês sancionou as empresas de defesa dos EUA, Lockheed Martin Corporation, Boeing Defense e Raytheon Technologies Corporation pela venda de armas a Taiwan. A administração Biden desde então trabalha para impedir que Taiwan adquira as aeronaves E-2D, MH-60R e outros sistemas de armas de empresas americanas semelhantes.

Ao negar a estas empresas americanas a venda dos seus sistemas de armas a Taiwan, a administração Biden está a ajudar ao Partido Comunista Chinês a impor o seu próprio boicote. As armas solicitadas por Taiwan ascendem a mais de US$ 30 bilhões de dólares em vendas.

A política das ditas “armas assimétricas” da administração Biden centra-se apenas num cenário, o da invasão da ilha pela China continental. Os taiwaneses sabem que o Exército da libertação Popular planejam pelo menos cinco linhas de ataque que exigiriam uma resposta composta por uma maior variedade de armas ao contrário do que apregoam os falcões de Biden que se fundamentam apenas no cenário da invasão.

Especialistas militares taiwaneses e americanos argumentam que Taiwan deveria ter uma variedade de capacidades de defesa para corresponder aos quatro cenários que ficaram conhecidos nos “jogos de guerra através do Estreito que demonstraram que A China considerou várias formas de coagir Taiwan, como um bloqueio naval, um ataque anfíbio, um ataque surpresa, um ataque de decapitação e uma combinação de todos os meios  juntos. De fato são esperados cinco cenários que contemplam o Principais Planos de Guerra da China.

com esta estrtatégia a administração Biden envia uma mensagem paternalista a Taiwan de que Taiwan é incapaz de determinar as suas próprias lições a aprender com a guerra Rússia-Ucrânia. O Tenente-General Scott D. Berrier, Diretor da Agência de Inteligência de Defesa, exemplificou essa atitude quando testemunhou no Comitê de Serviços Armados do Senado sobre as lições aprendidas com a guerra Rússia-Ucrânia por Taiwan:

“Então, acho que temos que engajar…  Os militares e a liderança de Taiwan, para ajudá-los a compreender o que tem sido este conflito, que lições podem aprender e onde devem concentrar os seus dólares na defesa e no seu treinamento.”

Historicamente falando, o Partido Comunista Chinês reclamou da venda de armas desde que o Congresso aprovou o TRA. Na altura o então presidente Jimmy Carter garantiu ao Partido comunista Chinês que usaria os seus poderes  para vetar certas vendas de armas e reduzir as vendas de armas a Taiwan.

O Presidente Reagan se comportou de forma contrária s promessas de Carter e garantiu a Taiwan que o Partido Comunista Chinês não teria poder de veto sobre as vendas de armas a Taiwan e que os EUA não tinham prometido a eles que as vendas de armas terminariam.

De lá para cá as coisa não mudaram muito e dançam ao sabor das ondas do altos e baixos das administrações Obama  com negatovas de vendas, Trump com apoio incondicional e Biden com a política de contestar o real motivo de tais armas para a segurança de Taiwan. Até lá os Taiwaneses literalmente estão “a ver navios”, chineses.

Análise

Os militares são responsáveis por desenvolver planos estratégicos que ofereçam aos líderes políticos diversas opções para atingir objetivos políticos específicos. No caso de Taiwan, documentos do Exército de Libertação Popular  revelam pelo menos cinco cenários distintos que representam possíveis ameaças à segurança, contra os quais Taiwan deve estar preparada. Estes cenários podem ser utilizados de forma independente ou combinada pelo Exército de Libertação Popular, sendo complementados por uma campanha de guerra política do Partido Comunista Chinês, que busca persuadir Taiwan a renunciar voluntariamente à sua soberania.

Os Estados Unidos desempenham um papel crucial, sendo o único país disposto a fornecer grandes sistemas de armas a Taiwan. O Partido Comunista Chinês ameaça impor sanções econômicas e outras punições a países amigos de Taiwan que sigam o mesmo caminho.

Nesse contexto, é imperativo que Taiwan continue a pressionar os EUA e outros países dispostos a apoiar suas necessidades de defesa. Isso inclui o aumento da produção de armas autótones e o treinamento das forças de defesa taiwanesas para enfrentar diversas contingências, não se limitando a uma única situação e evitando uma direção excessivamente influenciada pela atual administração.

Diante das recusas e atrasos na entrega de sistemas de armas, juntamente com a política de “armas assimétricas”, alguns poderiam suspeitar, de maneira cética, que a abordagem da administração Biden é uma continuação do desejo das administrações Carter e Obama de ceder à pressão do Partido Comunista Chinês, resultando na redução da qualidade e quantidade de armamentos fornecidos pelos EUA para a defesa de Taiwan.

Uma mudança na política dos EUA de ambiguidade estratégica para clareza estratégica, declarando apoio a Taiwan em caso de ataque do Exército de Libertação Popular, poderia fortalecer a confiança do povo, políticos e militares taiwaneses. Essa clareza facilitaria a aquisição de “armas assimétricas”. Além disso, o envio de pessoal militar dos EUA para treinamento e exercícios conjuntos em Taiwan certamente contribuiria para aumentar essa confiança.

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