“Nobel de Matemática” traz reconhecimento para o Brasil

Brasileiro Artur Avila Cordeiro de Melo foi reconhecido por sua contribuição à teoria dos sistemas dinâmicos. Em entrevista, o pesquisador Matheus Grasselli fala sobre a pesquisa do jovem matemático.

Nesta quarta-feira (13/08), o Brasil finalmente entrou para o rol dos países cuja ciência é reconhecida internacionalmente – graças a um carioca de 35 anos: Artur Avila. Ele se tornou o primeiro latino-americano a receber a prestigiosa Medalha Fields, também conhecida como o “Nobel da Matemática”.

De acordo com a União Internacional de Matemática (IMU, na sigla em inglês), que concede a premiação a cada quatro anos desde 1936, as “profundas contribuições” de Avila à teoria dos sistemas dinâmicos “mudaram a face do campo ao usar a poderosa ideia de renormalização como princípio unificador”.

Para decifrar esse complexo conceito e falar sobre o peso dessa premiação, a DW Brasil conversou com o pesquisador Matheus Grasselli, vice-diretor do Instituto Fields, que, como Avila, também é brasileiro. A entidade, situada em Toronto, no Canadá, é uma das principais instituições independentes de matemática do mundo e foi batizada em homenagem a John Charles Fields, matemático canadense e criador da Medalha Fields.

O Instituto Fields organiza o simpósio que reúne os medalhistas: é lá que os vencedores do prêmio ganham espaço para apresentar suas pesquisas em palestras e outras atividades públicas realizadas pelo instituto a cada ano.

Medalha Fields, conhecida como “Nobel da Matemática”

DW Brasil: O que esse prêmio significa para o Brasil?

Matheus Grasselli: É a primeira vez que um brasileiro, não só em matemática, mas em ciências em geral, recebe um prêmio máximo dentro da sua disciplina. E isso traz reconhecimento, mostra para o mundo que o Brasil tem talento, tem capacidade, tem um sistema educacional que permite esse tipo de excelência. Ou seja, é um incentivo para quem quem está começando a carreira se dedique mais às ciências básicas, à matemática, à física, à química, e tente a excelência dentro de suas próprias áreas.

Que tipo de contribuições a pesquisa do Artur Avila traz para a vida prática?

O Artur é um matemático puro, no sentido de que as motivações dele são bastante teóricas. O campo de pesquisa em que ele entrou é um campo em que o Brasil é, há muitos anos, bastante conhecido. O Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro, [onde Avila também atua como pesquisador], possui um grupo muito conceituado nessa área de sistemas dinâmicos.

Matheus Grasseli: “É a primeira vez que um brasileiro recebe um prêmio máximo dentro da sua disciplina”

E como o senhor descreveria, para um público leigo, os sistemas dinâmicos?

Os primeiros sistemas dinâmicos aparecem na mecânica clássica, com o estudo do movimento dos planetas. Mais recentemente, eles têm sido aplicados evárias outras áreas. Um exemplo é a epidemiologia. Nesse caso, o número de pessoas infectadas que se recuperam pode ser modelado pelo mesmo tipo de frações que antigamente eram restritas à mecânica. É uma área bastante ampla, que cobre uma quantidade muito grande de aplicações. E é nessa área de sistemas dinâmicos que se formalizou o conceito de caos determinístico.

Caos, em geral, é associado à irregularidade, ao aleatório, mas os pesquisadores dinâmicos descobriram que caos pode ser produzido por sistemas muito simples. Ou seja, a descrição de como as variáveis se comportam é simples, mas à medida que essas variáveis são propagadas no tempo, o comportamento pode ser bastante complexo e de difícil previsão. É o famoso “efeito borboleta”. E é nessa área que o Artur trabalha: no longo prazo e nas propriedades emergentes, ou seja, nas propriedades que você não consegue deduzir imediatamente numa análise imediata.

Como trazer isso para um caso prático?

Atualmente, se fala bastante sobre o aquecimento global. Para entender quais seriam os possíveis efeitos de um acréscimo de um ou dois graus de temperatura, usamos os sistemas dinâmicos. A temperatura, neste caso um dos parâmetros do sistema, varia diariamente. O fato de envolver interações muito complexas, no entanto, faz com que as consequências sejam muito mais difíceis de prever a longo prazo.

O aquecimento global faz aumentar a temperatura dos oceanos, que promove o derretimento de massa polar, que, por sua vez, muda a direção das correntes marítimas. Isso, por fim, provoca um aumento maior da temperatura em outras partes que você não tinha previsto dentro do modelo. Ou seja, é quando uma mudança provoca uma mudança numa outra variável, que volta a influenciar a variável original. Esse tipo de feedback é bastante utilizado em sistemas dinâmicos e também na pesquisa do Artur.

Poderia se dizer que essa pesquisa permite uma “previsão” mais precisa do futuro?

Eu diria que você pode compreender melhor quais são os tipos de evolução possíveis e qual é o comportamento dessa evolução. Por exemplo, quando se analisa a propagação de doenças infecciosas. Você não tem como prever exatamente quando uma enfermidade vai se espalhar pela população, mas você consegue dizer qual seria o efeito de vacinas a longo prazo, se existe a possibilidade de erradicar a doença ou não. É possível descrever o comportamento de uma série de variáveis que estão inter-relacionadas.

O senhor disse que a aplicação prática é um fator a ser analisado a posteriori. Então, quais são os critérios na hora de escolher os vencedores da Medalha Fields?

Internamente, a matemática tem diversas maneiras de avaliar a importância de uma descoberta, a partir de problemas que são propostos pelos próprios matemáticos. Existem campos inteiros da matemática, como a Teoria de Números, que inclusive foi outra área premiada este ano, que não têm aplicação prática nenhuma. Um exemplo é o famoso Teorema de Fermat, que, apesar disso, permitiu aos matemáticos entenderem muito mais a estrutura dos números. A matemática não é necessariamente julgada pelas suas aplicações. No caso da Medalha Fields, as contribuições são julgadas pela dificuldade e pela abrangência dos resultados, avaliando se eles ajudam a esclarecer e resolver questões que estavam em aberto há muitos anos dentro da própria matemática.

Fonte: DW.DE

24 Comentários

  1. Isso dá orgulho não dá?
    Li que ele é ex-aluno do conceituado Colégio D. Pedro, no Rio, e que tem também cidadania francesa e mora em Paris acho que desde 2005.
    O cara é fera, parabéns a ele e a seus pais.

    • *** DIRETO DE BRASÍLIA !!!… URGENTE ***

      JUIZ AFASTA MENORIDADE PENAL PARA CONDENAR ADOLESCENTE A 15 ANOS DE RECLUSÃO

      O Magistrado Haroldo Armando Aguiar Alviras de Houvão Amêndoa titular da 112ª Vara da Infância e Juventude de Lapão Roliço condenou o menor J.J.S.S de S. a 15 anos de reclusão.

      A medida é inédita pois o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê punição de no máximo 03 anos e o réu conta atualmente com 13 anos de idade.
      O crime do adolescente foi desobedecer uma ordem judicial que determinava que o mesmo se abstivesse de continuar com “ a prática malévola, perniciosa, capitalista e anti-petista” de tirar notas muito maiores que seus colegas de classe.
      O Ministério Público, a pedido do Sindicato dos Professores de Lapão Roliço, promoveu uma ação penal contra o menor para que este se abstivesse do delito de “preconceito intelectual” no qual o menor J.J.S.S de S. insistia em incorrer, ou seja, o menor infrator tirava notas muito mais altas que seus colegas de classe o que causava desconforto emocional aos outros menores da classe (todos eles mais velhos que JJSS de S, pois reprovaram em anos anteriores).
      Como JJSS de S insistiu em continuar estudando para as provas, freqüentando as salas de aula e fazendo trabalhos de classe além de participar das aulas, não teve alternativa o ilustre Promotor que não pedir a sanção máxima ao menor reincidente.
      O Juiz (que é membro da Associação dos Juízes pela Democracia) firmou que neste caso, como houve descriminação intelectual, dever-se-ia afastar o ECA e aplicar o “direito achado nas ruas” ou “direito alternativo”.
      A Ministra dos Direitos dos Manos disse que em tese é contra qualquer penalidade contra menores ladrões ou homicidas, mas que neste caso houve profunda ofensa a sensibilidade de outras crianças e que este crime sim deve ser punido de forma draconiana.
      Os pais de JJSS de S afirmaram que não irão recorrer pois são beneficiários do bolsa-esmola e portanto não querem confusão com o PT. O advogado do menor, que é “Ativista”, disse que irá recorrer para majorar a pena de seu constituinte, afinal, espera há anos uma boquinha na Petrobrás e aumentar a pena para 20 anos pode garantir uma sub-chefia de auxiliar de chefe-executivo de publicações internas sobre anomalias de mercados inexistentes e ciências ocultas com salário de R$ 25.000,00 (mais verba de gabinete+ 03 assessores de imprensa+ 15 assessores jurídicos+ 03 aroterapeutas+07 enfermeiros + 12 revisores de press release + 49 auxiliares gerais de livre nomeação) …

      🙂 🙂 🙂 🙂 🙂

  2. Imaginem como ficaremos quando milhares de novos universitários, mestre e doutores, das milhares de novas vagas geradas nos últimos doze anos, estiverem assumindo a vida profissional. São centenas de novos centros de pesquisa, públicos e privados, espalhados pelo território nacional.

    • Esse é Walfredo, o Petista Cor de Rosa. Em que pese ele ser um militante Pink, no quartinho dele predomina o vermelho. Também no quartinho dele, ao invés de uma boneca Barbie, tem uma boneca da Marilena Chauí, que faz companhia ao boneco do Ken, ops! do Lula. Fanático pela mitologia petista, natal para ele não é no dia 25/12 mas sim no dia 27/10, quando o Apedeuta nasceu. E ele acredita que nesse dia um raio de sol cortou o sertão até a casa onde o caudilho nasceu. Ele também acha que o Zé Dirceu é um Super Herói em bora todos saibam que a biografia do mensaleiro-mor é uma farsa.

      Ah! O nosso petista pink também tem uma camisa baby look mas ao invés de ser da Hello Kitty, tem a cara do Che Guevara…rs!

      Ps: Outro dia você estava se jactando da cerimônia no Congresso Nacional que simbolicamente devolveu o mandato à João Goulart. Quando vai ser a cerimônia para o Collor?

      • A sua assumiu o ápice da semvergonhice… vc sabe que o que o japa burro falou não tem apoio no mundo real, pois, garanto, daqui a vinte ou trinta anos continuaremos a produzir pessoas do seu quilate nas universidades… ou seja, pessoas formadas, com diplomas que não servem para absolutamente NADA…

      • A DESTRUIÇÃO DA INTELIGÊNCIA

        Escrito por Olavo de Carvalho | 19 Julho 2014

        Artigos – Cultura

        Poucas coisas são tão grotescas quanto a coexistência pacífica, insensível, inconsciente e satisfeita de si, da afetação de inconformismo com a subserviência completa à autoridade de um corpo docente.

        Aprender, imitar e introjetar o vocabulário, os tiques e trejeitos mentais e verbais da escola de pensamento dominante na sua faculdade é, para o jovem estudante, um desafio colossal e o cartão de ingresso na comunidade dos seus maiores, os tão admirados professores.

        A aquisição dessa linguagem é tão dificultosa, apelando aos recursos mais sutis da memória, da imaginação, da habilidade cênica e da autopersuasão, que seria tolo concebê-la como uma simples conquista intelectual. Ela é, na verdade, um rito de passagem, uma transformação psicológica, a criação de um novo “personagem”, apoiado no qual o estudante se despirá dos últimos resíduos da sentimentalidade doméstica e ingressará no mundo adulto da participação social ativa.

        É quase impossível que essa identificação profunda com o personagem aprendido não seja interpretada subjetivamente como uma concordância intelectual, ao ponto de que, no instante mesmo em que repete fielmente o discurso decorado, ou no máximo faz variações em torno dele, o neófito jure estar “pensando com a própria cabeça” e “exercendo o pensamento crítico”.

        A imitação é, com certeza, o começo de todo aprendizado, mas ela só funciona porque você imita uma coisa, depois outra, depois uma infinidade delas, e com a soma dos truques imitados compõe no fim a sua própria maneira de sentir, pensar e dizer.

        No aprendizado da arte literária isso é mais do que patente. O simples esforço de assimilar auditivamente a maneira, o tom, o ritmo, o estilo de um grande escritor já é uma imitação mental, uma reprodução interior daquilo que você está lendo. A imitação torna-se ainda mais visível quando você decora e declama poemas, discursos, sermões ou capítulos de uma narrativa. Porém nas suas primeiras investidas na arte da escrita é impossível que você não copie, adaptando-os às suas necessidades expressivas, os giros de linguagem que aprendeu em Machado de Assis, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Balzac, Stendhal e não sei mais quantos. Esse exercício, se você é um escritor sério, continua pela vida a fora. Quando conheci Herberto Sales – que Otto Maria Carpeaux julgava o escritor dotado de mais consciência artística já nascido neste país –, ele estava sentado no saguão do Hotel Glória com um volume de Proust e um caderninho onde anotava cada solução expressiva encontrada pelo romancista, para usá-la a seu modo quando precisasse. Já era um homem de setenta e tantos anos, e ainda estava praticando as lições do velho Antoine Albalat.[1] É assim, por acumulação e diversificação dos recursos aprendidos, que se forma, pari passu com a evolução natural da personalidade, o estilo pessoal que singulariza um escritor entre todos. T. S. Eliot ensinava que um escritor só é verdadeiramente grande quando nos seus escritos transparece, como em filigrana, toda a história da arte literária.

        Em outros tipos de aprendizado, a imitação é ainda mais decisiva. Nas artes marciais e na ginástica, quantas vezes você não tem de repetir o gesto do seu instrutor até aprender a produzi-lo por si próprio! Na música, quantas performances magistrais o pianista não aprende de cor até produzir a sua própria!

        Nas ciências e na tecnologia, o manejo de equipamentos complexos nunca se aprende só em manuais de instrução: o aluno tem de ver e imitar o técnico mais experiente, num processo de assimilação sutil que engloba, em doses consideráveis, a transmissão não-verbal. [2]

        Por que seria diferente na filosofia? Compreender uma filosofia não se resume nunca em ler as obras de um filósofo e julgá-las segundo uma reação imediata ou as opiniões de um professor. É impregnar-se de um modo de ver e pensar como se ele fosse o seu próprio, é olhar o mundo com os olhos do filósofo, com ampla simpatia e sem medo de contaminar-se dos seus possíveis erros. Se desde o início você já lê com olhos críticos, buscando erros e limitações, o que você está fazendo é reduzir o filósofo à escala das suas próprias impressões, em vez de ampliar-se até abranger o “universo” dele. Erros e limitações não devem ser buscados, devem surgir naturalmente à medida que você assimila novos e novos autores, novos e novos estilos de pensar, pesando cada um na balança da tradição filosófica e não da sua incultura de principiante. Não seria errado dizer que, entre outros critérios, um professor de filosofia deve ser julgado, sobretudo, pelo número e variedade dos autores, das escolas de pensamento, das vias de conhecimento que abriu em leque para que seus estudantes as percorressem.[3]

        Não é preciso mais exemplos. Em todos esses casos, a imitação é o gatilho que põe em movimento o aprendizado, e em todos esses casos ela não se congela em repetição servil porque o aprendiz passa de modelo a modelo, incorporando uma diversidade de percepções e estilos que acabarão espontaneamente se condensando numa fórmula pessoal, irredutível a qualquer dos seus componentes aprendidos.

        Mas o que acontece se, em vez disso, o aluno é submetido, por anos a fio, à influência monopolística de um estilo de pensamento dominante, aliás muito limitado no seu escopo e na sua esfera de interesses, e adestrado para desinteressar-se de tudo o mais sob a desculpa de que “não é referência universitária”?

        Se durante quatro, cinco ou seis anos você é obrigado a imitar sempre a mesma coisa, e ainda temendo que o fracasso em adaptar-se a ela marque o fim da sua carreira universitária, a imitação deixa de ser um exercício temporário e se torna o seu modo permanente de ser – um “hábito”, no sentido aristotélico.

        É como um ator que, forçado a representar sempre um só personagem, não só no palco mas na vida diária, acabasse incapaz de se distinguir dele e de representar qualquer outro personagem, inclusive o seu próprio. Pirandello explorou magistralmente essa situação absurda na peça Henrique IV, onde um milionário louco, imaginando ser o rei, obriga os empregados a comportar-se como funcionários da côrte, até que eles acabam se convencendo de que são mesmo isso.

        Toda imitação depende de uma abertura da alma, de uma impregnação empática, de uma suspension of disbelief em que o outro deixa de ser o outro e se torna uma parte de nós mesmos, sentindo com o nosso coração e falando com a nossa voz. Se praticamos isso com muitos modelos diversos, sem medo das contradições e perplexidades, nossa mente se enriquece ao ponto do nihil humanum a me alienum, daquela universalidade de perspectivas que nos liberta do ambiente mental imediato e nos torna juízes melhores de tudo quanto chega ao nosso conhecimento. Não é errado dizer que o julgamento honesto e objetivo depende inteiramente da variedade dos pontos de vista, contraditórios inclusive, que podemos adotar como “nossos” no trato de qualquer questão.

        Em contrapartida, o enrijecimento da alma num papel fixo abusa da capacidade de imitação até corrompê-la e extingui-la por completo, bloqueando toda possibilidade de abertura empática a novos personagens, a novos estilos, a novos sentimentos e modos de ver.

        Habituado a tomar como referência única o conjunto de livros e autores que compõe o universo mental da esquerda militante, e a olhar com temerosa desconfiança tudo o mais, o estudante não só se fecha num provincianismo que se imagina o centro do mundo, mas perde realmente a capacidade de aprendizado, tornando-se um repetidor de tiques e chavões, caquético antes do tempo.

        Quem não sabe que, no meio acadêmico brasileiro, a receita uniforme, há mais de meio século, é Marx-Nietzsche-Sartre-Foucault-Lacan-Derrida, não se admitindo outros acréscimos senão os que pareçam estender de algum modo essa tradição, como Slavoj Zizek, Istvan Meszaros ou os arremedos de pensamento que levam, nos EUA, o nome de “estudos culturais”?

        Daí a reação de horror sacrossanto, de ódio irracional, não raro de repugnância física, com que tantos estudantes das nossas universidades reagem a toda opinião ou atitude que lhes pareça antagônica ao que aprenderam de seus professores. Não que estejam realmente persuadidos, intelectualmente, daquilo que estes lhes ensinaram. Se o estivessem, reagiriam com o intelecto, não com o estômago. O que os move não é uma convicção profunda, séria, refletida: é apenas a impossibilidade psicológica de desligar-se, mesmo por um momento, do “eu” artificial aprendido, cuja construção lhes custou tanto esforço, tanto investimento emocional.

        Justamente, a convicção intelectual genuína só pode nascer da experiência, do longo demorado com os aspectos contraditórios de uma questão, o que é impossível sem uma longa resignação ao estado de dúvida e perplexidade. A intensidade passional que se expressa em gritos de horror, em insultos, em afetações de superioridade ilusória, marca, na verdade, a fragilidade ou ausência completa de uma convicção intelectual. A construção em bloco de um personagem amoldado às exigências sociais e psicológicas de um ambiente ideologicamente carregado e intelectualmente pobre fecha o caminho da experiência, portanto de todo aprendizado subseqüente.

        A irracionalidade da situação é ainda mais enfatizada porque o discurso desse personagem o adorna com o prestígio de um rebelde, de um espírito independente em luta contra todos os conformismos. Poucas coisas são tão grotescas quanto a coexistência pacífica, insensível, inconsciente e satisfeita de si, da afetação de inconformismo com a subserviência completa à autoridade de um corpo docente.

        No auge da alienação, o garoto que passou cinco anos intoxicando-se de retórica marxista-feminista-multiculturalista-gayzista nas salas de aula, que reage com quatro pedras na mão ante qualquer palavra que antagonize a opinião de seus professores esquerdistas, jura, depois de ler uns parágrafos de Bourdieu para a prova, que a universidade é o “aparato de reprodução da ideologia burguesa”. Aí já não se trata nem mesmo de “paralaxe cognitiva”, mas de um completo e definitivo divórcio entre a mente e a realidade, entre a máquina de falar e a experiência viva.

        Se, conforme se observou em pesquisa recente, cinqüenta por cento dos nossos estudantes universitários são analfabetos funcionais[4] – não havendo razão plausível para supor que a quota seja menor entre seus professores mais jovens –, isso não se deve somente a uma genérica e abstrata “má qualidade do ensino”, mas a um fechamento de perspectivas que é buscado e imposto como um objetivo desejável.

        Não que a presente geração de professores que dá o tom nas universidades brasileiras tenha buscado, de maneira consciente e deliberada, a estupidificação de seus alunos. Apenas, iludidos pelo slogan que os qualificava desde os anos 60 do século XX como “a parcela mais esclarecida da população”, tomaram-se a si próprios como modelos de toda vida intelectual superior e acharam que, impondo esses modelos a seus alunos, estavam criando uma plêiade de gênios. Medindo-se na escala de uma grandeza ilusória, incapazes de enxergar acima de suas próprias cabeças, tornaram-se portadores endêmicos da síndrome de Dunning-Kruger[5] e a transmitiram às novas gerações. Os cinqüenta por cento de analfabetos funcionais que eles produziram são a imagem exata da sua síntese de incompetência e presunção.

        Notas:

        [1] V. Antoine Albalat, La Formation du Style par l’Assimilation des Auteurs (Paris, Alcan, 1901).

        [2] V. sobre isso as considerações de Theodore M. Porter em Trust in Numbers. The Pursuit of Objectivity in Science and Public Life, Princeton University Press, 1995, pp. 12-17.

        [3] Digo isso com a consciência tranqüila de haver cumprido esse dever. Ao longo dos anos, introduzi no espaço mental brasileiro mais livros e autores essenciais do que todos os corpos docentes de faculdades de filosofia neste país, somados aos “formadores de opinião” da mídia popular. Em vez de me agradecer, ou de pelo menos ter a sua curiosidade despertada pela súbita abertura de perspectivas, estudantes e professores, com freqüência, me acusaram de “citar autores desconhecidos” – dando por pressuposto que tudo o que é ignorado no seu ambiente imediato é desconhecido do resto do mundo e não tem a mais mínima importância.

        [4] V. http://www.folhapolitica.org/2014/02/pesquisador-conclui-que-mais-da-metade.html.

        [5] Efeito Dunning-Kruger: incapacidade de comparar objetivamente as próprias habilidades com as dos outros. “Quanto menos você sabe sobre um assunto, menos coisas acredita que há para saber.” V. David McRaney, You Are Not So Smart, London, Oneworld Publications, 2012, pp. 78-81.

        Publicado no Digesto Econômico.

        Sei que os esquerdinhas partirão para o ataque ad hominem… pensei que seria como jogar pérolas aos porcos, mas me lembrei que o PB não é lido só por esquerdalhas… a estes dedico essas esclarecedoras linhas…

    • Deixe de ser retardado , leia mais sobre os filhos da putas que estao fazendo doutorado atraves das bolsas federais e veras que a quase totalidade esta optando por pagar uma multa e permanecer no pais aonde fazem o doutorado ,kkkkkkkk e tem mais retardado , o cara quando eh GENIO , nao precisa de apadrinhamento publico ,quem precisa disto sao aqueles que possuem serias limitaçoes intelectuais ,estes precisam que esta desgraça de governo faça reservas de vagas para eles ,porque se disputarem com seres superiores,eles sobram ,kkkkkkk,coisa de subraça !

      • Você não faz ideia do que está falando. E mais respeito com quem chegou com muito esforço neste nível acadêmico.

  3. Na boa… não acredito mais em NOBEL… não depois de dar o prêmio pro Obama, por nada, e para um jornalista, em detrimento de uma senhora que salvou centenas, talvez milhares de judeus!

    Morando na França desde 2005… imagino que lá ele tenha recebido o DEVIDO investimento, em algum que demonstra potencial… não é à toa que foi NATURALIZADO!

    Os EUA também NATURALIZARAM muitas mentes brilhantes após a Segunda Grande Guerra… na verdade, se você for muito bom, eles também te aceitam hoje, numa boa… enquanto isso… ao Sul do Equador… “sem comentários”! 🙁

    • Observar o título entre aspas…Não é o Nobel tradicional…É só uma analogia, pela importância que este premio tem área da matemática.

      E ele tem 35 anos, portanto os 5 anos na França são apenas parte de sua formação…

  4. “Infeliz a nação que precisa de heróis!”
    Bertolt Brecht

    Felicito esse jovem pelo seu prêmio,mas volto a repetir não precisamos desse ou daquele prêmio para demonstrar o nosso real valor, só o estado de Minas Gerais já nós deu Santos Dumont,Carlos Chagas,Vital BRAZIL,Ivo Pitanguy, e tantos outros gênios da arquitetura,das artes em geral,que nunca receberam esses prêmios tão cobiçados e nem por isso ficaram diminuídas as suas contribuições para o desenvolvimento da humanidade !
    Citei somente uma unidade de nossa federação,imagine se tivesse citado todos os gênios que nasceram nesse país ?

    • Infeliz é a nação que não precisa… aqui, não temos heróis porque não somos solo fértil que gere essa condição… a miserabilidade moral esquerdopata, a qual vc e todos nós tivemos acesso, não permite… assim sendo, não poderíamos esperar outra posição de sua parte ou de qualquer outro nascido nesses últimos 60 anos, senão essa, que desmerece qualquer título que envolva MERITOCRACIA… assim, seremos terceiro mundo FOREVER !!!… a minha critica não é pessoal, mas pertinente pelo que vc colocou… saudações…

      • Blue, eu sei que você e muitos aqui almejam esses títulos,mas oque eu digo é que não devemos nos achar inferiores por isso,a falta desses títulos não nos diminui mesmo que os outros fechem os olhos e tentem negar o nosso valor !

        No BRASIL se preocupam muito com a opinião alheia !

  5. Infelizmente “Nobel de Matemática” não traz reconhecimento para o Brasil. É fruto de um esforço individual e não de um processo, o que o faz ser um caso isolado.

    Qualquer um que já estudou o desenvolvimento tecnológico de uma nação entende perfeitamente o que estou dizendo. Veja o caso emblemático da Coréia do Sul. A escola brasileira foi de sua origem até início do século XX um privilégio de
    minorias sociais e culturais. Na Europa, o desenvolvimento dos sistemas educacionais gratuitos se deu no bojo da construção dos Estados nacionais. Nossas diferenças com os países asiáticos também são de grande relevância, porque, aqui como no ocidente em geral, a ética do esforço e da disciplina não prospera da mesma maneira que prospera na China, na Coreia do Sul, na Malásia ou em Cingapura. O imenso valor que as famílias atribuem à escolarização de seus filhos e a fortíssima associação entre sucesso escolar e prestígio social respondem em grande parte pelo milagre que esses países obtiveram em Educação.

    Fonte: http://estudandoeducacao.files.wordpress.com/2011/04/opinic3a3o-guiomar.pdf

    • Embora tenhamos verdadeiros gênios nas mais diversas áreas, não há como trazer um desenvolvimento digamos ” sustentável ” sem a universalização da educação para todos, como bem disse o comentarista Administrador !

      Somente o acesso universal aos meios acadêmicos, sem exceção pode levar um país ao desenvolvimento, o BRASIL precisa mudar os métodos de ensino atuais,modernizar as escolas e fazê-la chegar a todos sem distinção ! os exemplos dados pelo Administrador, comprovam isso !

    • Suas colocações são irrepreensíveis, meu caro… não há o que contestar… somente chorarmos a nossa condição de subdesenvolvidos moral e tecnologicamente… podemos mudar esse quadro ???… sim… mas sob a égide desse agrupamento político que ai está NÃO DÁ… quem tem um pouco de conhecimento dos fatos já observou que o povo brasileiro quer essa mudança a muito tempo, mas os políticos nacionais criados numa áurea esquerdizante não acompanharam a evolução da nação… irão acabar no limbo… essa deve ser a última eleição que a esquerda terá a hegemonia… ela que se cuide… os tempos mudam e a roda da história é IMPLACÁVEL com os equivocados…

      • Quero fazer-lhe uma pergunta pessoal meu caro Blue Eyes,pergunta essa que creio outros também queiram saber a resposta.

        Você diz:”…essa deve ser a última eleição que a esquerda terá a hegemonia… ela que se cuide… os tempos mudam e a roda da história é IMPLACÁVEL com os equivocados…”

        Agora a pergunta, quem seria essa ” DIREITA” que na sua concepção mudara o nosso país,qual é esse partido,que homem é esse, ou que é isso que você tanto fala?
        Diga-nos de maneira clara sem parábolas para quem sabe possamos compartilhar de tal ideia ?

      • NÃO HÁ… AINDA… mas o momento oportuno para que isso aconteça está chegando… no meio das massas, nas igrejas e nas universidades, ainda que insipidamente… e não confunda esse movimento ESPONTÂNEO do povo brasileiro com manipulação de qualquer ordem de algum grupamento político… muitos tentarão e já estão tentando montar no cavalo que passa arriado… mas o povo não tá mais tão gado assim… vc percebeu nos movimento de junho de 2013… o tiro da esquerda saiu pela culatra… o grande problema é que o povo não sabe traduzir em atos políticos o que almeja… mas isso é questão de tempo e articulação… então vc verá muito esquerdalha se transformar em homem de família e defensor da propriedade em um piscar de olhos… aguardemos… DIAS MELHORES VIRÃO…

      • Eu pedi uma resposta clara, não uma parábola e você me responde desse jeito,ou seja anunciando um suposto messias que surgira das massas !

        Como você mesmo disse que essa deve ser a última eleição que a esquerda terá a hegemonia podemos esperar esse messias para 2015 !
        Tá bom !

      • Não se trata de messianismo, Pereira, mas de um líder que necessariamente surgirá desse movimento espontâneo que não é desconhecido de quem acompanha a política nacional… vou dar um exemplo prático: o senador Magno Malta, ainda na ignorância dos fatos e dos acontecimentos, empenhou apoio a várias políticas anticristãs do pt e, tempo depois, creio eu, após estudar a questão com mais profundidade, viu que havia cometido um erro gravíssimo contra seus próprios interesses como um representante cristão e, hoje, suas posições mudaram em relação a muitas políticas anticristãs e antifamília dos esquerdistas… porque ???… porque ele viu que não é esse o caminho que a sociedade brasileira em sua maioria quer… logo, se ele quiser continuar a representar essa sociedade, tem que acompanhar seus interesses e não o do poder atual… assim sendo, outros já observaram essa tendência e estão se preparando para representar essa maioria da sociedade brasileira que clama por mudanças moralizantes no país… assim, temos a algum tempo, candidatos cristãos a presidência… procuro não apontar datas, mas tendências… fui mais claro ???… saudações…

  6. Cientistas descobrem que grade curricular do MEC faz mais mal ao cérebro que maconha

    O pesquisador da Universidade Federal de Lapão Roliço, André Aragão Aragonês Aramaico de Andrade Armando, divulgou, na tarde de hoje, o resultado de uma pesquisa que comprova, segundo ele, que agrade curricular exigida pelo Ministério da Educação para as redes privada e pública de ensino, em todos os níveis, no Brasil fazem mais mal ao cérebro do que maconha.

    Segundo o pesquisador, “os danos se tornam muito piores no nível do terceiro grau em diante”.

    A pesquisa foi realizada entre os anos de 1983 e 2014, e comprovou que o conteúdo lecionado nas universidades e escolas, “ensinam a falar bosta, repetir frases feitas e causam uma preguiça de pensar que é irreversível na maioria dos casos.”

    Em nota, o MEC afirmou “que a pesquisa faz certo sentido, mas tem falhas de métodos insanáveis, pois só analisou casos de estudantes dos cursos das áreas de ciências humanas.”

    🙂 🙂 🙂 🙂 🙂

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