Defesa & Geopolítica

EUA se propõem a combater crime na América Central

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Intenção, anunciada em comunicado conjunto com México e Canadá, pode acirrar mais as tensões com a América Latina

Discurso é o mesmo usado para justificar a ampliação da presença militar dos EUA na Colômbia, que causou dura reação sul-americana

CLÓVIS ROSSI

COLUNISTA DA FOLHA

Se se realizar a reunião entre Barack Obama e os presidentes da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), proposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva anteontem na cúpula do bloco em Quito, há mais chances de aumentarem os ruídos do que de ser amortecido o impacto do anúncio de bases colombianas a serem utilizadas por militares dos EUA.

Para saber por que, basta ler o trecho do comunicado emitido anteontem pelos três governantes da América do Norte (além de Obama, Felipe Calderón, do México, e Stephen Harper, do Canadá), no trecho que trata do crime organizado transnacional.

Começa dizendo que os três governos “reconhecem que não podem limitar seus esforços [no combate ao crime] apenas à América do Norte”. Emenda informando que instruíram os respectivos ministros a “empenhar-se para uma maior cooperação e coordenação na medida em que trabalhamos para promover a segurança e o desenvolvimento institucional com nossos vizinhos da América Central e do Caribe”.

A alegação oficialmente dada para o acordo em torno das bases colombianas é bastante semelhante a essa, qual seja a de “promover a segurança” (da Colômbia, no caso), por meio do combate ao terrorismo e ao narcotráfico, crimes de que é acusada a guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

É bom lembrar que, no Caribe e na América Central, ficam, respectivamente, Cuba e Nicarágua, dois dos outros sócios da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), cujos três presidentes na América do Sul (o venezuelano Hugo Chávez, o equatoriano Rafael Correa e o boliviano Evo Morales) foram os três mais estridentes na condenação do acordo entre EUA e Colômbia.

Narcotráfico

O que complica o eventual diálogo entre os “bolivarianos” e o governo dos EUA é que ninguém sério nega a necessidade de uma cooperação transnacional para enfrentar o mais transnacionalizado de todos os crimes, que é o narcotráfico.

Tanto é assim que a Unasul anunciou anteontem a criação de um conselho destinado a combater o narcotráfico, reconhecimento (de resto tardio) de que os países sul-americanos nem se coordenam suficientemente nem têm tido êxito, em suas próprias fronteiras, nesse tipo de combate.

Difícil discordar, por exemplo, do trecho do comunicado Obama/Harper/Calderón em que afirmam: “Redes criminosas transnacionais ameaçam todos os nossos três países”. Os 12 países da Unasul diriam coisa diferente a respeito deles próprios?

A força do crime ligado às drogas é tamanha que a polícia mexicana anunciou que prendeu líderes de uma gangue que planejava assassinar ninguém menos que o próprio presidente Calderón.

Seria uma resposta à guerra que o presidente mexicano desencadeou contra os cartéis do tráfico, envolvendo até o Exército. A propósito: são cada vez mais fortes os indícios de que essa guerra, embora muito longe de ser vitoriosa, está forçando os cartéis a deslocarem parte de suas operações para a América Central.

Tudo somado, um eventual diálogo Obama/Unasul colocará à mesa a pergunta: quem é o inimigo a combater, os EUA e seus “sete punhais apontados para a América do Sul” -como diz Fidel Castro, em referência ao número de bases colombianas em que os EUA poderão atuar- ou o narcotráfico?

Fonte: Serviço de comuniccação social do Exército

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