E.M.Pinto
O conflito na Ucrânia trouxe à tona diversas inovações militares improvisadas, e poucas são tão emblemáticas quanto a utilização do Yak-52 como interceptador de drones russos. Originalmente projetado como aeronave de treinamento soviética, o Yak-52 jamais foi concebido para o combate aéreo.
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No entanto, diante da constante ameaça representada por UAVs como o Orlan e o Zala, a Ucrânia adaptou essas aeronaves leves para desempenhar um papel crucial: derrubar drones inimigos em missões que misturam improviso, coragem e criatividade.
Desde a primavera de 2024, pilotos e artilheiros ucranianos transformaram essa prática em parte da rotina da 11ª Brigada de Aviação do Exército de Kherson. O resultado é impressionante: apenas uma tripulação foi responsável por destruir 120 drones em 300 missões de combate, um desempenho que representa cerca de 50% de todas as intercepções registradas pela unidade.
Em termos proporcionais, isso significa que helicópteros pesados como o Mi-8 e o Mi-24, tradicionalmente considerados pilares da defesa aérea e do apoio em terra, tiveram desempenho comparável a um simples avião de treinamento quando se trata de combater UAVs.
Essa realidade expõe duas questões fundamentais da guerra contemporânea. A primeira é que os drones transformaram radicalmente o campo de batalha. Custando uma fração do preço de aeronaves tripuladas, eles se multiplicam em grande número, saturando defesas e explorando vulnerabilidades. A segunda é que, mesmo em um cenário dominado por alta tecnologia, soluções de baixo custo e improvisadas podem ser não apenas funcionais, mas decisivas.
O estilo de combate do Yak-52 contra drones remete diretamente à Primeira Guerra Mundial, quando pilotos usavam pistolas e fuzis para alvejar adversários em pleno voo. A diferença é que, mais de cem anos depois, esse método não é fruto da precariedade absoluta, mas de uma estratégia adaptativa.
Para destruir um UAV russo, o piloto manobra a aeronave até alcançar a curta distância necessária, enquanto o artilheiro dispara com armas portáteis, muitas vezes fuzis de calibre 5,56 mm da OTAN. Em alguns casos, a tática de inclinar a asa contra o drone, forçando-o a perder estabilidade e cair, foi reeditada, lembrando os britânicos que derrubavam bombas voadoras V-1 na Segunda Guerra Mundial.
O sucesso dessas missões não elimina os riscos. O Yak-52 é vulnerável a praticamente todos os tipos de armamentos antiaéreos, desde metralhadoras até mísseis balísticos. Em julho de 2025, um ataque desse tipo custou a vida de um dos primeiros pilotos da frota improvisada, Kostiantyn Oborin. Ainda assim, as missões continuam, pois o custo-benefício é inegável: utilizar uma aeronave leve e acessível para neutralizar drones que poderiam direcionar ataques devastadores contra cidades e bases militares.
A análise do caso também carrega simbolismo político e psicológico. O Yak-52, considerado obsoleto e destinado apenas a treinamento, tornou-se uma arma de resistência, provando que a guerra moderna não se resume à disputa entre sistemas de última geração. O sucesso dessa tática é, ao mesmo tempo, um reflexo da resiliência ucraniana e um lembrete de que, em conflitos prolongados, a improvisação pode superar a rigidez tecnológica.
Em suma, o emprego do Yak-52 como interceptador de drones escancara a natureza híbrida da guerra contemporânea: de um lado, a sofisticação dos mísseis de precisão; de outro, a simplicidade de uma aeronave da era soviética equipada com fuzis portáteis. A mensagem é clara: mais do que equipamentos, é a capacidade de adaptação que define quem sobrevive e quem vence no campo de batalha.
Referências
- How Ukraine Uses Yak-52 Aircraft to Shoot Down Russian Drones. Defense Express [LINK]
- Ukraine War: The Battle Against Russian UAVs, BBC, [LINK]
- Super tucano a melhor opção contra enxames de Drones, Plano Brazil [LINK]
