Crise na Defesa Aérea Ucraniana: Urgência de Ajuda Internacional e Novas Estratégias diante da Ameaça Russa

E. M. Pinto

As forças de defesa ucranianas necessitam urgentemente de sistemas de defesa aérea efetivos, e o esgotamento das capacidades e meios de defesa de multicamadas que outrora lhe deram o status de segunda potência europeia no quesito defesa aérea se foi, e agora começa a cobrar seu preço. A guerra na Ucrânia, que se arrasta por quase dois anos consecutivos, apagou da história um dos mais intricados e complexos sistemas de defesa aérea que a humanidade já viu.

A nação herdeira dos estoques e sistemas da era soviética, que antes do conflito dispunha de uma variedade e invejável quantidade de baterias de baixa, média e grande altitude para suas defesas, também herdou  como um complexo industrial capaz de lhes prover assistência técnica e soluções autóctones.
Este complexo foi praticamente pulverizad0 em pouco mais de 20 meses de conflito, vitimad0 pelos pesados ataques da VKS russa e pela entrada no teatro de operações de novas armas como os enxames de drones Kamikazes, dentre outros.

 

A superioridade aérea das novas armas russas, como mísseis de cruzeiros, mísseis balísticos e os famigerados Drones caçadores de sistemas de defesa aérea, tem se sobressaído, cobrando dos ucranianos outras soluções que, embora inadequadas, são as que lhes restam neste fatídico conflito. Nos recentes ataques de janeiro de 2024 perpetrados pela Rússia às principais cidades da Ucrânia, dezenas de vídeos demonstraram a incapacidade ou insuficiência de sistemas capazes de bloquear as ondas de mísseis e Drones Kamikazes russos.

Especificamente quanto aos Drones, a Defesa ucraniana adotou uma doutrina mais agressiva de uso desde a introdução dos Drones russos nos ataques às instalações fabris de Kiev, Kharkov e Kramatorski. Como resultado, seus estoques de mísseis MANPADS (mísseis de defesa antiaérea portáteis) estão se exaurindo numa velocidade extremamente acelerada. A luz amarela já acendeu desde setembro de 2023, e a Ucrânia precisa da ajuda dos países ocidentais para repor o número de mísseis antiaéreos. Foi o que enfatizou o comandante das Forças Armadas da Ucrânia, tenente-general Serhiy Naev.

Atualmente, aparelhada com grupos móveis de defesa aérea, equipados com metralhadoras de grosso calibre, MANPADS e veículos como os KMW Gepard, a defesa aérea ucraniana tem desempenhado um importante e significativo papel na destruição, em primeiro lugar, de drones kamikaze do tipo Shahed. A título de conhecimento, durante o ataque de 2 de janeiro de 2024, os grupos móveis de fogo de defesa aérea da Zona Operacional Norte abateram 47% de todos os Shaheds destruídos e alegam o abate de cerca de 11 mísseis de cruzeiro. Ressalta-se que muitos destes drones não transportam carga bélica; seus perfis de operação em nuvens são exatamente destinados para saturar as defesas, oferecendo-lhes falsos alvos enquanto os drones de ataque “reais” passam pelas defesas.

Um observatório independente que avalia o conflito atestou que apenas em dezembro de 2023, a Federação Russa lançou um número recorde de Drones kamikaze do tipo Shahed na Ucrânia, com mais de 500 unidades, das quais não se tem ao certo o número de abates. Segundo este, em certas situações, cerca de dois MANPADS são necessários para o abate de cada drone, esgotando as capacidades da defesa.
Os números de mísseis no estoque Ucraniano não são um consenso para os analistas militares, mas a Ucrânia provavelmente dispunha de milhares de mísseis MANPADS antes do conflito, recebendo de seus aliados outros cerca de 3000 das séries 9K32 Strela-2, 9K34 Strela-3, 9K38 Igla, 9K310 Igla-1, PPZR Piorun e Mistral. Soma-se a isso o fato da Ucrânia dispor antes do conflito de alguns milhares de mísseis de procedência soviética.

Porém, um fato mais preocupante veio à tona recentemente nos ataques de fins de dezembro; um vídeo feito por um observador apresentou o míssil russo K-101 disparando iscas térmicas, do sistema “Izdelye 504AP”, com a estação de interferência SP-504 para combater mísseis antiaéreos portáteis. Nenhuma das armas lançadas contra eles teve eficácia; esgotou-se a defesa, o míssil seguiu impune até o seu alvo, atingindo-o sem cerimônia.

 

A inteligência ucraniana tomou posse de uma estação de interferência SP-504, após a queda de um míssil russo X-101 que foi recuperado intacto.

Portanto, é bastante óbvio que em alguns meses a defesa móvel Ucraniana terá que enfrentar uma realidade ainda mais cruel do que se imaginava. Frente à escassez de sistemas de média e grande altitude, a defesa de ponto das forças ucranianas, que poderia se sustentar nos MANPADS, já não terá sequer quantidades suficientes nem mesmo capacidades adequadas. Como bem observou Naev, além da Ucrânia necessitar claramente de sistemas como PATRIOT PAC 3 e outros sistemas como IRIS-T em quantidades ainda maiores, a ameaça à defesa de ponto exigirá também um número muito maior de MANPADS e novas armas capazes de fazer frente às novas contramedidas russas.