Análise: Novo sistema de Defesa Antiaéreo Norte Coreano

E.M.Pinto


Desde a Guerra da Coreia, a RPDC fundamentou a sua doutrina para priorizar proteção do espaço aéreo e resistência a campanhas de superioridade aérea. A geografia (relevo e zonas de concentração) e a ênfase política em autossuficiência reforçam uma aposta em sistemas móveis, camuflados e distribuídos territorialmente de modo a reduzir a vulnerabilidade a ataques de precisão, desta forma, permite a formação de bolsões A2/AD. Esses fatores justificam esforços caros em modernização, mesmo sob restrições econômicas.

Nesse sentido, o sistema KN-06 (Pongae-5) mostrou a intenção de dotar a RPDC com um sistema de longo alcance que com alta mobilidade, com radar de matriz faseada (PESA) e lançadores verticais (TEL) sobre caminhões.

Por diversas vezes estes sitemas foram demonstrados ao público durante os testes que ocorreram entre 2011 e 2017 e as estimativas baseadas nos resultados dos disparos demonstram capacidades de alcance operacional em ordens de centenas de quilômetros (etre 100km a 250km). Embora o KN-06 seja considerada uma variante local que mescla características dos sistemas S-300/HQ-9, a maturidade de produção em massa e a eficiência logística continuam incertas segundo o  Missile Threat CSIS.

Entratanto ensaios recentes apontam para melhorias nos sistemas com ampliação de seus alcances declarados por fontes locais entre 400 a 600km , isso se deve a introdução do novo sistema Pyoljji-1-2 / Meteor-1-2, uma nova arma que busca ampliar a capacidade de manobra e o  alcance operacional dos sistemas de defesa Antiaéreo da Coreia do Norte

Exibido em desfiles de 2020, 2021 e 2024, o míssil base claramente possui dois estágios com oito superfícies móveis (“twin-rudder”) e quatro asas fixas, desenho que, em princípio, oferece melhor manobrabilidade e alcance que o KN-06, aproximando-o de conceitos modernos de interceptação contra alvos manobráveis e possivelmente contra aeronaves com baixo RCS.

O radar de engajamento do Lightning-5 (canto superior esquerdo) é claramente do tipo PESA (matriz de varredura eletrônica passiva) e assemelha-se ao do SAM S-300 (canto superior direito). O míssil (embaixo) também se assemelha bastante aos mísseis S-300. (Imagens: Tianran Xu [canto superior esquerdo], AusAirPower [canto superior direito] e Agência Central de Notícias da Coreia (KCNA)

A RPDC também apresnetou evolução nos radares de aquisição/engajamento associados a esses sistemas. Ainda assim, a extensão da dotação em campo e a confiabilidade operacional em larga escala não foram conclusivos pelos analistas Sul coreanos que acompanham e rastreiam estes testes de perto.

Porém, em 2024–2025 a Coreia do Norte expôs  novos protótipos e testes que visaram especificamente defesa contra drones e mísseis de cruzeiro; episódios noticiados em 2025 (agosto) os quais confirmam lançamentos e demonstrações de “resposta rápida” contra alvos múltiplos. Esses eventos sinalizam continuidade do programa e possível priorização contra ameaças de baixa assinatura/baixa altitude.
Esses eventos podem não ter muito significado a primeira vista, ams as modificações severas observadas nos mísseis e mesmo nos seus sisteams de radares, demonstram que os norte coreanos podem ainda não terem alcançado os seus objetivos, dados que as mudanças são significativas e apontam para a natureza e capacidade dos sistemas que detsa forma cpodems er melhor avaliadas.

O radar de engajamento do Lighting-5 apareceu em um documentário da KCTV em janeiro de 2015. Esses radares também podem ser compatíveis com mísseis de comando de rádio antigos, como o S-75 e o S-125 . (Imagem: KCTV)

Na corrida pelo domínio da desefa aérea na península da coreia , a Coreia do Sul responde com um portfólio de defesa em camadas e com sistemas M-SAM (Cheongung) com variantes hit-to-kill, L-SAM, avaliado e considerado operacional em 2024 com produção já iniciada e  L-SAM II (P&D) que está em desenvolvimento e que busca engajamento de alvos em maiores altitudes.
mesmo com o desenvolvimento dos seus próprios sistemas a Coreia do Sul trabalha paralelamente com integrações dos sistemas Patriot, THAAD e sensores Aegis. Esse arranjo segundo o ministério da defesa sul corean, busca reduzir a probabilidade de penetração através de sobreposição de zonas e fusão de sensores, buscando neutralizar a capacidade A2/AD norte-coreano.

O Meteor-1-2 tem um layout geral que lembra o míssil Stunner de Israel. (Imagens: KCTV [esquerda], KCNA [direita] e War Zone [míssil Stunner])

Este arranjo se deve ao fato de que a RPDC pode não igualar tecnologicamente o Sul em todos os parâmetros, o jogo tático passa por desequilibrar assimetricamente a capacidade de defesa aadotando uma estratégia de saturação (numero/variedade de vetores: UCAVs, mísseis de cruzeiro, SRBM) e posicionamento (TEL móveis, redes redundantes) para esgotar as capacidades dos interceptores Sul coreanos o que por si exige o emprego alargado de armas standoff como forma de neutralizar a ameaças,. Ocorre que estas armas por sua vez exigem ainda mais o emprego de sistemas de entrega, caças, navios, mísseis de cruzeiro e enxames de drones, algo que exigirá que a Coreia do Sul dispenda de recursos excessivos e   caros.

Tendo isto em vista, a Coreia do Sul foca em sua estratégia no emprego de interceptores mais baratos por engajamento (ou com maior probabilidade de sucesso), em C2 resiliente e em sensores distribuidos para priorizar alvos e economizar munição.

Estas estratégias trazem porém algumas implicações para a coreia do Sul. em primeiro lugar, ela estabelece uma dissuasão local em favor da Coreia do Norte, que mesmo sem paridade plena, sistemas como KN-06 e Meteor-1-2 aumentam o custo e o risco de operações aéreas contra alvos norte-coreanos.

Há um risco de escalada devido à erro de cálculo que podem abalar o frágil cessar fogo, pois  testes frequentes em proximidade de ativos aliados tornam a península suscetível a incidentes, exigindo estratégias de gestão de crise dos quais ambas nações não estão preparadas para suportar.

Por último e não menos importante, o grande salto dado pela coreia do sul neste quesito ao desnevolver avançados sistemas de defesa aérea autoctones, despertou na Coreia do Norte a necessidade de buscar no exterior as cooperações para fazer frente a defsageme para tal acredita-se que não declaradamente, China e Rússia estejam colaborandopara o desenvolvimento de novos sistemas avançados através intercâmbio tecnológico e que podem acelerar capacidades. As cooperações com o Irã já conhecidas não traziam desequilíbrio a até então, porém Rússia  China podem ter desencadeado uma colaboração mais contundente e isso pode se observar nas últimas variaçoes observadas no sistema  Meteor 1-2.

Radares de engajamento do Lightning-5 (esquerda) e do Meteor-1-2 (direita). Os conjuntos de antenas de ambos os radares foram elevados à posição de trabalho, mas parecem estar travados em ângulos diferentes. (Imagens: KCNA)

Para entender como isso é impactado, vale ressaltar que o sistema de defesa aérea da Coreia do Norte organiza-se em diferentes camadas, cada uma com funções específicas e vulnerabilidades próprias.
A camada baixa (0–5 km) é composta por artilharia antiaérea, MANPADS e sistemas de curto alcance, para neutralizar esta defesa é ideal que o atacante busque saturar a rede com enxames de drones e mísseis de cruzeiro de baixo RCS. Os principais pontos fracos dessa camada são em geral a dependência de sensores ópticos/IR isolados, que têm dificuldade em leitura devido às anomalias de leitura promovidas pelo terreno, além disso, e vulneravel aos ataques de guerra eletrônica e iscas.
A prioridade de SEAD/DEAD nesse nível é neutralizar radares de aquisição de curto alcance, postos de comando locais e centros de comunicações.

Na camada média (5–30 km), é onde atuam sistemas como algumas variantes do M-SAM e o KN-06, o desafio do atacante é penetrar com aeronaves táticas, UCAVs e mísseis manobráveis. O KN-06 depende fortemente da correlação de radar, e a limitada integração da rede norte-coreana abre brechas para ataques de guerra eletrônica e cibernética, além de ações SEAD de alta precisão.

As prioridades aqui são degradar radares de engajamento (PESA/AESA), atacar TELs móveis durante movimentações e suprimir enlaces de dados, evitando a redistribuição de rastreamento.

A camada alta e de longo alcance (30–200+ km), que inclui sistemas como Pyoljji-1-2, Meteor-1-2, L-SAM e até coberturas de sistemas externos como THAAD/Aegis, tem como missão negar acesso a grandes áreas e proteger pontos estratégicos. Contudo, os radares de longo alcance que sustentam essa rede são alvos prioritários, se a Coreia do Norte não dispuser de redundância ou de uma rede distribuída e resiliente, a perda de alguns nodos compromete fortemente a eficácia do sistema.

O foco de SEAD/DEAD nessa camada é atacar radares de alerta antecipado e centros de fusão de dados, empregar armas stand-off de alta precisão contra TELs em depósitos e usar guerra eletrônica para cegar ou saturar sensores estratégicos.

Porém estas não são as únicas linhas defensivas, há ainda uma camada transversal (EW/Cyber/Intel), voltada à guerra eletrônica, spoofing, ataques cibernéticos e operações ISR. Seu objetivo é degradar a coordenação e a cadeia de comando do inimigo.

Se o sistema C2 da Coreia do Norte não for altamente resiliente, as ligações de rádio e enlaces sem redundância tornam-se pontos críticos a explorar. Nesse caso, a prioridade é conduzir campanhas de guerra eletrônica contra radares de aquisição e enlaces de comunicação, além de utilizar ISR e AWACS para mapear a movimentação de TELs e identificar posições de bateria.

Em termos práticos, as prioridades de SEAD/DEAD seguem uma ordem de impacto tático onde:

O primeiro visa obter inteligência precisa sobre a localização de radares, TELs e depósitos e depois, neutralizar radares de aviso e engajamento com mísseis antirradar, bombas guiadas e guerra eletrônica; em seguida, eliminar TELs móveis ou concentrados com armamento de precisão stand-off. Posteriormente, degradar os enlaces de comando e controle para impedir reações rápidas e, por fim, sustentar pressão com ataques de saturação utilizando drones e decoys, forçando o esgotamento dos interceptores.

Durante a celebração do 75º aniversário do Partido dos Trabalhadores da Coreia (WPK), em 2020, o novo sistema foi apresentado como sistema de defesa aérea Pongae-6, atualmente identificado como Pyoljji-1-2 ou Meteor-1-2. Esse sistema possui um desenho inovador, sendo um míssil superfície-ar (SAM) de dois estágios com estabilizadores únicos  oito superfícies de controle móvel e quatro asas fixas como apresentado anteriormente, esta configuração remete ao sistema israelenese Stunner.

Estimativas recentes sugerem que o alcance efetivo do Meteor-1-2 esteja entre 200 e 250 quilômetros, superando em muito o Pongae-5, e que ofereça capacidade de resposta rápida e guiagem precisa, de acordo com informações divulgadas pela mídia estatal norte-coreana. Além disso, o sistema apresenta uma adaptação no radar, com configuração modificada e potencialmente mais avançada, conforme apontado por análises recentes dos perfis de emissão captados pela coreia do sul durante os testes,

Em 20 de março de 2025, a Coreia do Norte testou um novo sistema de defesa aérea, descrito oficialmente pela KCNA como capaz de operar em larga escala, com alta confiabilidade e velocidade de resposta, segundo relatos também publicados pelo Army Recognition e pela agência Yonhap. Esse sistema pode representar uma versão aprimorada dos KN-06 ou do próprio Pongae-6, ou ainda um projeto totalmente novo desenvolvido em cooperação com a Rússia, incorporando tecnologias semelhantes às do S-300PMU.

Alegadamente a agência estatal Norte Coreana declara que este sistema possui a capacidade de interceptação de caças stealth como o F-35 e mísseis de cruzeiro.

Neste mês de agosto de 2025, um novo teste foi realizado, desta vez enfatizando a defesa contra drones, mísseis de cruzeiro e ataques de múltiplos alvos simultâneos, o que evidencia a busca norte-coreana por um sistema antiaéreo mais integrado e modernizado.

Pode-se dizer que a modernização antiaérea da RPDC é coerente com uma estratégia de negação de acesso em camadas: com os sistemas como KN-06 e Meteor-1-2 aumentam o custo e o risco para operações aéreas inimigas mesmo sem alcançar igualdade tecnológica plena.

A resposta sul-coreana foca em sobreposição e tecnologias hit-to-kill para restaurar probabilidade operacional. No plano tático, o sucesso de campanhas ofensivas dependerá de eficácia de SEAD/DEAD, qualidade de inteligência e capacidade de fusão de sensores para expor TELs, radares e nodos de C2 adversários.

A evolução dos sistemas antiaéreos norte-coreanos KN-06 para o Pyoljji-1-2 / Meteor-1-2 e suas variantes  é resultado de uma estratégia de política e investimentos para galgar a tecnológia necessária e criar zonas de negação de acesso (A2/AD). Esta estratégia visa entre outras coisas, aumentar o custo operacional de campanhas aéreas inimigas, sem necessariamente buscar paridade total com a Coreia do Sul.

Seul responde ampliando uma defesa em camadas (M-SAM / L-SAM / Patriot / THAAD / Aegis) focada em cobertura redundante, caminhando para sistemas de interceptação hit-to-kill e ganho de profundidade operacional, é previsível portanto que o futuro reserve uma corrida espacial entre as coreias na busca de complicar o espaço aéreo e recuperar probabilidade de missão em ataques aéreos sejam por aeronaves, drones, misseis táticos ou mísseis balísticos dos quais ambas as nações estão investindo pesadamente.


Fonte

  1. North Korea Military Power: A Growing Regional and Global Threat, Defense Intelligence Agency (DIA), [LINK]
  2. Coreia do Norte testa novo sistemas de mísseis de defesa aérea, Plano Brazil, [LINK]
  3. Developments of North Korea’s Land-based Air Defense Systems, 38 North,[LINK]

Acesse a comunidade PB: Link de acesso [Link]
COLABORE COM O PLANO BRAZIL PIX: 14997751485

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *