Segundo asseguram especialistas, a Al-Qaeda nunca será capaz de tomar o poder num país por suas próprias forças. Mas por que então ela dificulta de todos os modos essa tarefa a seus aliados e cúmplices?
Se você é um patriota e está conduzindo uma árdua batalha com algum regime sangrento no Oriente muçulmano, mais cedo ou mais tarde, a Al-Qaeda virá em seu auxílio. Tenha cuidado! Com um aliado desses você pode perder tudo. Eis alguns exemplos.
Meados dos anos 90. No Afeganistão, os talibãs estão no poder. Comportam-se peculiarmente, mas, além de seus concidadãos, não pretendem tocar em ninguém. E a eles, em princípio, também ninguém toca. E eis que em 1996 vem cá do Sudão bin Laden com seus colegas da Al-Qaeda. Dentro em breve, os visitantes fazem aos anfitriões uma surpresa desagradável: em 7 de agosto de 1998, organizam uma dupla explosão junto das embaixadas dos EUA em Nairobi e Dar es Salaam. Centenas de mortos, milhares de feridos. À Al-Qaeda, uma fama duvidosa, ao Afeganistão – um ataque de mísseis de cruzeiro norte-americanos. Segue mais. Os talibãs nobremente se recusam a entregar aos EUA o “terrorista número um”, que, na verdade, os tramou a eles impiedosamente. Osama não é tão sentimental. Em 11 setembro de 2001, com um ataque maciço contra os Estados Unidos, ele condena o país que o tinha protegido a ele e à sua organização a uma morte inevitável. Agora, os talibãs excessivamente acolhedores e confiantes terão que recomeçar tudo de novo somente após a retirada das tropas norte-americanas em 2014.
Primavera de 2009. No Iêmen do Sul, separatistas começam a se pronunciar ativamente pela independência, salientando que vão usar apenas meios pacíficos de luta. Na altura, nem mesmo os EUA eram contra a divisão deste país muito diferente. Mas, por sua má sorte, ao auxílio dos separatistas apressou-se a organização local da Al-Qaeda. Como sempre, com tiroteios e luta contra os violadores de normas morais. Ocupa várias cidades. Mas a seguir a ela para essas cidades vêm, sem falta, aviões de combate e bombas. Afinal, a Al-Qaeda é um caso à parte, e com ela pode-se fazer seja o que for. Os militantes, em retaliação, explodem oleodutos e as poucas empresas industriais. As exportações de petróleo são a principal fonte de rendimento do país. Em 2013, já ninguém fala seriamente da divisão do Iêmen. Só pensam em sobreviver…
Primavera de 2012. Mali. O movimento separatista tuaregue pela secessão da parte norte do país, Azawad, tem todas as chances de conseguir a independência. O governo central está em colapso. O exército, além de pequeno, está incapaz de lutar. Os tuaregues capturam todos os grandes centros populacionais no norte e preparam as suas condições da secessão do país. E nesse momento aparece a organização local da “Al-Qaeda nos Países do Magrebe Islâmico”. Primeiro, ela entra em conflito com os tuaregues e reconquista-lhes todo o território conquistado, e, em seguida, faz um passo completamente estranho. No início de 2013, a coalizão de jihadistas começa uma marcha suicida para a capital do País, Bamako. Eles sabem perfeitamente que a França declarou guerra à Al-Qaeda, que ela já há muito tempo está preparada para uma operação militar contra os militantes em Mali e só está esperando por um motivo. Finalmente, depois de uma operação militar de seis meses no Mali, foram mortos cerca de mil jihadistas, e os tuaregues podem esquecer a independência que estava tão perto. Nada de secessões: no país foi introduzido um contingente das Nações Unidas.
Finalmente, 2013. Síria. Em meados de maio, os rebeldes na cidade sitiada de El-Quseir começaram a queixar-se de uma brusca redução no fornecimento de armas do estrangeiro. Não há necessidade de adivinhar a razão disso. Conforme relatou o correspondente da BBC em Beirute Jim Muir, “o Catar e outros, segundo consta, recentemente cortaram os fornecimentos, talvez em resposta aos receios dos Estados Unidos de estarem possibilitando a vitória de um movimento rebelde em que a Frente de Al-Nusra, ligada à Al-Qaeda, está desempenhando um papel de liderança.” No final de maio, a ONU até incluiu esta “frente” radical islamista na lista de organizações terroristas, introduziu uma proibição de fornecimento de armas à organização e outras sanções.
Mas esta “frente” foi um dos principais grupos da oposição síria armada, distinguido por sua capacidade de combate e disciplina. Mas, em abril deste ano, quando o balanço de forças no conflito sírio parou num equilíbrio instável, o líder da “frente” Abu Mohammad al-Golani de repente dá um passo estranho: jura publicamente fidelidade ao atual chefe da Al-Qaeda Ayman Zawahiri. Porquê ele escolheu justamente esse momento – não está claro. Mas o resultado prático é óbvio. Em 5 de junho, as tropas do governo capturaram El-Quseir por completo. O pêndulo do sucesso militar oscilou na direção do exército de Bashar Assad.
Resumindo, há nas ações da Al-Qaeda um estranho mistério. E uma pessoa com uma lógica habitual não é capaz de desvendá-lo.
Essa organização de mercenários está a serviço de grandes corporações, cumpre objetivos onde a diplomacia não consegue entrar.
Brilhante Walfredo