Defesa & Geopolítica

A inoportuna dança da espada de Trump em Riad

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Em vez de agir de acordo com seu alegado desejo de paz no Oriente Médio, o presidente dos EUA acirra medos e isola o Irã. Cabe à União Europeia corrigir essa equação injusta, opina o jornalista Matthias von Hein.

Trump dança a dança da espada

O contraste não podia ser maior: na Arábia Saudita, Donald Trump dança a dança da espada – um ritual de guerra, como o rei Salman explicou ao presidente americano. No Irã, por outro lado, a população dança animada nas ruas, festejando a significativa vitória do reformista moderado Hassan Rohani nas eleições presidenciais, assim como a derrota do linha-dura Ebrahim Raisi.

Mas, apesar – ou por causa – da dança bélica, alegria e júbilo imperam também na monarquia petroleira. Pois, com seu discurso do fim de semana, Trump inaugurou uma guinada na política americana relativa ao mundo árabe em geral e, em particular, à Arábia Saudita.

Não só ficou definitivamente enterrada a postura crítica do governo Barack Obama diante de Riad: ao mesmo tempo, o oponente geoestratégico Irã foi declarado vilão-mor da região, o qual cabe isolar – como na era Bush. Caso esse isolamento não baste, Trump trouxe, para seus anfitriões, armamentos no valor de 110 bilhões de dólares na bagagem – um negócio de proporções históricas.

É uma amarga ironia: justo na pátria dos autores dos atentados de 11 de setembro de 2001, Trump ameaça exclusivamente o Irã como apoiador do terrorismo. Sem menção permanece o fato de que seus anfitriões no Golfo Pérsico apoiaram maciçamente, com dinheiro e armas, o “Estado Islâmico” (EI) e outros jihadistas – como o próprio ex-vice-presidente Joe Biden declarou abertamente a estudantes da Universidade de Harvard, no segundo semestre de 2014.

Em seu discurso, Trump falou de uma “visão de paz, segurança e prosperidade na região”. Se ele tivesse essa visão, seu pronunciamento teria transcorrido diferente. Mas diante da concorrência geoestratégica entre o Irã e a Arábia Saudita, não se escutou qualquer palavra de moderação, de conciliação: em vez disso, o chefe de Estado republicano aposta na confrontação.

Embora tenha dedicado quase um terço de seu discurso ao Irã, o decisivo pleito no país não foi mencionado com uma só palavra. Claro que Rohani também é um homem do sistema. Contudo, apesar de todos os pontos fracos seus e do sistema, em termos realistas ele é a maior esperança para o país de abertura, de mais direitos civis. Ele precisa de respaldo em seus esforços para conter os linhas-duras do aparato de segurança.

Em vez disso, o presidente dos Estados Unidos alimentou ainda mais o exagerado temor dos saudistas da influência iraniana na região. Ele legitimizou explicitamente o sangrento conflito dos Estados do Golfo no Iêmen como parte da “guerra contra o terror”.

Se Trump fosse sincero em seu desejo de que “meninos e meninas muçulmanos possam crescer sem medo, protegidos da violência e do ódio”, então deveria ter aproveitado a ocasião para deter os seus anfitriões.

Agora é a vez dos europeus: eles precisam se negar a participar da dança da espada. Apesar da conclamação ao isolamento, eles devem deixar abertos e ampliar os canais comunicativos e econômicos com Teerã. E deveriam tentam iniciar um diálogo regional para criação de uma nova arquitetura de segurança que faça jus aos interesses de todos os Estados da região.

Matthias von Hein

Também no Oriente Médio, segurança é mais do que um jogo de soma zero, em que o ganho de um equivale à perda do outro. O fato de, já na manhã de sábado, a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, ter sido uma das primeiras a parabenizar Rohani pela reeleição, já é um bom começo.

  • Matthias von Hein é jornalista da DW
 Fonte: DW

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