A gigante estatal sul-africana Denel projeta um renascimento no mercado de defesa com um pipeline de oportunidades avaliado em mais de US$ 2.9 bilhões de dólares. A empresa apresentou, em junho, um panorama otimista ao Comitê Permanente Conjunto de Defesa do Parlamento da África do Sul, destacando contratos potenciais para sistemas de artilharia, mísseis, veículos blindados e drones.
No curto e médio prazo, a principal aposta da Denel está em um possível contrato de aproximadamente US$ 850 milhões de dólares com um país do Oriente Médio interessado em adquirir 78 sistemas de artilharia autopropulsada T5-52, veículos de apoio e radares de contrabateria Arthur. A proposta já passou pela fase de manifestação de interesse, e a empresa aguarda o lançamento do pedido oficial (RFP). Outro cliente internacional também demonstrou interesse em 54 sistemas T5, em um acordo estimado em aproximadamente US$ 670 milhões de dólares, ainda em fase preliminar.
No mercado interno, a Denel espera fechar um contrato avaliado em quase US$ 250 milhões de dolares para fornecer 462 veículos blindados de transporte de pessoal à Força de Defesa Nacional da África do Sul (SANDF), destinados a patrulhas de fronteira. A proposta já foi enviada à estatal Armscor, mas a decisão foi adiada por mudanças nos requisitos do projeto.
No setor aeronáutico, a empresa busca financiamento para a modernização do helicóptero de ataque Rooivalk Mk 1.1. O projeto, orçado em US$ 20 milhões de dólares, inclui o desenvolvimento de um novo protótipo com aviônicos atualizados e abre caminho para a futura versão Rooivalk Mk 2, voltada à exportação.
A Denel também está em negociações avançadas para fornecer mísseis de última geração a clientes do Oriente Médio. Entre os projetos em curso estão a venda de 324 mísseis terra-ar Umkhonto-IR e 15 lançadores terrestres, em um acordo estimado em US$ 370 milhões de dólares, e a possível venda de 2.000 mísseis antitanque Ingwe por USS$ 330 milhões de dólares. Ambas as negociações envolvem demonstrações de desempenho no exterior previstas para este ano.
Na área de veículos aéreos não tripulados, a Denel prepara uma demonstração do Seeker 400 a um cliente internacional, com uma negociação potencial de US$ 41 milhões de dolares.
Segundo o Plano Corporativo 2025-2026 da empresa, os mercados prioritários incluem Brasil, EUA, Nigéria, Argélia, Egito, Arábia Saudita, Omã, Emirados Árabes Unidos, Paquistão, Malásia e Finlândia. Outros países-alvo são Índia, Sri Lanka, Coreia do Sul, Vietnã, Filipinas e Indonésia.
Com o orçamento de defesa da África do Sul abaixo de 1% do PIB – significativamente abaixo da média global de 2% –, a Denel vê nas exportações a única saída para manter suas capacidades industriais e técnicas. A falta de investimentos locais também tem levado empresas sul-africanas a buscarem parcerias com fornecedores estrangeiros, agravando o esvaziamento da base industrial nacional.
A empresa acredita, no entanto, que o cenário geopolítico atual — com conflitos ativos na Europa, Oriente Médio e instabilidade na África — abre espaço para reposicionar seus produtos no mercado global. Essa estratégia já começou a dar frutos: em dezembro de 2024, a Denel fechou um contrato relevante para a atualização dos canhões autopropulsados G6 e iniciou o recebimento de pedidos adicionais de suporte logístico.
A ministra da Defesa e dos Veteranos Militares, Angie Motshekga, confirmou recentemente que a Denel também concluiu negociações para fornecer mísseis a um cliente já existente e que aguarda apenas a assinatura final do contrato. A partir de abril de 2025, a empresa passou oficialmente a operar sob a alçada do Departamento de Defesa — uma tentativa de fortalecer sua recuperação institucional e garantir maior alinhamento com as prioridades estratégicas do país.