O Brasil ganha ou perde com Humala?

Por Mac Margolis CORRESPONDENTE DA “”NEWSWEEK”” NO BRASIL

Desde que venceu a eleição presidencial no Peru, Ollanta Humala corre para apagar seu passado. Foram-se as loas a Hugo Chávez e as frases sobre a socialismo do século 21. Hoje, Humala está cercado de políticos moderados.

Antes bolivariano, agora se confessa brasileiríssimo. Ouve conselhos de consultores petistas e espelha-se no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por quem professa admiração. Em seu primeiro giro internacional, fez questão de começar por Brasília, onde jurou zelar pela parceria sólida. O que o Brasil ganhará com isso é outra história.

A recauchutagem tem sua lógica. O Peru é o tigre dos Andes. Enquanto a Venezuela estagnou na última década, os peruanos crescem ao ritmo de 5,7% ao ano desde 2002, mais do que qualquer país da região. Sim, 8 milhões de peruanos vivem na miséria, mas a pobreza diminuiu nos últimos cinco anos, de 48% da população, em 2006, para 31% hoje.

Para aproveitar a bonança herdada, Humala sabe que precisa se reinventar rápido. Afinal, após sua vitória, a Bolsa de Lima caiu 12%, um recorde. Recuperou-se bem depois, mas os investidores seguem trêmulos. “Estou mais maduro”, garante o Humala versão 2.0.

Para o Brasil, há muito a perder. Ao longo das últimas décadas, Brasília aprofundou seus laços com Lima. Empreiteiras brasileiras constroem estradas, pontes e hidrelétricas no país vizinho.

A Odebrecht está à frente da estrada Interoceânica Sul, rodovia de US$ 1 bilhão que liga o Acre ao Oceano Pacífico. A Vale toca o projeto Bayóvar, mina de rocha fosfática, um investimento de mais de US$ 500 milhões. A Eletrobras, em parceria com a OAS, planeja erguer sete usinas hidrelétricas, para produzir 7 mil megawatts, boa parte destinados a clientes brasileiros.

O modo como o novo governo conduzirá esses projetos é alvo de intensa especulação, mas as dúvidas já pairam. O presidente atual, Alan García – talvez por deferência ao novo governo, talvez para criar-lhe embaraço -, acaba de suspender concessões de mineradoras estrangeiras e de hidrelétricas da Eletrobras, ambas alvos de protestos locais. A encrenca fica para seu sucessor.

Bayóvar, mina de rocha fosfática

Da sua parte, Humala, como Lula em 2002, diz que honrará todos os contratos vigentes. Ao mesmo tempo, adverte que os investimentos estrangeiros terão de passar pelo crivo do povo, via “consulta popular”. Soa simpático, mas para quem apostou suas economias no lado andino do continente, causa arrepios.

Pudera. Na Bolívia, Evo Morales, que se dissera irmão menor de Lula, empunhou a bandeira da causa indígena e enviou tropas para encampar refinarias, para prejuízo da Petrobrás. Em 2008, o Equador seguiu o exemplo e expulsou a Odebrecht numa disputa contratual (superada no ano passado) e recorreu à Câmara de Comércio para impugnar um empréstimo do BNDES de US$ 243 milhões.

Com a economia em alta e os cofres cheios, será fácil para Humala agradar a todos. Reza a história recente que o prazo de validade dos líderes dessa nação andina tende a ser curto. É algo que o novo Humala não deve esquecer.

Fonte: O Estado S.Paulo

8 Comentários

  1. O Brasil ganha. Humala sabe que não pode ser populista como Alan Garcia foi no primeiro governo, nem como Chavez é, pois ambos não decolaram.
    As parcerias com o Brasil crescerão, até para evitar o aprofundamento do casamento Brasil/Argentina/Chile, que daria uma nova saída para o Pacífico (em planejamento).
    A relação crescerá também por causa da intensificação da guerra ao narcotráfico.
    O Mac Margolis, correspondente da Newsweek, aposta (digamos, insinua) o contrário, por razões (americanas) óbvias.

    Humala sabe que tem tudo a ganhar aliando-se ao Brasil, e tudo a perder, inclsive em casa, não o fazendo.

  2. Concordo com AJ, por que não ganharíamos com esta relação?
    O Brasil está investindo até na África e nos EUA à procura de novos campos de petróleo e outras áreas. Energia , estradas , combate ao tráfico, agricultura , pesca, intercâmbio militar, construção civil, há uma infinidade de setores para estreitarem uma boa amizade.
    A política brasileira não é como a de alguns : falsa, mentirosa, gananciosa, estrangulante.
    Se houver transparência os dois ganham.

  3. Se nós ganharemos ou não eu não sei, mas o socialismo sul americano com certeza ganhou.
    P.S.: Não sou socialista, não defendo movimentos cujos membros, ao chegar ao poder, se acham no direito de usar a maquina pública a favor de ideologias as quais os seus eleitores não compartilham, sendo omissos com os deveres inerentes ao seu ofício de zelar pelo bem estar e interesse de quem o elegeu, ao invés de se omitir e usar de prerrogativas falsas ou incabíveis para justificar as atitudes dos seus membros.
    A exemplo o aumento da tarifa de energia de itaipu, a nacionalização sem indenização das refinarias da petrobrás, o abrigo das farc na amazônia brasileira, as violações feitas pela venezuela em nosso espaço aéreo e outros.

  4. Muito bem colocado pelo Felipe – “não defendo movimentos cujos membros, ao chegar ao poder, se acham no direito de usar a máquina pública a favor de ideologias as quais seus eleitores não compartilham, sendo omissos …e usar de prerrogativas falsas ou incabíveis para justificar as atitudes dos seus membros”.
    Perfeito, peço licença ao Felipe para, oportunamente, usar seu dizer. Certamente não faltará oportunidade.

  5. quem mais ganhou foi o peru,oa autra candidata éra uma oportunista,que não mostrou trabalho,competencia,mesmo assim levou muitos votos,o pai dela saiu corrido do pais acusado de falcatruas,e mesmo assim vem a filha aventureira,e o povo idiota derrama seus votos a uma japonesa opurtunista,que não ta nem ai com o bem estar do pais e do povo peruano,não é só no brasil que o povo não sabe votar.

  6. NOVAS POTÊNCIAS REDEFINE A GEOGRAFIA ECONÔMICA
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    Para quem gosta de geopolítica taí uma boa dica de fonte de pesquisa.
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    “(…)O sistema internacional do século XXI tem se apresentado cada vez mais descentralizado e dotado de uma multiplicidade de pólos de decisão. Esse novo equilíbrio, sobre o plano histórico representa o fim de um longo ciclo de preponderância ocidental. O policentrismo que vem se afirmando nos últimos anos implica não somente numa distribuição internacional mais eqüitativa das riquezas, mas também tem sinalizado para importantes modificações no âmbito geopolítico.(…)”

    *****(fonte-pangea mundo)
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    http://www.revistapangea.com.br/show_news.asp?n=391&ed=4

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