Chanceler russo desembarca na América Latina

Ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodriguez, cumprimenta o colega russo Sergei Lavrov durante reunião em Havana, em 29 de abril-

Enquanto a Rússia anunciava na terça-feira seu “alarme” devido à mobilização de tropas da Otan perto de suas fronteiras – um reflexo da crise no leste da Ucrânia, onde ativistas pró-Rússia ocupam prédios do governo ucraniano em várias cidades -, o chanceler russo, Sergei Lavrov, embarcava em uma viagem internacional oficial.

Mas o destino não era Kiev nem conferências de paz para eliminar a crescente tensão na região, mas sim a América Latina. Sua primeira escala foi em Cuba. O que faz o ministro de Relações Exteriores russo pelo continente, em pleno auge da pior crise entre Rússia e Ocidente desde a Guerra Fria?

A resposta oficial da Chancelaria é que Lavrov faz uma viagem por Cuba, Nicarágua, Peru e Chile nesta semana para “aprofundar questões relativas à cooperação bilateral” e “revisar acordos aprovados” previamente por Moscou e os governos locais.

E, segundo o comunicado, o chanceler “agradecerá pessoalmente” aos governos de Cuba e Nicarágua por terem votado contra uma resolução da ONU, em março, a respeito da chamada integridade territorial da Ucrânia, após a contenda envolvendo a Crimeia.

A viagem ilustra os interesses políticos e econômicos de Moscou na região. Nos últimos anos, a Rússia tem demonstrado crescente interesse em exercer sua influência na América Latina, em especial sobre os países da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), fundada em 2010 como “alternativa” à OEA (Organização dos Estados Americanos), sediada em Washington.

Por tudo isso, a viagem do chanceler russo à região não causa surpresa. Mas o que surpreendente, segundo analistas, é o momento escolhido por Moscou para agradecer pessoalmente a seus parceiros latino-americanos.

Cooperação militar

“Claramente é uma mensagem aos Estados Unidos com uma óbvia referência aos desdobramentos na Ucrânia”, diz o jornalista do Serviço Russo da BBC Famil Ismailov. “A mensagem para Washington é: ‘Você vem às minhas fronteiras, também posso chegar perto das suas’.”

Ismailov afirma que a Rússia sempre rejeitou os planos de expansão da Otan rumo ao leste (Ucrânia e Geórgia). “Moscou sempre disse que as ações na Ucrânia ocorreram porque a Otan se aproximou demais das fronteiras russas”, agrega o jornalista da BBC.

“Agora, a Rússia faz o mesmo com Washington – mostra que tem a capacidade de se aproximar das fronteiras americanas e talvez recordar o ocorrido na década de 1960, na Crise dos Mísseis de Cuba (quando os EUA descobriram bases de mísseis soviéticos em território cubano).”

Após a Revolução Cubana, a União Soviética conseguiu aumentar rapidamente sua influência econômica e militar na América Latina. Mas essa influência diminuiu depois do colapso soviético.
Moscou vem tentando mudar isso nos últimos anos.

Para Carl Meacham, diretor de Américas do Centro de Estudos Internacionais Estratégicos (CSIS), em Washington, “mesmo enquanto a Rússia defende seus interesses em suas imediações, simultaneamente testa territórios já conhecidos no outro lado do mundo, voltando a visitar a América Latina”.

“Ainda que a Rússia não tenha se ausentado totalmente da região nos últimos anos, declarações recentes do ministro da Defesa (Sergei Shoigu) indicam que esse envolvimento chegou a um novo nível”, agrega o analista.

No ano passado, Shoigu anunciou planos de construir bases militares na Nicarágua, Cuba e Venezuela. Segundo Meacham, isso mostra o envolvimento “mais direto da Rússia na região desde o fim da Guerra Fria”. Agora, Lavrov pode ter a chance de reforçar as bases para essa cooperação militar.

No ano passado, o Brasil finalizou acordo para a compra de 12 helicópteros militares russos, por US$ 150 milhões. Seis meses depois, Shoigu voltou ao país para finalizar a venda de sistemas de mísseis para reforçar a capacidade de defesa brasileira, por US$ 1 bilhão. Na mesma viagem, Shoigu visitou o Peru para promover a venda de veículos blindados por US$ 700 milhões.

Em dezembro, Lima anunciou que suas Forças Armadas planejavam adquirir 24 helicópteros militares russos.

‘Mensagem intencional

A viagem começou no mesmo dia em que os Estados Unidos e a União Europeia anunciaram uma outra lista de sanções a Moscou por “seu fracasso em por fim à agitação no leste da Ucrânia”.

“Sem dúvida, existe um claro interesse da Rússia na região”, diz Ismailov. “Mas o momento em que ocorre este tour é conspícuo. E essa é a intenção de Moscou.” “A mensagem é intencional. Mas a presença russa na América Latina pode não representar uma ameaça real a Washington, porque seus aliados na região estão passando por problemas graves.”

Para o analista Carl Meacham, do CSIS, “seja uma viagem simbólica ou não, é muito provável que Washington esteja seguindo de perto os passos da Rússia na América Latina.” “Pode ser uma represália simbólica ao envolvimento dos americanos na Ucrânia ou pode ser uma demonstração de poder rumo a uma mudança estratégica global mais ampla”, diz Meacham.

“Mas, de qualquer forma é importante reconhecer o contexto em que estes eventos ocorrem – em particular, a natureza das relações entre Rússia e América Latina desde o fim da Guerra Fria – para que possamos entender melhor as potenciais implicações deles para os interesses dos Estados Unidos na região.”

BBC Brasil

Fonte: Terra

15 Comentários

  1. ”No ano passado, Shoigu anunciou planos de construir bases militares na Nicarágua, Cuba e Venezuela…”
    Sim,mas foram descartadas pelos países que supostamente receberiam as tais bases segundo à imprensa, então tudo não passou de pirotecnia !

  2. na verdade o chanceler russo esta fazendo negócios com os países OCIDENTAIS da américa latina
    ou a BBC acha que países ocidentais desse lado do atlântico são apenas os estados unidos e canada ????
    isso prova que quando se fala países ocidentais essa palavra ou expressão esta errada de ser usado por essas imprensas sionistas espalhadas pelo globo !!!
    os estados unidos não representam o mundo !!! OS YANKES representam apenas eles e seus interesses

    • “…a BBC acha que países ocidentais desse lado do atlântico são apenas os estados unidos e canada?”.

      Bem lembrado PÉ DE CÃO.

    • Daqui a pouco até Lula e Fidel Castro, que usam barba, serão sionistas para você meu caro, sem falar nos padres por usarem solidéu….rs!

    • Veio comprar mais chanchos do Brasil, bananas da Nicarágua e sair com umas “mocinhas” cubanas… russo espeeeerto… 🙂 🙂 🙂 🙂 🙂

  3. “Para o analista Carl Meacham… ‘Pode ser uma represália simbólica ao envolvimento dos americanos na Ucrânia ou pode ser uma demonstração de poder rumo a uma mudança estratégica global mais ampla’, diz Meacham”

    Taí um dos motivos por tantos erros da diplomacia dos EUA. Ela está atrasada no tempo.

    Rússia e China (que esteve por aqui na semana passada), estão firmes nesse negócio de aprofundar relações com a América Latina faz 10 anos. Não tem relação nenhuma com o que esta ocorrendo na Ucrânia. Estão prometendo mundos e fundos para a região e não é de hoje. E, melhor, não estão financiando instabilidade por aqui, seja econômica, seja política.

  4. O Russos vão vender até à mãe p terem grana, essa é uma excelente hora p um país da AS comprar, e entrar , em programas de caças, VLS, satélites e mt outras coisas de carater militar e cívil.Uma ótima chance, o GF/MD deveria tentar.Quem viver vera.Sds.

  5. O maior inimigo de um homem pode ser ele mesmo,se ele não tomar as atitudes corretas ele perde amigos,aliados,isto esta ocorrendo com os norte americanos,em relação com as demais americas,SEJAM BEM VINDOS RUSSOS ESTAMOS ABERTOS A NEGOCIAÇÃO QUE SEJAM JUSTAS AO NOSSO POVO.

  6. Vejo que muitos enxergam muitas oportunidades para o BRASIL,nessa busca por dinheiro por parte da Rússia, mas se esquecem de uma coisa grave,ou seja a falta de um projeto de nação por parte do governo brasileiro.
    Infelizmente o nosso país deixa e deixou de fazer inúmeros projetos essenciais a nação por pura falta de soberania,por capachismo mesmo, no FX1 isso ficou claro, só para dar um exemplo.
    Se não houver uma mudança da água para o vinho nesse país,nos iremos continuar perdendo muitas oportunidades ainda !

    • Olá César Pereira

      Bom você ter citado essa coisa de projeto de nação.

      Isto não se faz com “governo”, mas com ação continuada da população sobre as ações do governo, determinando o que de fato é importante ao seu bem estar.

      E o citado “capaxismo” não começa realmente no FX-1. É fruto do, ainda presente, modo de atuação da coroa portuguesa no início do século XIX quando fugiu de Napoleão em 1808. É lá que inicia a história de que tudo de bom está fora do Brasil. Inclusive a noção de que os melhores brasileiros nascem fora daqui.

      Todas as tentativas de quebrar esta sequência de “capaxismo” como você define sempre são taxadas de populistas pelos herdeiros daquele comportamento monárquico, em todos os momentos em que se sentiram ameaçados de serem excluídos, permanentemente ou temporariamente, do controle dos destinnos do país.

      É raciocínio arcaico e segregacionista que tenta afagar algumas personlidades que se consideram os europeus tupiniquins. E para isso nada melhor do que depreciar a parte da população que eles consideram incompetente ou inadequada para comandar um país.

      O Brasil vai fazer negócios com a Rússia sim porque é de nosso interesse. Bom se acostumar a isso.

      Abs

      • Meu caro RobertoCR,eu sinceramente não entendi essa sua cólera em relação ao meu comentário, por isso vou exclarecer algumas coisas que parece que você não entendeu !

        1º Em momento algum eu afirmei que o “capaxismo” começou no advento do Programa FX-1,apenas citei isso como exemplo !
        2º Eu também não disse que um projeto de nação se faz com governos,mas se não for iniciado por um governo seja ele qual for isso nunca ira acontecer, um projeto de nação se faz com metas que procuram ser estabelecidas em um prazo de tempo determinado,que pode ser executado por sucessivos governos,que visam o desenvolvimento da nação independente do partido no poder ! Concordo com você quando diz que se deve ter fiscalização por parte do povo para que tudo ocorra de acordo !

        Quanto a desaforada afirmação rsrsrsrs,”O Brasil vai fazer negócios com a Rússia sim porque é de nosso interesse. Bom se acostumar a isso.”
        Não sei onde eu disse para não fazermos negócios com os russos,eu apenas disse que tais oportunidades podem ser desperdiçadas se não tivermos uma postura diferente da que estamos tendo, apenas isso !
        Para finalizar eu quero dizer que não tenho nada contra você RobertoCR, mas estranhei muito o modo colérico de seu comentário,rsrsrs um abraço a você !

    • Quem não tem projeto de nação não é o atual governo brasileiro, mas aquele que foi escorraçado e varrido pelas urnas a doze anos atrás.

      O projeto da coligação trabalhista é muito claro, claríssimo, passa pelo desenvolvimento do país com tecnologia própria, com parcerias com todas as nações, mas sempre lutando para manter o conteúdo local nos contratos, pela formação contínua e qualificada de todos os brasileiros via pronatec, fies, reuni, ciência sem fronteiras, etc…

      • Ai acordamos do sonho com INFRAESTRUTURA PRECÁRIA, EDUCAÇÃO DE PÉSSIMA QUALIDADE, DESESTRUTURAÇÃO DO NÚCLEO FAMILIAR, EMPOBRECIMENTO DA POPULAÇÃO PRODUTIVA ATRAVÉS DE IMPOSTOS AVILTANTES, INFLAÇÃO, INFILTRAÇÃO DE ESTRANGEIROS NA MÁQUINA PÚBLICA, DESVIOS DE VERBAS PÚBLICAS, USO POLÍTICO DE EMPRESA PÚBLICAS e por ai vai… “Uma vez eu tive um sonho…” …

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