Moscou não ficou sem defesa

Víktor Litóvkin, especial para Gazeta Russa

Revelada pelo presidente da ASD, a interrupção no processo de construção do complexo de mísseis S-300 causou polêmica na Rússia, mas não deixou o país desprotegido contra ataques aéreos.

Na véspera da abertura do Salão Aeroespacial Internacional de Moscou MAKS-2011, surgiu uma informação na mídia moscovita que atraiu a atenção não só de militares, mas também de cidadãos comuns. Ex-diretor geral da Head Systemic Design Bureau (GSKB) e do consórcio Almaz-Antei de Rasplétin, agora presidente do Conselho Não-Departamental de Perícia para a Defesa Aeroespacial (ASD), Igor Achurbeili informou que a Rússia interrompeu a fabricação do complexo de mísseis de média distância S-300. Além disso, a produção do S-300, feita até recentemente, estendeu-se exclusivamente devido a ordens do exterior.

Na imprensa, logo apareceram comentários de que a velha tecnologia está irremediavelmente ultrapassada e a nova ainda não foi adotada. Para completar, a defesa antiaérea de Moscou já não protegeria mais a cidade de mísseis ou bombas. Ao mesmo tempo, Achurbeili foi acusado de ter prejudicado os esforços políticos do presidente e revelado um segredo de Estado.

Na verdade, o presidente do ASD não falou nada de muito novo. Ainda no ano passado, em uma entrevista a um jornal bem conhecido, ele disse: “Poderíamos modernizar o S-300P Favorit para sempre. Mas a Almaz, a meu ver, agiu muito honestamente. Fechamos por nossa própria iniciativa esse tópico e demos continuidade à elaboração do S-500, que é um novo sistema antimíssil”.

Tamanha agitação não durou muito, já que o término da produção do S-300 – último complexo produzido para o nosso exército, ainda em 1994 – é um processo normal e natural. O sistema já utilizou todos os seus recursos técnicos e morais. Da mesma forma, tiveram os seus recursos esgotados os tanques T-72, o fighter MiG-29, as armas automotoras de artilharia Akassia e Gvozdika e outros, todos substituídos por equipamentos militares mais modernos.

Em substituição ao S-300, vieram os novos sistemas de mísseis antiaéreos S-400 Triumf. Eles são mais eficientes e mais produtivos, podem disparar fogo em 48 alvos em vez de oito e têm muitas outras vantagens. Duas bases do Triumf já estão posicionadas para proteger o céu da capital – e, de acordo com Aleksander Zelin, comandante-geral da Força Aérea russa, outras duas devem entrar em atividade até o fim do ano. Paralelamente, os sistemas Vitiaz e S-500 estão sendo desenvolvidos. Ou seja, está claro que Moscou não ficou sem defesa aérea.

Como havia afirmado Achurbeili, o Vitiaz é um sistema de mísseis de médio alcance que pretende substituir o S-300PS. Não muito pequeno, móvel e bastante barato, terá as mesmas características táticas e tecnológicas do aparelho anterior. “Estamos desenvolvemos o sistema Morfeu de mísseis de curto alcance. Este sistema servirá, inclusive, para cobrir os S-400, S-500 e Tópol. Tem capacidade de exterminar bombas de precisão e mísseis de cruzeiro e interceptar linhas”, acrescentou. De acordo com Zelin, o equipamento destrói tudo o que se move em um raio de 5 km.

Supõe-se que o desenvolvimento do S-500 seja concluído até 2015. “Ainda não divulgamos todas as suas características”, informou Achurbeili. Segundo ele, o Morfeu, o Vitiaz, o S-400 e o S-500 fecharão todas as escalas de defesa de cinco a 400 quilômetros, no mínimo, com altitudes que variam de cinco metros até o espaço não muito distante.

Nada de pressa

É preciso considerar que, mesmo com a utilização do S-400, nem tudo está claro e óbvio. Tanto Achurbeili quanto Zelin apontam grandes problemas no sistema russo de defesa aérea, principalmente na Vanguard, fábrica de Moscou onde são fabricados vários equipamentos que o sustentam. Além disso, o ciclo tecnológico de criação do complexo não levou menos que dois anos.

Se não houver nenhum contrato em 2011, seria ingênuo esperar o surgimento de novos produtos daqui a dois anos, ainda mais se não houver certeza absoluta de que o Vitiaz e o Morfeu não estão atrasados em relação a essa data. De fato, o atraso na assinatura do contrato para a produção do S-400 pode levar a falhas no sentido de garantir uma proteção confiável às cidades grandes e às mais importantes zonas industriais e econômicas da Rússia.

Hoje em dia, não existe nenhuma ameaça real de ataque surpresa à Rússia. Por enquanto, o país tem um escudo ativo contra mísseis e armas nucleares, o que tornaria difícil a possibilidade de alguém se decidir a dar um passo tão imprudente. Com a criação de um novo míssil para os complexos S-400 e S-500, não é preciso correr tanto para buscar novidades – e, acima de tudo, não se pode gastar recursos públicos inutilmente.

Víktor Litóvkin é editor-chefe da revista Nezavisimoie voiennoie obozrenie (do russo, “Observador militar independente”).

Fonte: Gazeta Russa

16 Comentários

  1. Ai que o Brasil poderia entrar, oferecer dinheiro em troca da tecnologia, resolve os nossos problemas e os deles!

  2. – e, acima de tudo, não se pode gastar recursos públicos inutilmente.”… isso sim, deveriamos escutar com mais atenção dos russos… copiem os russos, mas naquilo que é bom para o nosso pais…

  3. Seria muito bom uma bateria desses por aqui, pelo menos o que eu acompanho aqui no site, o Brasil não tem esse tipo de defesa, me corrija se eu estiver errado.

  4. Uma ótima opção para o Brasil já que Nao possuímos nenhum tipo de defesa antiaérea desse tipo. Nossa defesa se limita a canhões antiaéreos e os MANPADS e apesar de desconhecer a quantidade acredito serem poucos. Para se ter uma idéia, parece que só no primeiro dia de guerra na Bósnia foram usados mais de 1000 desses mísseis e duvido que tenhamos mais que isso. Fora o fato que hoje em dia o uso de bombas inteligentes e os atuais mísseis permitem o disparo das armas fora do alcance desse tipo de defesa. E necessário que o Brasil se atualize e se faca protegido contra possíveis ameaças adquirindo esses tipos de sistemas de curto, médio e longo alcance permitindo uma eficiente defesa em camadas, protegendo de forma eficaz nosso território. A escolha pelos sistemas russos também seria mais vantajoso pelo fato de serem mais baratos que os ocidentais e igualmente eficientes.

  5. Sem querer ser chato e bater na mesma tecla, mas apenas e tão somente no sentido de somar ao debate, o renomado Dr. Carlo Kopp, do site “ausairpower.net” afirma que os mísseis com capacidade “antibalístico” do sistema S-300 são equivalentes aos Patriot PAC1 e PAC2, usados na Primeira Guerra do Golfo em 1992.
    Esses mísseis não são dotados de capacidade hit-to-kill, ou seja, não são programados no modo “hittile”, que prevê um impacto direto. São dotados de ogiva de fragmentação e espoleta de proximidade e baixa altitude de interceptação.
    Tais características os fazem eficazes apenas contra mísseis balísticos táticos com alcance não maior que 300 km, com velocidade de “reentrada” de no máximo 2,8 km/s e onde não há liberação de um veículo de reentrada, chegando o míssil inteiro.
    Também a altitude de interceptação é endoatmosférica baixa, menor que 30 km.
    Já o sistema S-400 incorpora um míssil com características semelhantes ao Patriot PAC-3, o 9M96E, com maior altitude de interceptação (45 km) e capaz de um impacto direto, garantindo a destruição mesmo de veículos de reentrada robustos e altamente resistentes, como as de mísseis balísticos de curto e médio alcance, com velocidade de reentrada em torno de 4 a 5 km/s.
    O futuro míssil S-500 deverá incorporar características que o capacita a interceptação endoatmosférica alta/quase exoatmosférico, como o THAAD americano, também com capacidade hit-to-kill e capacidade de interceptar ogivas de reentrada a mais de 100 km de altura.
    Deverá ser capaz de interceptar ogivas de reentrada com velocidade compatível com mísseis de alcance intermediário e intercontinental (8 km/s), com o agravante de ser endoatmosférico, tendo uma margem de erro muito pequena, não dando lugar a uma segunda tentativa.
    Sabe-se que mísseis de alcance médio, intermediário e intercontinental são preferivelmente interceptados ou na fase de ascensão ou na fase intermediária, ficando a fase terminal como uma última opção.
    Não se sabe de nenhum programa russo que visa interceptar mísseis balísticos na fase intermediária, como os sistemas Standard SM-3 e GBI (Ground Based Interceptor) de origem americana, já em operação, embora o último, de modo tímido.
    A fase intermediária traz problemas ao defensor porque há uma quantidade grande de “iscas” liberadas junto com as ogivas verdadeiras, que podem saturar as defesas.
    Nessa fase o radar seria inútil, já que ele detectar por igual uma ogiva e uma isca da mesmo forma, daí o melhor é usar um sensor de imagem térmica, que pelo menos em tese é mais eficiente em discriminar uma ogiva falsa de uma verdadeira já que a falsa perde calor rapidamente.
    Já em relação à tentativa de interceptar mísseis balísticos na fase inicial, de ascensão, tudo indica que os russos reiniciaram um programa de laser aerotransportado semelhante ao ABL americano.
    Teoricamente é a fase mais vantajosa de interceptação, tendo em vista que não há como disfarçar o lançamento do míssil e nem há dificuldade em rastrear sua trajetória, embora seja a mais difícil tecnicamente, pelo míssil ainda se encontrar sobre o território inimigo na maior parte do tempo e exigir uma reação muito rápida dos sistemas antimísseis.
    A fase terminal traz algumas vantagens, como por exemplo, a desintegração das “iscas” pelo atrito e a redução da velocidade das ogivas verdadeiras, se comparada com a velocidade que as mesmas atingem no final da fase intermediária.
    O problema é que o tempo de reação é muito limitado já que as ogivas estão há poucos segundos do impacto.
    Infelizmente os russos, gostemos ou não, concentraram seus esforços de interceptação apenas nessa fase, o que eu particularmente acho uma temeridade.
    Isso não é falar mal ou bem dos russos, é apenas e tão somente uma constatação dos fatos.
    Pode ser que eles confiem em seus sistemas interceptadores endoatmosféricos (S-300, S-400 e futuramente o S-500) para fazer a defesa de todos os tipos de mísseis balísticos (táticos, curto alcance, médio alcance, alcance intermediário, alcance intercontinental) e se sintam seguros, mas pela lógica a doutrina adotada pelos americanos é mais ampla e flexível, usando uma defesa em níveis, tendo abordagens voltadas para as diversas fases do “vôo” de um míssil balístico (inicial, intermediária e terminal), mais adequado para os diversos tipos de mísseis balísticos (tático, curto alcance, médio alcance, alcance intermediário e intercontinental).
    Já os mísseis Gazelle e Gorgon, que protegem Moscou, são ainda do tempo da Guerra Fria. São grandes, fixos, instalados em silos e eram armados com ogivas nucleares.
    Foram modernizados mas sua eficácia é duvidosa já que não se sabe de sua capacidade hit-to-kill, obrigatória quando se trata de interceptar véiculos de reentrada, que são imunes a explosões nas proximidades e exigem um impacto direto para serem neutralizadas.
    O Gazelle é endoatmosférico (100 km de altitude) e o Gorgon é exoatmosférico (300 km de altitude).
    Pelo amor de Deus, não estou falando mal de russos. Juro!
    Adoro os russos e acho as mulheres russas as mais belas do mundo.
    Um abraço ao glorioso povo russo e se ofendi alguém com minhas comparações, antecipadamente peço desculpas pelo atrevimento e pela minha boca grande.
    Amo os russos. Viva a Grande Mãe Rússia!

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    EU ja estava pensando em comprar esse projeto e usar ele na defesa anti aérea convencional, não na anti misseis, pra derrubar misseis balísticos existem outros modelos que podemos comprar ou criar.
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    PRA DERRUBAR os aviões F-todos seria uma boa pedida não??
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  7. Cometi um equívoco no meu comentário anterior.
    O míssil antibalístico Gorgon, que protegia Moscou, com capacidade exoatmosférica, não está mais em operação.
    A proteção de Moscou hoje, contra um ataque de ICBMs se faz apenas pelo Gazele, endoatmosférico.

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