China e Brasil terão centro conjunto de nanotecnologia

SABINE RIGHETTI
ENVIADA ESPECIAL A CAMPINAS

O governo vai firmar no final deste mês um convênio com a China para implantação de um centro binacional de nanotecnologia, o campo da ciência que envolve a manipulação de objetos muito pequenos, com dimensões de bilionésimos de metro.

A ideia é que os dois países entrem com a mesma quantidade de dinheiro no projeto. Ontem, em uma reunião em Campinas, o MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia) propôs R$ 4,7 milhões para os dois anos iniciais. Mas a China quer mais.

O valor final será acordado em viagem que o ministro Aloizio Mercadante (MCT) fará à China no próximo dia 22.

Como inicialmente o centro será virtual, a ideia é que o dinheiro seja gasto com infraestrutura e com a troca de pesquisadores entre os países –pelo menos 30 por ano.

“O valor parece pequeno. Mas pode ser um primeiro passo para começarmos uma série de parcerias com a China”, diz Adalberto Fazzio, coordenador da área de nanotecnologia do MCT.

SUSTENTÁVEL

Uma das áreas de interesse da China é o grafeno, material obtido quando o grafite é fatiado em camadas muito finas, com apenas um átomo de espessura. Os eletrônicos do futuro poderão ter como base o grafeno.

Já o Brasil está interessado em nanotecnologia aplicada à sustentabilidade, como novas abordagens para o tratamento de resíduos agrícolas.

“É uma vantagem cooperar com o Brasil. Esse projeto tem futuro”, definiu Chunli Bai, presidente da Academia Chinesa de Ciências (que tem status de ministro no país), em entrevista à Folha durante visita que fez a Campinas.

A China é o país que mais produz artigos científicos em nanotecnologia. “Queremos aumentar essa produção com parcerias internacionais e dar mais peso a áreas estratégicas”, completou Bai.

Fernando Galembeck, diretor de um dos laboratórios que integrarão a parceria, diz que a nanotecnologia “poderia ter avançado mais no Brasil”. “Um centro como esse poderá alavancar a área.”

O centro binacional terá a colaboração de pelo menos quatro laboratórios, localizados em São Paulo, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.

No lado chinês estarão alguns dos 117 institutos de pesquisa da Academia Chinesa de Ciências.
empate técnico

A academia gerencia hoje um orçamento de mais de R$ 6 bilhões por ano, ou seja, praticamente a mesma quantidade de recursos anuais do Ministério da Ciência e Tecnologia no Brasil.

“O governo chinês está investindo muito em ciência. Hoje temos 1,78% do PIB em pesquisas”, diz Bai –a porcentagem brasileira foi de 1,3% no ano passado.

A agenda de Bai no Brasil incluiu visitas a instituições de pesquisa nas áreas de saúde, energia, espaço e agricultura. Os chineses já sinalizaram interesse pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o que pode render novas parcerias.

Fonte:  BOL

9 Comentários

  1. “Uma das áreas de interesse da China é o grafeno, material obtido quando o grafite é fatiado em camadas muito finas, com apenas um átomo de espessura. Os eletrônicos do futuro poderão ter como base o grafeno.”

    “‘Já o Brasil está interessado em nanotecnologia aplicada à sustentabilidade, como novas abordagens para o tratamento de resíduos agrícolas.”!

    A China fica com os eletrônicos ( com alto valor agregado) e o Brasil com os resíduos agricolas

  2. O Brasil apesar de investir muito menos do que a China, tem importantes pesquisas na área de nanotecnologia e os chineses sabem disto, por isto toparam fazer este centro conjunto, pois sabem que também tem a ganhar.
    .
    Parece ser um parceria de ganha-ganha, já que a China está mais avançada em algumas áreas e o Brasil em outras, ninguém está fazendo favor para ninguém aí…

  3. Este sim, é um dos tipos de parceria que precisa ser acordado com a China o mais rápido possível. Já desperdiçamos muito tempo em alguns outros campos da ciência e tecnologia, provocando atrasos e prejuízos praticamente irreversíveis ao avanço tecnológico do nosso país. Portanto o GF tem que deixar de chorumelas e investir pesado nessa área tão significante para alavancar o futuro da indústria tecnológica de ponta do Brasil. Como resultado teremos no mercado produtos inovadores, melhores e mais baratos.

  4. Mt bom, cotizando o custo e < e os ganhos são bem maiores .Tanto um qto o outro estão interssados em td q a nonotecnológia possam dar , e em curto espaço de tempo. Esatamos certos. Time is money. sds.

  5. Muito bom!! O Brasil deve aproveitar essa oportunidade para dar um salto de conhecimento. Deveríamos tentar parcerias do tipo com os Chineses no campo espacial e de foguetes.

  6. Amigo Athos o Brasil já possui estudos sobre o grafeno e talvez queira trocar com a China algo que lhe interessa.
    Agora o grafeno já é muito importante e suas aplicações só aumentarão daqui para frente.
    Vejam esta entrevista do Ano passado

    A partir de 14 de dezembro, Belo Horizonte sedia evento internacional que tem entre seus convidados o recém-vencedor do Nobel de Física, Konstantin Novoselov, por estudos sobre o grafeno, material que deverá ser a estrela da eletrônica nas próximas décadas. “Ele havia confirmado presença, agora vamos torcer para que venha”, diz o professor Marcos Pimenta. Um dos coordenadores do Graphene Brazil, que vai reunir mais de uma centena de especialistas-líderes de todo o mundo, Pimenta está entre os pioneiros do país nesse campo. Na entrevista a seguir, ele fala sobre o estágio dessa pesquisa no Brasil.

    Como está o quadro da pesquisa sobre grafeno no país?

    Existem diversos grupos no Brasil pesquisando o grafeno. Há estudos teóricos em instituições como USP, UFRJ, UFF e o Centro Universitário Franciscano (Unifra), do Rio Grande do Sul. A UFMG e o CDTN possuem diferencial nesse panorama, pois produzem amostras de grafenos usando diferentes metodologias (esfoliação mecânica e química, e CVD, sigla em inglês para Deposição de Fase Vapor); realizam estudos experimentais e também iniciaram o desenvolvimento de aplicações.

    Qual a gênese desses estudos na UFMG?

    De certa maneira, foi uma extensão do trabalho que fazíamos com nanotubos de carbono. Desde 1998, resolvi abarcar linha de estudo também com grafite. Dois alunos de pós-graduação começaram então a pesquisar nanotubo e o chamado nanografite. Em 2004, finalizaram as teses. No mesmo ano foi publicado o trabalho de Andre Geim e Konstantin Novoselov, que agora recebeu o Nobel. Eles descobriram uma maneira extremamente simples de extrair uma única folha do grafite, o grafeno – material bidimensional formado por átomos de carbono.

    O Brasil reproduziu o experimento?

    Sim. Em 2004, o método mais usado consistia em esfoliar cristal de grafite para obter folha de grafeno. Não conseguíamos fazer boas amostras, até que o professor Elmo Alves, da UFMG, amigo de Andre Geim, enviou-lhe uma mensagem: “André, qual é o macete?”. Ele respondeu: usem o grafite de mina, natural. A Empresa Nacional de Grafite, sediada em Minas, cedeu seis amostras. Com uma delas fizemos folhas incríveis de grafeno.

    O método é o mesmo?

    Iniciamos com este método, mas com ele não é possível produzir grafeno em escala industrial. Hoje há três rotas alternativas e uma delas usa a esfoliação química, em lugar da mecânica. A outra consiste em produzir grafeno a partir de gases de carbono, que é o chamado CVD. A terceira via submete carbeto de silício a tratamento térmico: o silício vai embora e, com o carbono restante, é possível formar o grafeno.

    O processo é poluente?

    Não sabemos ao certo. Ainda são necessários estudos para dimensionar os impactos dessa terceira rota.

    Como esse material saiu dos laboratórios de física para o mercado?

    Talvez a grande motivação venha da busca de novos materiais para a eletrônica. Hoje, ela é toda baseada no silício, mas pesquisadores dizem que, dentro de cinco a dez anos, a área não conseguirá evoluir nessa direção. Há duas perspectivas: a eletrônica molecular, em que dispositivos serão feitos a partir de moléculas, e uma outra que usa materiais de carbono como o grafeno e o nanotubo. Mas o grafeno tem propriedades úteis para mais aplicações, como melhorar qualidades mecânicas e a condutividade térmica de materiais. Além disso, como é condutor de eletricidade e transparente, pode ser uma opção para telas touch screen no lugar do óxido de índio, metal raro na natureza. A Samsung está investindo violentamente nessa tecnologia com grafeno.

    Em 2008, com a aprovação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Nanomateriais, coordenado pela UFMG, o senhor disse que a ideia era analisar o trânsito de dados entre dispositivos de escalas natural e nanométrica, já que o comportamento da matéria é diferente nelas. Essa ainda é uma questão importante para vocês?

    Sim. O INCT tem duas linhas de pesquisa e produção de materiais: nanotubos e fulerenos, e grafeno. Já fizemos esfoliação em uma única folha de grafeno e, por meio de litografia, criamos um dispositivo eletrônico, um transistor.

    A técnica daqui representa o “estado da arte”?

    De certa maneira, sim, no domínio teórico. Mas não temos equipamentos tão sofisticados quanto no primeiro mundo, e isso é um fator limitante, que produz uma diferença razoável entre nós, sobretudo para fazer dispositivos em escala nano (o bilionésimo do metro). O projeto Sala Limpa, do BH-Tec, deverá melhorar nossa infraestrutura.

    A pesquisa do INCT tem alguma conexão com os premiados do Nobel?

    Novoselov já esteve na UFMG. Conhece nossas pesquisas e hoje trabalhamos com ele em estudos sobre tensão em grafenos. Ele já preparou e nos enviou amostra do material, que será tema de tese de aluna nossa. Além disso, Daniel Elias, que defendeu doutorado-sanduíche sobre grafeno, em 2009, na UFMG e na Universidade de Manchester, foi orientado por nosso grupo (Elmo e Flávio Plentz) e por Geim e Novoselov. Hoje, ele faz um estágio de pós-doutorado com eles, em Manchester.

    O que temos nesse campo que interessa aos estrangeiros?

    Recursos humanos. Temos recebido comissões da Europa e dos Estados Unidos, interessadas em atrair cérebros, em quantidade e qualidade. Além disso, o exterior percebe que o Brasil tem grande potencial para ser um ator importante na ciência.

  7. Pais serio desenvolve sua propria tecnologia, não é verdade? ha muitos elogios para o Irã nessa questão… agora, essa parceria ta parecendo acordo caracu… alguem ai acha que os chinas vão fornecer tecnologia sensivel aos brazucas, simplesmente pelos nossos belo e arregalados olhos?… e vcs sabem no que vai dar… nós vamos acabar somente pagando as contas… vide acordo Brasil/Ucrania, Brasil/Venezuela… Ah, sei, sou muito pessimista… saudações…

  8. A ideia é que os dois países entrem com a mesma quantidade de dinheiro no projeto. Ontem, em uma reunião em Campinas, o MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia) propôs R$ 4,7 milhões para os dois anos iniciais. Mas a China quer mais.
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    O valor final será acordado em viagem que o ministro Aloizio Mercadante (MCT) fará à China no próximo dia 22.
    ……………………………………….O bom destes acordos internacionais é que forçam o governo a investir mais. E principalmente, não cortar,nem contingenciar, as verbas já destinadas…

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