A Turquia está em negociações com o Catar para adquirir até 24 caças Eurofighter Typhoon Tranche 3A, como medida temporária para substituir sua frota de F-16, cuja vida útil está se esgotando. As discussões ocorreram em Doha no início de outubro de 2025, envolvendo altos funcionários de defesa de ambos os países.
Altos oficiais turcos, incluindo o Ministro da Defesa Yasar Guler e o Comandante da Força Aérea General Ziya Cemal Kadioglu, se reuniram com o Vice-Primeiro-Ministro e Ministro da Defesa do Catar, Saoud bin Abdulrahman Al Thani, para tratar da transferência das aeronaves. O acordo ainda depende da aprovação dos países do consórcio Eurofighter — Reino Unido, Alemanha, Itália e Espanha — que supervisionam conjuntamente a exportação do caça.

Segundo fontes familiarizadas com o assunto, ambas as partes estão próximas de um acordo, embora questões como preço, logística e suporte de manutenção ainda precisem ser definidas. Caso o negócio seja finalizado, a Turquia poderá receber as aeronaves já em serviço no Catar, agilizando a entrega em comparação à compra de novos Typhoons do Reino Unido, cujo contrato preliminar para 40 unidades não avançou devido a divergências sobre custos e cronograma.
O Catar opera atualmente 24 Eurofighter Typhoons Tranche 3A, adquiridos em 2017 por US$ 6,7 bilhões. As aeronaves contam com radar AESA Captor-E, aviônicos digitais, sistemas de autoproteção avançados e capacidade para empregar mísseis Meteor de longo alcance, bombas guiadas e armamento antinavio. A fuselagem é projetada para cerca de 6.000 horas de voo, permitindo operação prolongada com manutenção adequada.
Para Ancara, a transferência representaria uma solução de curto prazo para manter a prontidão operacional enquanto a modernização dos F-16 fabricados nos EUA continua e o programa de caça doméstico Kaan avança. O Kaan, de quinta geração, fez seu primeiro voo em 2025, mas especialistas estimam que a entrada em serviço operacional pleno ocorrerá mais próxima de 2030.

O Eurofighter Typhoon, desenvolvido na década de 1980 como esforço conjunto entre Reino Unido, Alemanha, Itália e Espanha, entrou em serviço em 2003. A versão Tranche 3A, atualmente operada pelo Catar, integra radares, computadores de missão e sistemas defensivos mais modernos que as primeiras variantes Tranche 1 e 2. Para a Turquia, o Typhoon representa uma ponte entre aeronaves de quarta e quinta geração, compatível com padrões da OTAN e capaz de realizar defesa aérea e missões multifuncionais.
A necessidade de novas aeronaves turcas também decorre da exclusão do país do programa americano F-35 em 2019, após a aquisição dos sistemas russos S-400. Essa decisão deixou a Força Aérea Turca sem acesso a caças de quinta geração, aumentando a pressão para encontrar soluções alternativas, dentro das normas da aliança atlântica.
Além da proposta catariana, a Turquia havia assinado em julho de 2025 um memorando preliminar com o Reino Unido para 40 novos Typhoons, mas o acordo não avançou devido ao alto custo e ao longo prazo de entrega, que poderia levar vários anos. O uso de aeronaves já operacionais no Catar permitiria a Ancara preencher lacunas de capacidade na década de 2020, quando muitos F-16 começarão a atingir o fim de sua vida útil.
A indústria de defesa turca permanece dividida entre priorizar aquisições estrangeiras imediatas e concentrar recursos no desenvolvimento doméstico. Projetos liderados pela Turkish Aerospace Industries (TAI) e Aselsan buscam integrar sistemas nacionais de radar, guerra eletrônica e controle de voo à frota atual de F-16, enquanto aguardam a maturação do Kaan. Especialistas apontam que uma combinação de aquisições temporárias e desenvolvimento nacional será necessária para manter a cobertura de defesa aérea durante o período de transição.
O Eurofighter Typhoon continua em produção na BAE Systems em Warton, Reino Unido, e em instalações parceiras na Alemanha, Itália e Espanha. Dados do setor indicam que a produção triplicou nos últimos dois anos, graças a contratos com Alemanha, Espanha, Kuwait e Catar, mantendo a linha de montagem ativa e sustentando a força de trabalho envolvida na fabricação de caças.
Atualmente, o Typhoon é utilizado pelas forças aéreas de Reino Unido, Alemanha, Itália, Espanha, Áustria, Arábia Saudita, Omã, Kuwait e Catar. A aeronave bimotora, de asa delta-canard, pode realizar missões de combate aéreo e ataque, empregando mísseis, bombas guiadas e armamento antinavio. Cada unidade é equipada com dois motores Eurojet EJ200, capazes de fornecer até 90 quilonewtons de empuxo com pós-combustão, permitindo voo supersônico sustentado.
Para Ancara, a aquisição dos Typhoons catarianos reforçaria a capacidade operacional de curto prazo, mantendo a prontidão da Força Aérea até que o Kaan esteja plenamente operacional. A medida também garantiria flexibilidade para futuras parcerias industriais e modernizações dentro do consórcio Eurofighter, incluindo possíveis compras de Tranche 4 com radar ECRS Mk2 e capacidades aprimoradas de guerra eletrônica.




