Incorporada no mesmo ano de criação do Ministério da Aeronáutica, nossa Infantaria celebra hoje seu septuagésimo quinto aniversário, sendo impossível dissociarmos aquelas gestões, visto que ambas representaram revoluções doutrinárias nos idos de 1941. Enquanto que a unificação de todas as aviações conferiu maior eficácia e eficiência ao Poder Aeroespacial, o emprego de tropas terrestres especializadas na proteção de aeronaves estacionadas em solo constituía uma novidade absoluta até mesmo para os teóricos militares das nações já envolvidas na Segunda Guerra Mundial.
Naquele mesmo ano, alemães e japoneses protagonizaram, respectivamente, assaltos aeroterrestres em Creta e ataques aeronavais a Pearl Harbor, causando grandes prejuízos aos Aliados. No Brasil, o agravamento da situação política em relação às potências do Eixo influenciava a organização da Força Aérea Brasileira. Considerando a vulnerabilidade de nossas Bases Aéreas junto ao litoral, o então Ministério da Aeronáutica resolveu ativar seis Companhias de Infantaria de Guarda e contemplou aprestar defesas antiaéreas para resguardar o Poder Aeroespacial.
Durante as décadas seguintes, além de guarnecer as instalações da Aeronáutica, sua Infantaria tornou-se instrumento indispensável ao processo de educação e de treinamento dos recursos humanos. Centros e escolas de formação da Força Aérea Brasileira incumbiam aos combatentes terrestres a tarefa de forjar em seus jovens alunos, um comportamento profissional lastreado na hierarquia e na disciplina, pilares inquestionáveis da vida castrense. Sempre traremos em nossa memória a imagem daqueles abnegados oficiais e graduados que nos ensinaram a prestar continência, a executar os primeiros movimentos de ordem unida e a usar armas de fogo.
Com o incremento do tráfego aéreo em nosso País, novos desafios foram impostos à Força Aérea Brasileira, na medida em que a ocorrência de lamentáveis acidentes cobrou tributo indispensável ao desenvolvimento da aviação civil e militar. Naquele exato momento, atribuiu-se à Infantaria da Aeronáutica a tarefa de criar a primeira Esquadrilha Aeroterrestre de Salvamento, a fim de capacitar seus militares para saltar de paraquedas e prestar socorro às vítimas de sinistros. Dez anos depois, a estrutura original foi elevada ao nível Esquadrão e passou a atuar em situações de enchentes e outros tipos de calamidade pública.
Consolidada doutrinariamente, a Força Aérea Brasileira passou a repensar sua capacidade de combate terrestre a partir de 1982, quando eclodiu o conflito das Malvinas, que testemunhou o emprego de forças especiais para destruir aeronaves e também registrou um incremento nos casos de fratricídio provocados por armamentos antiaéreos. Tais lições impulsionaram a necessidade de aprimorar nossa Infantaria, cujos oficiais passaram a ser formados na Academia da Força Aérea com novas visões sobre a defesa terrestre e antiaérea. Ao propiciar maior convivência entre aviadores, intendentes e infantes, tal iniciativa ensejou uma mútua compreensão sobre as distintas missões conduzidas pelas diversas partes que integram o Poder Aeroespacial.
Ao delinearmos o futuro da tropa de Infantaria devemos condicionar todo o planejamento às necessidades da Força Aérea. Inspirados pela eficácia operacional demonstrada pelas Unidades de Defesa Antiaérea em momentos decisivos na Copa do Mundo de 2014 e nos Jogos Olímpicos de 2016, devemos acreditar na sua capacidade para contribuir com a Defesa Aeroespacial. Considerando o reconhecimento dispensado aos nossos combatentes terrestres no contexto das Missões de Paz e das operações de Garantia da Lei e da Ordem, devemos valorizar seu correto comportamento profissional, mesmo diante de nossa realidade logística. Vislumbrando o emprego de armamentos guiados a laser na Força Aérea, devemos inspirar o desenvolvimento de novas habilidades para oficiais e sargentos que atuam nas operações especiais. Contudo, nossos maiores esforços ainda devem ser direcionados para a segurança de instalações, buscando incorporar soluções tecnológicas, bem como aperfeiçoar o treinamento da Polícia da Aeronáutica.
Passados setenta e cinco anos desde o seu nascimento, a Infantaria da Aeronáutica mantém vivos os ideais de outrora, motivados pelo senso do dever e pela realidade de um mundo convulsionado por guerras, atos terroristas e outros problemas relacionados à segurança interna. Inseridos na Concepção Estratégica que promoverá sensíveis alterações organizacionais no próximo quarto de século, nossos combatentes devem estar plenamente capacitados, de modo a evitar danos ao patrimônio, aos recursos e, principalmente, à imagem institucional da Força Aérea Brasileira. Neste sentido, permanece inabalável a convicção de que os integrantes da Infantaria da Aeronáutica continuarão a honrar suas tradições, superando obstáculos de toda ordem, sempre irmanados por seu lema: “Defendendo na terra, o domínio do ar”.
Tenente- Brigadeiro do Ar GERSON NOGUEIRA MACHADO DE OLIVEIRA
Comandante-Geral de Operações Aéreas
Fonte: FAB
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