A estatal sul-africana Armscor anunciou ter selecionado um fornecedor preferencial para a nova frota de veículos blindados de transporte de pessoal (APC), voltados para operações de segurança nas fronteiras do país. O projeto visa substituir os atuais veículos não blindados utilizados pela Força de Defesa Nacional da África do Sul (SANDF) e reforçar o patrulhamento em áreas consideradas vulneráveis a travessias ilegais, contrabando e incursões armadas.

Segundo informações, a decisão foi confirmada por Liziwe Nkonyana, chefe de comunicações corporativas da Armscor, após mais de um ano de análises técnicas e revisões de requisitos. O contrato, ainda pendente de aprovação financeira pelo Exército sul-africano, pode envolver até 500 veículos, representando uma das maiores aquisições de defesa terrestre do país nos últimos anos.

Estrutura do programa

O processo, identificado como ELWS/2024/71, prevê três configurações principais:

• 210 veículos de seção para patrulhas padrão;

• 144 postos de comando para controle e comunicações;

• 108 ambulâncias blindadas para evacuação médica.

Cada unidade deverá suportar 13,5 toneladas de peso bruto e carregar ao menos 1,5 tonelada de carga útil, incluindo tropas e equipamentos. As exigências de proteção seguem o padrão NATO STANAG Nível 1, contra projéteis de 7,62x51mm e 5,56mm, e Nível 2 de resistência antiminas, capaz de resistir à detonação de até 6 kg de explosivos sob o casco.

Esses parâmetros refletem o ambiente operacional das fronteiras da África do Sul — áreas de baixa a média intensidade de ameaça, onde os principais riscos envolvem armas leves e artefatos explosivos improvisados, e não combate convencional.

Cronograma e orçamento

As licitações foram encerradas em 23 de agosto de 2024, com previsão inicial de entregas a partir de 15 de março de 2025. No entanto, o cronograma foi prorrogado diversas vezes para ajustes técnicos e revisões de especificações. O último prazo de validade das propostas foi estendido até 30 de setembro de 2025.

O Tesouro Nacional destinou R$ 500 milhões no orçamento de 2024/2025 para financiar o programa, que busca garantir presença permanente das forças terrestres ao longo dos 4.800 quilômetros de fronteiras sul-africanas, que incluem regiões áridas na Namíbia, o Parque Nacional Kruger, a fronteira com Moçambique e o litoral do Oceano Índico.

Veículos candidatos

Sete empresas nacionais foram convidadas a participar do processo, iniciado com uma Solicitação de Informações (RFI) em janeiro de 2023. Os participantes confirmados foram:

• DCD Protected Mobility – com a família Springbuck de veículos 4×4, incluindo as variantes SD, HD e Multiplataforma. O modelo mais leve, o Springbuck SD, de 9 toneladas, transporta 1,5 tonelada e utiliza motor MWM 6.45L turbo diesel, com 194 cv. O Springbuck HD, mais pesado, leva até 10 ocupantes e oferece proteção balística nível B6.

• OTT Solutions – apresentou o Puma M36 Mk6 4×4, com casco em V e motor Mercedes-Benz OM926LA de 7,2 litros, 205 kW de potência e 1.200 Nm de torque, acoplado a transmissão Allison automática. Pode transportar dez pessoas a mais de 100 km/h.

• Paramount Group – propôs o Maatla 4×4, um veículo leve com tecnologia de piso modular “Smart Floor”, capaz de mudar rapidamente de função entre transporte, comando ou evacuação.

• Integrated Convoy Protection e Automotive Investment Holdings – ofereceram o Reva V, veículo de 16 toneladas e 3,5 toneladas de carga útil, com casco monocoque de aço duplo e capacidade para dez soldados.

• SVI Engineering – concorreu com o Max 3, montado sobre o chassi do Toyota Land Cruiser 79, com motor V8 turbodiesel de 4,5 litros (151 kW), blindagem aparafusada e velocidade máxima de 140 km/h.

• Twiga – inscreveu o Nyati APC, veículo mais pesado voltado a missões de combate.

• Milkor – apresentou um 4×4 sem nome, projetado para alta resistência a minas e custos reduzidos.

A Denel, tradicional empresa de defesa do país, também foi listada como participante, embora detalhes de sua proposta não tenham sido divulgados, em meio ao processo de reestruturação interna e foco crescente em exportações.

Perspectivas e impacto industrial

A identidade do licitante preferencial não foi oficialmente revelada pela Armscor, mas fontes do setor indicam que o anúncio poderá ocorrer assim que o Exército liberar os fundos necessários. A expectativa é que as primeiras 60 unidades sejam produzidas no prazo de um ano após a assinatura do contrato, com a totalidade da frota sendo entregue em até quatro anos.

A produção deve ocorrer principalmente em Gauteng, envolvendo subcontratados locais e ampliando a cadeia de fornecimento da indústria de defesa sul-africana. O programa também se alinha à meta de aumentar o conteúdo local e gerar empregos qualificados, especialmente em oficinas mecânicas e de blindagem.

Contexto militar e estratégico

O novo programa substitui os Toyota Land Cruisers utilizados provisoriamente pela SANDF, que oferecem pouca proteção a emboscadas e explosivos. Com menos de 40 mil efetivos, as forças terrestres sul-africanas enfrentam desafios logísticos para patrulhar fronteiras extensas e múltiplos pontos de entrada ilegais.

Além das missões de fronteira, a SANDF mantém presença em operações regionais, incluindo a Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) em Moçambique e a participação em operações de paz na República Democrática do Congo.

A aquisição dos novos APCs também ocorre em paralelo a outro programa da Armscor — o EWSD/2024/18, que busca veículos 6×6 especializados para as Forças Especiais. Os modelos cotados incluem o Max 9, da SVI Engineering, e o TAC-6, da Armormax, com capacidade de 5 toneladas de carga útil e suspensão independente.

Próximos passos

Com a aprovação financeira esperada para as próximas semanas, o anúncio oficial do vencedor poderá ocorrer antes do final de 2025. A expectativa é que os primeiros veículos sejam apresentados publicamente durante a próxima Feira Aeroespacial e de Defesa da África do Sul (AAD), prevista para 2026.

A conclusão do programa marcará um reforço significativo na capacidade de patrulha de fronteiras do país e um passo importante para revitalizar a indústria nacional de defesa, em meio a restrições orçamentárias e à necessidade de modernização das forças armadas sul-africanas.