O ex-nazista que criou no Rio o pedalinho da Lagoa
Ancelmo Gois
Uma tese de doutorado do Departamento de História Social da UFRJ vai revelar um personagem polêmico. Trata-se de Herberts Cukurs, nascido na Letônia, que veio para o Brasil depois da Segunda Guerra. Aqui criou os famosos pedalinhos na Lagoa no final dos anos 1940. Virou um bem-sucedido empresário até cair em desgraça, em 1950, quando foi acusado de ser um carrasco nazista. Acabou assassinado em Montevidéu pela Mossad, a agência de inteligência de Israel.
Márcia Vieira, da turma da coluna (do blog do Ancelmo), trocou dois dedos de prosa com o historiador Bruno Leal, que há três anos estuda o tema.
Como você chegou ao caso de Herberts Cukurs?
Fui atrás da presença de criminosos nazistas no Brasil e me deparei com o caso Cukurs. Ele lutou na guerra de independência da Letônia. Virou herói pelas suas habilidades como aviador militar. Na década de 40, os russos ocuparam a Letônia. Então, quando Hitler declarou guerra à antiga União Soviética, e os alemães invadiram a Letônia, a população comemorou. Achou que era uma chance de voltar a ser independente. Vários setores colaboraram com os nazistas para derrotar os soviéticos. Cukurs participou da SS estrangeira. Quando a URSS retomou a Letônia, ele fugiu.
E por que escolheu o Brasil?
Ele era apaixonado por aviação, admirava Santos Dumont. Ele, a mulher e três filhos chegaram ao Rio em 4 de março de 1945, no carnaval. Três anos depois, ele colocou os pedalinhos na Lagoa, coisa que ninguém conhecia. E espalhou as bicicletas aquáticas, como chamava, por outros lugares.
E a denúncia?
Em 1950, uma organização judaica no Rio o acusou de ser um carrasco nazista e de ter participado da morte de judeus. Cukurs sempre negou.