Edilson Pinto
Concepção Artistica do navio patrulha fluvial , meramente ilustrativa – elaborada por Plano Brazil.
A Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON), em parceria técnica com as Marinhas do Brasil, da Colômbia e do Peru, conduz atualmente a elaboração do projeto básico de engenharia do Navio-Patrulha Fluvial Amazônico, um programa trinacional de alta relevância estratégica para a segurança e o desenvolvimento sustentável da Bacia Amazônica.
A fase de levantamento e definição de requisitos já foi concluída, abrindo caminho para o detalhamento técnico, seleção de fornecedores e, em seguida, a fase de construção. O esforço conjunto busca fornecer às forças navais da região uma embarcação adaptada às condições dos grandes rios amazônicos, com capacidade de patrulha, fiscalização, combate a ilícitos transfronteiriços e apoio humanitário às comunidades ribeirinhas.
O objetivo principal do programa é garantir presença e soberania nos grandes cursos d’água amazônicos, desempenhando missões de controle de fronteiras, combate ao tráfico e contrabando, fiscalização ambiental e ações de busca e salvamento (SAR).
Além disso, o navio deverá apoiar comunidades ribeirinhas e participar de operações de cooperação trinacional, reforçando a interoperabilidade entre Brasil, Colômbia e Peru, especialmente na região conhecida como Trapézio Amazônico, ponto de convergência territorial dos três países.

A colombiana Cotecmar possui experiência com as Patrulheiras de Apoio Fluvial Pesadas (PAF) usadas pela Armada da Colômbia. A nova versão, de quarta geração, será produzida no país, equipada com heliporto para helicóptero médio e estações de armas remotas , desenvolvidas nacionalmente para proteger o operador contra fogo inimigo.
Frota Atual
A Marinha do Brasil mantém uma frota de navios-patrulha fluvial especialmente concebida para operar nas águas interiores do país, com destaque para a Amazônia, onde a presença naval é essencial para a defesa, fiscalização e apoio às comunidades ribeirinhas. Essa frota é composta por três classes principais, a Piratini, a Pedro Teixeira e Roraima, que se complementam em capacidade operacional, alcance e autonomia, garantindo a vigilância e a soberania sobre as vias navegáveis nacionais.
A Classe Piratini reúne embarcações leves e ágeis, empregadas principalmente na patrulha costeira e ribeirinha de curta e média duração. São navios com cerca de 28 m de comprimento, deslocamento aproximado de 180 toneladas, calado raso e autonomia para até 1500 milhas náuticas. Utilizam motores diesel de alta eficiência, atingindo velocidades de até 20 nós, e são armados com metralhadoras de 20 mm e 12,7 mm, adequadas para o combate a ilícitos e ações de policiamento naval. São eles, o P-10 “Piratini”, P-11 “Pirajá”, P-12 “Pampeiro”, P-14 “Penedo” e P-15 “Poti”.
A Classe Pedro Teixeira, por sua vez, é composta por navios de maior porte, concebidos para operações prolongadas na Amazônia fluvial. Com 63,3 m de comprimento, 9,7 m de boca, calado de 1,7 m e deslocamento de aproximadamente 690 ton, essas embarcações possuem quatro motores diesel com potência total de cerca de 4800 hp, que lhes conferem velocidade máxima de 16 nós e autonomia superior a 5000 milhas náuticas. São equipadas com canhões Bofors de 40 mm, metralhadoras automáticas de 20 mm e .50, além de morteiros leves, o que lhes garante capacidade de dissuasão e defesa em operações ribeirinhas. As unidades P-20 “Pedro Teixeira” e P-21 “Raposo Tavares” atuam principalmente nos rios Negro, Solimões e Amazonas, realizando missões de fiscalização, combate a ilícitos e apoio logístico às comunidades locais e às Forças Armadas.
Mais moderna, a Classe Roraima representa a renovação tecnológica da patrulha fluvial brasileira. Projetada para garantir maior mobilidade, conforto operacional e eficiência energética, cada unidade possui aproximadamente 47 m de comprimento, deslocamento em torno de 350 ton, autonomia superior a 3000 milhas náuticas e velocidade máxima de 18 nós. São equipadas com armamento modular, incluindo canhões automáticos de 30 mm e metralhadoras pesadas, além de modernos sistemas de navegação e comunicação. As três unidades o P-30 “Roraima”, P-31 “Rondônia” e P-32 “Amapá”ampliam a presença da Marinha nas fronteiras fluviais do Norte, reforçando o controle territorial e a proteção dos recursos naturais.
Além das missões militares, toda essa frota atua em ações cívico-sociais, apoio a operações humanitárias e transporte de suprimentos para comunidades isoladas, fortalecendo a integração nacional e a presença do Estado nas regiões mais remotas.
Em um contexto de crescente importância geopolítica da Amazônia e aumento das atividades ilegais nas fronteiras ribeirinhas, os navios-patrulha fluvial da Marinha do Brasil são ferramentas fundamentais para garantir a soberania, a segurança e o desenvolvimento sustentável da região.
Com investimentos contínuos e projetos conduzidos pela EMGEPRON e pelo Centro de Projetos de Sistemas Navais (CPSN), a Marinha avança na modernização dessa flotilha, buscando assegurar os meios mais eficientes, autônomos e integrados às necessidades operacionais do século XXI.
O Projeto
Segundo informações oficiais da Marinha do Brasil e da própria EMGEPRON, o Projeto Básico de Engenharia encontra-se em desenvolvimento. A etapa de requisitos foi finalizada, consolidando as especificações funcionais que orientam o desenho naval e a escolha dos sistemas embarcados. O programa decorre de uma série de acordos e entendimentos regionais iniciados ainda na década de 2010, que visavam criar uma embarcação de patrulha fluvial com emprego coordenado entre as três nações amazônicas supracitadas.
O cronograma preliminar apresentou o período entre 2014 e 2016 onde foram conduzidas discussões bilaterais e trilaterais sobre o conceito do navio e as bases de cooperação. A partir da conclusão dessa fase de requisitos, a EMGEPRON avançou no projeto básico, que definiu a arquitetura naval, arranjos gerais, esquemas de propulsão e capacidades operacionais. Atualmente o programa encontra-se na fase de elaboração do Projeto Detalhado, e seleção de fornecedores e da escolha dos estaleiros responsáveis pela construção.
O Navio-Patrulha Fluvial Amazônico deverá ter deslocamento estimado entre 300 e 600 ton, comprimento entre 40 e 70 metros, e calado reduzido, adequado para navegação em rios com profundidade variável.
Item | Especificação (NPaFlu — referência: patrulheiro fluvial) |
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Tipo | Navio-Patrulha Fluvial (NPaFlu) — patrulha ribeirinha/amazônica |
Deslocamento | ~ 690 t (padrão) — até ~900 t (plena carga) (aprox.) |
Comprimento (LOA) | ~ 63,3 m (aprox.) |
Boca (largura) | ~ 9,7 m (aprox.) |
Calado | ~ 1,6 – 1,8 m (projetado para águas rasas) |
Propulsão | Motores diesel (múltiplos conjuntos de propulsão); potência combinada na casa de milhares de HP (ex.: configuração 4× diesel — valor exato varia por navio). |
Velocidade máxima | ~ 16–18 nós (aprox.) |
Autonomia / Raio de ação | ~ 4000–5000 milhas náuticas (em velocidade econômica; valor referencial) |
Tripulação | ~ 60 a 80 (dependendo da missão e configuração) |
Capacidades embarcadas | Embarcações de assalto/inspeção (RIBs), botes de serviço; espaço para tropas/força de inspeção ribeirinha. |
Armamento típico | Canhão de médio calibre (ex.: 40 mm), metralhadoras pesadas (.50 cal), metralhadoras 20–12,7 mm, e eventualmente morteiro leve — configuração varia conforme missão. |
Sensores / Eletrônica | Radar de navegação/curta distância, sistemas de comunicações VHF/HF, sistema óptico-térmico para vigilância; sistemas de navegação modernos (GPS/INS). |
Proteção / Blindagem | Proteção limitada; projetado para operações de policiamento e controle, não combate naval pesado. |
Missões principais | Patrulha fluvial, fiscalização (combate a pesca/garimpo/contrabando), controle de fronteira ribeirinha, busca e salvamento (SAR), apoio a operações de segurança e transporte logístico regional. |
Características operacionais | Fundo e casco otimizados para águas rasas; grande autonomia de permanência em área; boa capacidade de embarque/desembarque de equipes; sistema de comunicações para coordenação com unidades terrestres/ribeirinhas. |
Observações | Valores concretos (potência exata dos motores, deslocamento em plena carga, sensores específicos e arranjos de armamento) variam por navio e por projeto — alguns detalhes não são sempre divulgados publicamente. |
A propulsão provavelmente será composta por motores diesel de média potência, com hélices protegidas, garantindo manobrabilidade e operação segura em águas rasas. A velocidade de cruzeiro deverá variar entre 12 e 22 nós, suficiente para patrulhas fluviais prolongadas.
A embarcação contará com autonomia para missões de vários dias ou semanas, dependendo da capacidade de suprimento e combustível. A tripulação será enxuta, entre 20 e 50 militares, com espaço adicional para equipes de missão, como fuzileiros navais, médicos e agentes ambientais.
O armamento previsto inclui estações remotamente operadas com metralhadoras de 12,7 mm e possivelmente canhões leves de 20 a 30 mm, priorizando dissuasão e controle de ameaças assimétricas. O conjunto de sensores e comunicações deverá incorporar radares de navegação e vigilância, sistemas optrônicos EO/IR, comunicações VHF/UHF e satelitais, além de integração com os sistemas de comando e controle das três marinhas.

Elaboração do Projeto Básico de Engenharia em conjunto com a Armada da Colômbia e Marinha de Guerra do Peru. Já foi realizada a etapa de requisitos. (imagem ENGEPROM).
Outros recursos incluem lanchas rápidas embarcadas, convés modular para missões específicas e uma plataforma para pouso de helicópteros leves ou para evacuação médica.
O projeto industrial poderá envolver empresas como a Cotecmar, da Colômbia, que possui experiência comprovada no desenvolvimento de patrulheiros fluviais (PAF), e que já foi citada em discussões iniciais sobre o conceito do navio.
No Brasil, o Centro de Projetos de Sistemas Navais (CPSN) tem histórico de entregar projetos básicos, como o do NPa-500BR, reforçando o papel da EMGEPRON como integradora do processo.
Entre os principais desafios técnicos do programa estão o calado variável dos rios amazônicos, a logística de manutenção em áreas remotas.
Enquanto os dados finais não são divulgados, o Navio-Patrulha Fluvial Amazônico já se consolida como um projeto estratégico de integração regional, que fortalecerá a presença estatal na Amazônia, ampliará a capacidade de fiscalização e defesa fluvial e representará um símbolo de cooperação entre as marinhas do Brasil, Colômbia e Peru.
Fonte
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Projeto Básico do Navio-Patrulha Fluvial Amazônico — EMGEPRON —[LINK]
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Marinha do Brasil reforça cooperação com Colômbia e Peru na Amazônia — Marinha do Brasil —[LINK]
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EMGEPRON conduz novos projetos de engenharia naval — Tecnodefesa —[LINK]
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Brasil, Colômbia e Peru discutem patrulha conjunta na Amazônia — Naval.com.br —[LINK]
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Programas NPa-500BR e PRONAPA — CPSN entrega projetos básicos à EMGEPRON — SINAVAL —[LINK]
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Cooperação Amazônica e Operação BRACOLPER — Agência Marinha —[LINK]
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Cotecmar apresenta soluções para patrulha fluvial na Amazônia — Revista Operacional — [LINK]
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Análise técnica de patrulheiros fluviais na América do Sul — Infodefensa —[LINK]
- Integração naval trinacional na Amazônia: desafios e oportunidades — DefesaNet — [LINK]
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