Petróleo: Sauditas e Opep considerariam cortar a produção junto com a Rússia, ‘mas ela rejeita’

Rússia discute ativamente com Opep situação do mercado de petróleo

A Rússia está realizando consultas de uma forma ativa “sem precedentes” à Organização dos Países Exportadores de Petróleo, a Opep, mas não está discutindo potenciais cortes de produção de petróleo para sustentar os preços da commodity, informaram ontem autoridades do país.

As consultas ocorrem depois de vários meses de baixos preços do petróleo, que colocam pressão sobre o orçamento do governo russo e a moeda do país, mas as autoridades rejeitam qualquer sugestão de que sejam feitos cortes coordenados na produção.

“O Ministério da Energia continua realizando consultas ativas e trabalhando com a União Europeia, com os países da Ásia e Oceania e do Oriente Médio, incluindo o âmbito da Opep, bem como com os países da América Latina”, disse ontem o vice-primeiro-ministro Arkady Dvorkovich à agência estatal de notícias RIA-Novosti. “Essas consultas estão sendo feitas de uma forma ativa sem precedentes e este trabalho deve continuar.”

Dvorkovich não deu mais detalhes, mas uma porta-voz do Ministério de Energia disse que as consultas à Opep envolvem questões sobre o mercado de petróleo e o compartilhamento de opiniões com outros países, mas que não há nenhuma conversa em andamento sobre um corte de produção de petróleo pela Rússia.

Em dezembro passado, a Opep provocou um recuo substancial no preço do petróleo ao decidir que não exerceria seu papel tradicional de reduzir sua produção para dar impulso aos preços, apesar das objeções de alguns dos membros do cartel. Em vez disso, a Opep enfrentou uma batalha campal para manter sua participação de mercado, produzindo uma quantidade de barris de petróleo bem acima do teto acordado pelos membros da organização.

Autoridades sauditas e da Opep têm dito recentemente que considerariam cortar a produção junto com grandes produtores que não fazem parte da organização, como a Rússia, o maior produtor mundial de petróleo bruto, e tem ocorrido uma pressão renovada para a cooperação, em especial do governo da Venezuela, um aliado da Rússia, de acordo com um delegado da Opep.

Mas as autoridades russas argumentam há tempos que a infraestrutura petrolífera do país não é adequada para fazer ajustes rápidos na produção e influenciar os preços. Elas afirmam que tentativas anteriores de cumprir promessas de cortar a produção acabaram frustradas.

Durante um período de colapso nos preços do petróleo anterior, em setembro de 2008, as autoridades russas prometeram à Arábia Saudita e à Opep que a Rússia cortaria sua produção, segundo um delegado da Opep. Mas, em vez disso, a produção russa aumentou.

Se a Rússia prometer uma redução na produção desta vez, “a Opep vai querer isso por escrito”, disse o delegado da Opep.

Em novembro, depois que os preços do petróleo despencaram, informações divulgadas pela imprensa em antecipação a uma reunião da Opep sugeriam que a Rússia poderia fazer um corte de produção em coordenação com a entidade para sustentar os preços, numa repetição de promessas feitas por Moscou em anos anteriores que nunca se materializaram.

Mas as autoridades russas disseram depois que o país não iria reduzir a produção. “Nós não somos a Arábia Saudita, que tem a capacidade de reduzir ou aumentar a produção rapidamente”, disse na época o ministro da Energia russo Alexander Novak.

Novak disse que a Rússia manteria a produção estável nos próximos anos. “Essa é a nossa contribuição para estabilizar a situação nos mercados globais de petróleo”, disse ele.

O Ministério da Economia da Rússia prevê que a produção de petróleo do país ficará inalterada em 525 milhões de toneladas por ano em 2015 e em 2016. Em 2017, a produção da Rússia deve cair para 521 milhões de toneladas, segundo o ministério.

Em uma entrevista a uma rede estatal de TV na terça-feira, Novak descreveu a cooperação da Rússia com a Opep nos mesmos termos do passado e se mostrou reticente às sugestões da Arábia Saudita de que poderia reduzir a produção para impulsionar os preços apenas se outros produtores que não fazem parte do cartel, como a Rússia, também o fizerem. Novak disse que restringir a produção ou as exportações de forma coordenada aumentaria os preços “artificialmente”.

A Rússia apoia o que ele descreve como uma abordagem alternativa “que, no nosso ponto de vista, já vem sendo implementada hoje de forma bastante efetiva”, baseando-se nas forças de mercado para tirar de circulação projetos de custos muito altos — como os de petróleo de xisto dos Estados Unidos — e só limitar o crescimento da oferta dessa maneira. “Há um elemento de inércia nesses processos que leva de seis a nove meses, mas já vemos que o mercado está reagindo”, disse ele, com os preços subindo em relação aos níveis de janeiro.

“Uma restauração fundamental do equilíbrio entre demanda e oferta já está em andamento e vai continuar”, acrescentou.

“Quanto à cooperação com os países membros da Opep, estamos realizando consultas, estamos trocando informações, estamos monitorando os mercados e esse é um processo norma, de intercâmbio de informações”, disse.

“Mas nossa posição é que seria ótimo se hoje o excedente de petróleo que está no mercado fosse absorvido seja por um aumento nas taxas de crescimento econômico, porque as economias estão sendo estimuladas por preços mais baixos de petróleo e gás, ou pela ausência de aumentos na oferta [de petróleo], pelo menos até que a demanda e a oferta estejam equilibradas.”

Ele disse que continua prevendo que os preços do petróleo subirão para cerca de US$ 60 o barril até o fim deste ano, ficando em uma média de US$ 55 para todo o ano.

O ministro do petróleo da Arábia Saudita, Ali al-Naimi, discutiu na terça-feira o desenvolvimento de uma cooperação com o embaixador da Rússia em Riad, Oleg Ozerov, de acordo com a agência de notícias estatal Saudi Press.

Ontem, Novak disse à agência de notícias Interfax que deve se reunir com o secretário-geral da Opep, Abdalla Salem el-Badri, em junho, para continuar as consultas. “Estamos em contato constante com a Opep, discutindo a situação do mercado de petróleo, o desenvolvimento do petróleo de xisto, refino, alterações fiscais. Este é um processo natural”, disse ele.

GREGORY L. WHITE e BENOÎT FAUCON

Fonte: The Wall Street Journal

6 Comentários

  1. Senhores,
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    Espero que os estrategistas dos EUA e da Arábia Saudita tenham pelo menos alguma noção de xadrez, porque se não, o Putin vai fazê-los de tolos nessa questão de causarem a queda do preço do petróleo, isso se já não está fazendo.
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    Neste artigo dá para notar que o Putin já está jogando com eles. A Arábia Saudita já está aceitando fazer um corte na produção se for junto com a Rússia, mas…:

    — (…) ministro da Energia russo Alexander Novak disse que a Rússia manteria a produção estável nos próximos anos. “Essa é a nossa contribuição para estabilizar a situação nos mercados globais de petróleo” (…)
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    — (…) Em uma entrevista a uma rede estatal de TV na terça-feira, Novak descreveu a cooperação da Rússia com a Opep nos mesmos termos do passado e se mostrou reticente — às sugestões da Arábia Saudita de que poderia reduzir a produção para impulsionar os preços — apenas se outros produtores que não fazem parte do cartel, como a Rússia, também o fizerem. Novak disse que restringir a produção ou as exportações de forma coordenada aumentaria os preços “artificialmente”. (…)
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    — (…) A Rússia apoia o que ele descreve como uma abordagem alternativa “que, no nosso ponto de vista, já vem sendo implementada hoje de forma bastante efetiva”, baseando-se nas forças de mercado para tirar de circulação projetos de custos muito altos — como os de petróleo de xisto dos Estados Unidos – (…)
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    — (…) O ministro do petróleo da Arábia Saudita, Ali al-Naimi, discutiu na terça-feira o desenvolvimento de uma cooperação com o embaixador da Rússia em Riad, Oleg Ozerov, de acordo com a agência de notícias estatal Saudi Press. (…)
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    A Arábia Saudita e a OPEP já estão abrindo o bico, mas só querem cortar a produção se a Rússia também cortar, só que, já que está, o Putin quer que continue.
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    A Rússia já absorveu o impacto da queda do preço do petróleo e já está tirando vantagem disso, enquanto os promotores da “grande ideia”, já estão sentindo as consequências negativas para eles e estão querendo voltar atrás.
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    É isso que dá querer jogar com enxadristas do naipe de um Vladimir Putin.
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    Saudações,
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    konner

    • Meu caro, o Putim tem dado lições de estratégia e geopolitica a torto e a direita no chamado ” ocidente”. Tem pego os limões estrategicamente colocados pelos states e seus principais a(fi)liados e tem feito suculentas limonadas. E tem gente que não quer que tenhamos bom senso pela, admiração, lógica que esse lider infunde em todos aqueles que aspiram para seus paises um lider de igual quilate. Fale sério, tentar demonizar o cara, para criar barreiras a sua capacidade como competidor no cenário internacional, tem se mostrado a maior burrice do ocidente yanke. A Russia é muito melhor como parceira que como adversária, e a China, essa sim perigosa ideologicamente para o mundo, por que resiste a democracia como instrumento ideologico, unico capaz de fazer uma transformação na sociedade se não ficar estagnada por anteparos limitantrs, acabou recebendo de gratis uma parceria inesperada. Estratégicamente os States e seus a(fi)liados são dirigidos por um bando de imbecís.

  2. A Russia vai andar na contramão de todos esses que não estão nem aí para seus interesses. A Arabia saudita está entre esses, para esses a Russia deve dedicar especial má vontade.

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