Acusado de autorizar pagamento de propina ao ex-deputado Eduardo Cunha, presidente se defende em pronunciamento e nega que deixará governo em meio a turbilhão político.
Temer fala em pronunciamento: “Não renunciarei. Repito: não renunciarei”
Em meio ao terremoto político que abala o país, o presidente Michel Temer fez um pronunciamento nesta quinta-feira (18/05) afirmando que não deixará o governo, contrariando relatos de que ele anunciaria sua renúncia. “Não renunciarei. Sei o que fiz”, declarou o peemedebista.
Em discurso no Palácio do Planalto, o presidente se defendeu das acusações de obstrução à Justiça, enfatizando que nunca “comprou o silêncio de ninguém”. “Não temo nenhuma delação premiada. Não preciso de cargo público, nem de foro especial. Não tenho nada a esconder. Sempre honrei meu nome e nunca autorizei que usassem meu nome indevidamente”, completou o mandatário.
Temer disse ainda que seu governo viveu nesta semana “seu melhor e seu pior momento”, mencionando indicadores como a queda da inflação e a geração de emprego. “O otimismo retornava e as reformas avançavam no Congresso Nacional.” As acusações recentes, por outro lado, acabaram por trazer “de volta o fantasma da crise política de proporção ainda não dimensionada”, afirmou.
Segundo a denúncia revelada na quarta-feira, publicada originalmente pelo jornal O Globo, Joesley Batista, um dos controladores do frigorífico JBS, gravou Temer dando seu aval à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha para frear as investigações da Lava Jato.
Temer classificou essas gravações como “clandestinas” e pediu rapidez nas investigações. “Sei da correção dos meu atos. Exijo investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro. Essa situação de dubiedade não pode persistir por muito tempo”, afirmou. “Quero registrar enfaticamente: a investigação pedida pelo STF será território onde surgirão todas as explicações.”
Na gravação, feita pelo próprio Joesley, o dono da JBS conta a Temer que pagava a Cunha e ao doleiro Lúcio Funaro, um dos operadores presos na Lava Jato, para que ficassem calados. Ao ouvir isso, o presidente teria dito ao empresário: “Tem que manter isso, viu?”
O áudio é parte da delação dos executivos da empresa, homologada nesta quinta-feira no Supremo. Na sequência da decisão, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, autorizou abertura de inquérito para investigar a conduta do presidente.
Em caso de uma renúncia, Temer perderia o direito ao foro privilegiado, ou seja, a prerrogativa de ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal.
Fonte: DW
CAPÍTULOS DO DESGATE POLÍTICO DO GOVERNO
Presidente acusado de obstrução à Justiça
17/05: Revelação de conteúdo de diálogo entre o presidente Temer e o empresário Joesley Barbosa, da JBS, mergulham país no caos e ameaçam fim do governo. Presidente, segundo reportagem do jornal “O Globo”, teria consentido com pagamento de mesada para comprar o silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, preso em outubro de 2016.
O preço alto das reformas
05/05: Diante da obsessão do governo em aprovar com celeridade a aprovação das reformas da previdência e trabalhista, Palácio do Planalto teria dado aval à aprovação de medidas para negociar dividas fiscais de empresas com a Receita Federal e também cede a interesses da bancada ruralista.
Cúpula arrastada para o caos
11/04: O relator da Lava Jato no Supremo, ministro Luiz Edson Fachin, pede abertura de inquérito contra 76 políticos, entre os quais oito ministros do governo Temer, entre eles Eliseu Padilha (PMDB, Casa Civil, na foto com Temer), Moreira Franco (PMDB, Secretaria-Geral da Presidência); Helder Barbalho (PMDB, Integração Nacional); e Aloysio Nunes (PSDB, Relações Exteriores).
Machismo no Planalto?
08/03: Declarações do presidente na ocasião do Dia Internacional da Mulher provocam perplexidade na sociedade brasileira e no exterior, e indignação de movimentos feministas. Presidente citou a mulher, Marcela Temer, ao analisar a importância da figura feminina na educação dos filhos e no controle do orçamento familiar, nas compras de supermercado, relegando a mulher a atividades domésticas.
PMDB controla Ministério da Justiça
23/02: O presidente da República, Michel Temer, escolhe o deputado federal Osmar Serraglio, do seu partido, o PMDB, como titular do Ministério da Justiça. Assessores do presidente tinham declarado que ele buscaria alguém com perfil técnico para a pasta. Temer, porém, cedeu às pressões da bancada do PMDB. Serraglio atuou como aliado de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e defendeu que ele fosse anistiado.
A blindagem sob o comando de Romero Jucá
15/02: O senador Romero Jucá (PMDB-RR), braço-direito de Temer no Congresso, protocola emenda constitucional para blindar presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB). Pela regra, eles só poderiam ser responsabilizados por atos cometidos no exercício de seus mandatos. Ou seja, seriam blindados de investigações da Lava Jato. Diante do constrangimento, Jucá recuou.
A aula de fisiologismo de Eliseu Padilha
14/02: O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, diz em palestra flagrada pelo jornal “Estado de S.Paulo” que os ministérios de Temer foram montados para garantir votos no Congresso. Ele diz que havia intenção de nomear “notáveis” e citou como exemplo a Saúde. O PP indicou o deputado Ricardo Barros. “Vocês garantem todos os nomes do partido em todas as votações? Então o Ricardo será o notável.”
Caso Marcela: a censura de Temer à imprensa
10/02: A pedido da Presidência, Justiça proíbe o jornal “Folha de S.Paulo” de divulgar dados sobre a chantagem de um hacker contra Marcela Temer, a primeira-dama. O hacker, condenado a 5 anos e 10 meses de prisão, clonou o celular de Marcela e disse ter acesso a um áudio que comprometeria o presidente. A investigação foi coordenada por Alexandre de Moraes, depois nomeado ministro da Justiça.
Nomeação de Moraes para o Supremo
06/02: O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes (PSDB), é indicado para a vaga de Teori Zavascki no Supremo Tribunal Federal. Havia a expectativa de que Temer indicaria um nome técnico, do meio jurídico, não ligado à política. A enorme proximidade de Moraes com Temer tornou a indicação bastante polêmica, já que ele será o revisor da Lava Jato no Supremo, e Temer foi citado 44 vezes em delações.
Foro privilegiado para Moreira Franco
03/02: Temer dá status de ministro a Moreira Franco, que era secretário-executivo do Programa de Parceria de Investimentos. Ele virou ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Citado 34 vezes em delações da Lava Jato, com o codinome “Angorá”, Franco passa a ter foro privilegiado, ou seja, só pode ser julgado pelo Supremo. Pela demora dos julgamentos, o foro é visto como benefício a políticos.
Novos ministérios: a contradição
03/02: No dia em que nomeou Moreira Franco ministro, Temer anunciou a criação de outro ministério, o de Direitos Humanos, entrando em rota de colisão com o discurso antes da posse. Tanto o presidente quanto seu partido, o PMDB, defenderam o enxugamento da máquina e a redução das pastas e criticavam o número de ministérios sob Dilma Rousseff. O governo tem hoje 28 pastas. Sob Dilma, tinha 32.
Nomes sob suspeita na CCJ do Senado
08/02: Senador Edison Lobão (PMDB-MA) é escolhido para comandar a Comissão de Constituição e Justiça, responsável por sabatinar indicados ao STF. Lobão é investigado em dois inquéritos da Lava Jato. Um apura suposto desvio de dinheiro na construção da usina Angra 3 quando era titular da pasta de Minas e Energia. Outros 7 membros da CCJ já são citados em inquéritos e 8 foram citados em delações.
Senado e Câmara X Lava Jato
01/02: O senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) é eleito sem dificuldades para a presidência do Senado, com os votos de 61 dos 81 senadores. Na Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) derrota grupo ligado a Eduardo Cunha (PMDB), preso na Lava Jato, e permanece na presidência da Casa. Os dois foram eleitos em sintonia com o Palácio do Planalto. Ambos tiveram os nomes citados em delações da Lava Jato.
A renovação do poder de Renan Calheiros
31/01: Ex-presidente do Senado, impedido pelo Supremo de permanecer na linha sucessória da Presidência por ser réu em ação penal, e denunciado por lavagem de dinheiro e corrupção passiva pela Procuradoria-Geral da República na Lava Jato, Renan Calheiros foi escolhido, por aclamação, o novo líder do PMDB no Senado. O líder tem grande peso político no diálogo com o governo e na escolha de pautas.
89 Comments