O significado das bases americanas na Colômbia

Régis Bonvicino

Observa Norman Davies que a história da expansão dos Estados Unidos, pela América do Norte, não se distingue, de forma nítida, da história da expansão das potências européias pela América do Sul, Ásia, África e Austrália, ao anotar que seu anticolonialismo e anti-imperialismo desapareceram no minuto seguinte à sua independência, em 1783, com o Tratado de Versalhes.

Informa ainda o historiador inglês que os Estados Unidos tinham adquirido, após a Segunda Guerra, um considerável conjunto de colônias ultramarinas, das Filipinas ao Havaí, de Porto Rico e Cuba, do qual não queriam desfazer-se. Acrescenta que “Franklyn Roosevelt – tal qual Winston Chuchill – não via nenhuma contradição nesse amálgama de democracia-imperialismo”.

Os Estados Unidos são – segundo Noam Chomsky – “um Estado fora da lei”. Barack Obama é um político ambivalente, astuto, escorregadio. Decreta o fechamento das bases de Guantánamo, em seu primeiro dia de governo, para deixar que, pouco depois, “a realidade” revele que o ato é inexeqüível; propagandeia que seu governo se dedicará à revitalização da classe média, mas, libera bilhões de dólares para bancos e empresas, que, por seu turno, pagam, em meio a uma depressão econômica, bônus milionários a seus executivos.

No México, essa semana, disse que “a tópica da imigração – mexicanos nos Estados Unidos – não é prioridade em 2009, em decorrência do debate sobre a universalização da saúde”. Ou seja, manterá a mesma política de seu antecessor, o qual, aliás, se nega a processar pelas notórias violações de direitos humanos e corrupção.

Uma corretora de imóveis do Estado de Virgínia, sua eleitora, disse, semana passada, que ele não apontou, em seis meses de gestão, rumos concretos, para a tal da classe média, que o elegeu, concluindo sentir-se “pungada”. Enganada, fraudada. O estilo pitbush, direto, feroz, de George Bush foi substituído por um estilo sofisticado, muito mais inteligente e sibilino, que atrai simpatias dos “sociais-hipócritas” da Europa. Em vez de anunciar o que vai fazer, faz e pronto, sem, inclusive, celebrar o feito, em público. Bush falava demais.

Não tenho dúvida que Manuel Zelaya foi deposto da presidência de Honduras com “logística” dos Estados Unidos, que, no entanto, afirmam, oficialmente, apoiar seu retorno ao cargo – algo impossível de ocorrer. Manuel Zelaya é um direitista que se converteu – por conveniências pessoais – ao chavismo, por meio dos irmãos Castro.

Descontrole da Amazônia brasileira

Não tenho dúvida que as sete bases norte-americanas a serem instaladas na Colômbia visam a controlar o petróleo da região. Além de serem, sobretudo, ponta de lança para o rastreamento da Amazônia brasileira (Base de Apiay), até o momento – prestem atenção – tratada como tema secundário pelo governo.

Sua única política foi, até agora, a de legitimar “pequenos” invasores de terra, e a de permitir o desmatamento e a pilhagem das riquezas naturais. É por isso que os debates sobre o aquecimento global consistem, na verdade, numa disputa por futuros territórios “ecológicos”, quase sem nenhuma preocupação com a vida, humana ou animal, com a flora. Essas cúpulas de G-X, G-Y não se importam com o desmonte da biosfera!

A iniciativa “colombiana” de Washington tem como alvo, do mesmo modo, minar, dividindo, a incipiente liderança brasileira na região, sob o pretexto de combater a guerrilha e o narcotráfico nas “selvas”.

As bases – mesmo apenas planejadas – já se aproximam de seu alvo: a Unasul – União dos doze nações da América do Sul, criada em 2008, sob influência brasileira. Em meio a uma recessão, os Estados Unidos enviaram mais de US$ 3 bilhões, a título de “ajuda” militar, para a Colômbia, até junho de 2009.

Barack Obama é o cara! Ele agregou à doutrina de “controle mundial” um “discurso” social-democrata. Sua arma é mais poderosa do que a do pobre George! (Os Republicanos dizem que Mr. Obama é “socialista”, o que só faz aumentar seu prestígio em Paris).  Obama precisa, inclusive, provar que é “mais realista do que o rei”, embora seja, de fato, melhor alternativa do que o ex-governador do Texas – uma réplica de Hitler E – pasmem – incluiu a América Latina em sua agenda, fazendo o contrário do que se supunha. Sua figura assoma na esquina. Lembro-me de, em janeiro, ter lido em Santiago, Chile, entrevista de Michele Bachelet, autodenominando-se a “Obama de saias”.

A depressão econômica é mais um pretexto para que os Estados Unidos acelerem seus movimentos expansionistas. É a manipulação da crise, que desagrada ao eleitor comum (a corretora da Virgínia), mas, mantém o Império vivo, geopoliticamente.

Venezuela e Colombia, Estados fora da lei

Todavia, a Venezuela é também um Estado fora da lei. Hugo Chávez mascara sua ditadura com eleições manipuladas. Tanto quanto os “ianques”, viola direitos humanos básicos, como o de livre expressão.

Associa-se, de acordo com a mídia, a narcotraficantes, apóia às FARC colombianas, que são o signo mais vivo do que se tornou o marxismo-leninismo, que foi do comunismo (em 1964) – hoje abandonado – à prática de crimes comuns, como o tráfico de drogas, armas, pessoas, órgãos, como qualquer máfia.

Alvaro Uribe deseja – como seu aparente antípoda Hugo Chávez – um terceiro mandato, no fundo, um mandato infindo: os dois são “eternos”.

A Colômbia é igualmente um Estado fora da lei, que viola os mais elementares direitos e – segundo a mídia – participa também do tráfico internacional de drogas. Em 2004, a revista norte-americana “Newsweek” publicou reportagem, ligando Uribe ao Cartel de Medellín. O capo Pablo Escobar financiou sua carreira política. A elite colombiana prefere Miami e Washington a Brasília.

Daniel Ortrega – presidente da Nicarágua – trocou o apoio de seus ex-guerrilheiros sandinistas pelo da oligarquia e pelo da igreja católica mais conservadora de seu país e chega ao ponto de perseguir o excelente poeta (padre) Ernesto Cardenal, um dos combatentes da ditadura de Anastacio Somoza (teleguiada pelos Estados Unidos) – derrubada em 1979.

O presidente do Equador é antiamericano, no entanto, a moeda oficial de seu país é o dólar! Evo Morales acaba de promulgar lei que permite às centenas de comunidades indígenas se autogovernarem, ou seja, trabalha pela fragmentação da Bolívia, já dividida pelas províncias separatistas – em tese, à sua direita.

Não há dúvida que os americanos – que tem base militar no Paraguai – tomarão conta do solo boliviano e de seus minérios, para “acabar com as plantações de coca”.

O Chile é um país alinhado, historicamente, aos Estados Unidos. Sebastián Piñera, da direita, vem aí, ainda este ano. Michele Bachelet é uma centrista, impotente.

Uma vez perguntaram ao escritor argentino Jorge Luis Borges como definia o peronismo, que domina seu país. Ele respondeu: “o peronismo não é bom, o peronismo não é mau, o peronismo é insuperável” (Cito de cabeça). La “pareja” Kirchner aumentou em US$ 10 milhões sua fortuna em seis anos de governo (dados oficiais).

Ao que tudo indica, a presença imperial norte-americana, na região, é, em termos simbólicos ou reais, insuperável, sobretudo pelo atraso de seus líderes, retóricos, frágeis. Cabe ao governo brasileiro impedir que Chávez entre no jogo de Obama (jogo que lhe é igualmente sedutor, pois o perpetuaria no poder) e não declare “guerra” à Colômbia. Caso contrário, a vocação expansionista e cruel dos gringos – esses bárbaros tecnológicos – vai encontrar terreno fértil de novo, sob o comando da réplica de Martin Luther King. Não se combate o atraso antidemocrático imperialista com o atraso do subdesenvolvimento. Há que se aprofundar, ao longo do tempo, o sempre descuidado império da lei na região (construir democracias sólidas, inclusive, aqui). Agora, com a fumaça no céu, tem que, no entanto, convidar Obama para um samba!

Colaborou Vinícius Mota

Fonte: Último segundo/Regis Bonvicino

4 Comentários

  1. É isso aíh, temos de impedir o luco chaves de dar “motivos” aos ianks, se bem controlado pode .O Brasil tem q se preparar p encontros por erros de rota dos ianks em nosso territorio, saídos de apiay…velha desculpas, e abater td e qualquer aviões em n espaço aereo…vão pensar 2 x , antes de entrarem no mesmo, e radares ao longo da “Border”=fronteiras Brasucas..Temos de mostrar q o negocio é serio e vai ter resposta. Pergunta:Estamos nos preparando , p td é qualquer “Incidênte” q venha a correr ? é na paz q se preprar p a guerra.. cuidado com os colombianos vendidodos, olho neles.

  2. Puxa! Estou de boca aberta!.Rapaz…E.M.Pinto, rapaz você não é pinto coisa nenhuma…você é Galo…E.M.Galo! Rapaz não acredito que você postou isto, os outros sites “militares” é que são pinto ou galinhas. Você não, você é Galo e faz jus ao sobrenome que tem. Muitos se acovardam e não comentam e nem postam o que você postou, com medo de não poderem conseguir matéria dos EUA, e também serem desclassificados na hora de algum empresário não gostar do artigo posto no site e não colocar propaganda no mesmo.
    Parabéns você mostrou que é macho e quem manda no seu site é você mesmo.Belíssimo artigo.
    Abraço!

    • Salve Fernando
      ehehe
      obrigado pelo elogio.
      O nosso compromisso é com a verdade, postamos e vamos postar aqui as mais diversas opiniões pois a razão da existência do blog é justamente gerar o debate e para isto é preciso ouvir de todos e de tudos, não apenas aquilo que nos convém
      muito obrigado pela participação
      grande abraço e bem vindo ao PB.

  3. Os ianks, estao certos! Estao prenchendo o vacuo de racionalidade e bom senso da regiao pelos seus interesses.
    E parabens por colocar este artigo. Ele e uma bofetada na inconciencia nacional.

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