E.M.Pinto
A “Rota do Ártico” refere-se às vias marítimas que se tornam mais acessíveis devido ao derretimento do gelo no Ártico. Conforme o gelo polar diminui, as águas do Ártico se tornam navegáveis por períodos mais longos durante o ano. Essa mudança tem implicações significativas para o comércio global, estratégias geopolíticas e o ambiente.
A Rota inclui a Passagem do Noroeste, que passa através do Arquipélago Ártico Canadense, e a Rota do Mar do Norte, que se estende ao longo da costa norte da Rússia. Essas rotas oferecem atalhos significativos para o transporte marítimo entre a Europa e a Ásia, encurtando distâncias em comparação com as rotas tradicionais que passam pelo Canal de Suez ou pelo Canal do Panamá.
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As alterações climáticas afetam o degelo nos polos do planeta especialmente através das correntes marinhas aquecidas. Como resultado, o recuo da calota polar no Polo Norte tende a tornar o Ártico uma rota mais navegável especialmente nos perídos entre março e setembro.
Para se ter uma ideia do impacto, a chamada Passagem Noroeste, no Ártico canadense, tem sido usada com esta frequência desde 2018, reduzindo substancialmente a distância marítima entre a Ásia Oriental e a Europa Ocidental.
Porém, duas outras rotas marítimas foram estabelecidas para cruzar o Ártico, permitindo que os navios se movam entre o oceano Atlântico e o oceano Pacífico, criando novos desafios e embates políticos por seu controle uma vez que em tese apresnetam-se como “águas internacionais”. Ambas se sobrepõem significativamente à jurisdição do Canadá ou da Rússia, criando possíveis desafios legais com o desenvolvimento do transporte marítimo transártico. A incerteza persiste sobre o derretimento da cobertura de gelo perene.
Os serviços de transporte de carga ao redor do Círculo Polar Ártico são limitados, já que os operadores não podem deixar ou recolher carga durante a passagem, restringindo o crescimento dos centros de transporte marítimo ao longo das rotas árticas. No portlet marítimo, há informações sobre a Rota Marítima do Noroeste, Rota Marítima do Nordeste e a possibilidade futura da Rota Marítima do Ártico Central.
Palco de disputas
Dinâmica do comércio global e padrões do comércio mundial
As principais linhas de containers otimizam rotas usando uma rede de portos conectados por transporte fluvial e ferroviário. No entanto, a NSR, passando por regiões desabitadas, não permite escalas, tornando-a menos atrativa para operadores regulares.
Graneleiros por sua vez, têm horários menos previsíveis, dependendo de mudanças na oferta e demanda. A NSR pode se beneficiar dos projetos de petróleo e gás no Ártico russo, especialmente com o derretimento do permafrost, tornando a construção de infraestrutura desafiadora.
Embora a NSR ofereça economia significativa de distância entre Europa e Ásia, a incerteza nos horários e a falta de infraestrutura limitam sua popularidade entre serviços regulares pelo menos por hora. Para graneleiros, no entanto, a rota pode ser uma alternativa crescente às tradicionais.
Reservas de gás e petróleo
Probabilidade da presença de campos de petróleo/gás não descobertos com uma quantidade significativa de recursos recuperáveis de mais 50 milhões de barris de petróleo em várias regiões do Ártico é um atrativo incontestaável. Na imagem os tom em azul representam as regiõe smais prováveis, quanto mais escuros mais prováveis.
As estimativas exatas sobre o volume de reservas de gás e petróleo no Ártico são díspares, porém nenhuma delas é modesta em afirmar que sobre o leito marinho, repousa uma riquesa imensurável. A exploração desses recursos é uma tarefa desafiadora devido às condições ambientais extremas e à falta de infraestrutura na região.
A Avaliação Geológica dos Recursos de Petróleo e Gás no Ártico, conduzida pela Agência de Informações de Energia dos Estados Unidos (EIA), estima que o Ártico contém cerca de 13% das reservas não descobertas de petróleo do mundo e cerca de 30% das reservas não descobertas de gás natural. Essas reservas estão principalmente localizadas nas áreas submarinas ao redor da Groenlândia, Canadá, Noruega e Rússia (não coincidentememte as regiões em disputa).
A região do Ártico é rica em recursos naturais, incluindo petróleo, gás e minerais. O derretimento do gelo devido às mudanças climáticas abriu oportunidades para a exploração desses recursos.
A exploração de reservas de petróleo e gás no Ártico tornou-se mais viável com o recuo do gelo marinho. Países como Rússia, Canadá, Noruega e Estados Unidos estão envolvidos em projetos de exploração offshore para aproveitar esses recursos. Além de hidrocarbonetos, a região também abriga depósitos minerais valiosos, como ouro, diamantes e metais de terras raras, desencadeando o interesse de empresas de mineração.
A militarização do ártico
A presença militar russa no Ártico tem crescido significativamente nas últimas décadas, impulsionada por mudanças climáticas, que abriram novas rotas de navegação e aumentaram o acesso a recursos naturais na região.
A militarização do Ártico já começou com a Rússia tomando a iniciativa de construir instalações autônomas e bases para suporte de suas tropas, navios, modernizando suas infraestruturas e reforçando sua presença naval, aeronaves e todos os demais sistemas que considera estratégicos para a defesa dos seus interesses.
Am 2020 a Rússia inaugurou uma base militar em Franz Josef Land, conhecida como Base de Nagurskoye. Ela é projetada para suportar operações durante todo o ano e é equipada com instalações modernas sistemas próprios de geração de energia e pode comportar unidades ao nível de batalhões.
Há também uma importante base na peninsula de Kola, bade de Severomorsk que é uma das principais bases da Frota do Norte russa e desempenha um papel crucial no controle do acesso ao Ártico. Além disso, a Rússia possui várias outras bases ao longo da costa ártica, incluindo Tiksi, Anadyr e Rogachevo, que são estrategicamente localizadas para monitorar e proteger a região.
A Frota do Norte da Rússia é a principal frota responsável pelas operações no Ártico. Ela foi reforçada com novos navios, incluindo submarinos nucleares e embarcações de superfície, para garantir a presença militar na região. Atualmente as forças russas estão sendo reforçadas com uma poderosa e numerosa frota de navios quebragelo nucleares que estão sendo construídos para apoiar a a já robusta frota de de quebra-gelos nucleares existentes, estes navios são essenciais para navegação durante todo o ano.
A Rússia realiza exercícios militares regulares no Ártico, simulando cenários que envolvem defesa territorial, resposta a situações de crise e operações navais na região. recentemente, implantou sistemas avançados de defesa aérea, como o S-400, para fortalecer suas capacidades defensivas no Ártico. O país tem igualmente investido significativamente em pesquisa e desenvolvimento para criar sistemas adaptados às condições extremas do Ártico, incluindo veículos aéreos não tripulados (VANT) e tecnologias específicas de guerra no gelo.
A Rússia reivindica vastas extensões do Ártico com base em sua plataforma continental, buscando expandir suas fronteiras marítimas e controlar áreas ricas em recursos. Essa presença militar tem gerado preocupações geopolíticas e levantado questões sobre a militarização crescente na região, à medida que as potências globais competem pelos benefícios estratégicos e econômicos associados ao Ártico em transformação.
Por seu lado, os Estados Unidos têm expressado crescente preocupação com a segurança no Ártico e aumentaram suas atividades militares na região. Isso inclui exercícios navais, modernização de suas instalações e presença de submarinos.
As atividades militares na região são influenciadas por mudanças climáticas, questões de soberania, oportunidades econômicas e estratégias geopolíticas. Os Estados Unidos participam regularmente de exercícios militares no Ártico para melhorar a interoperabilidade e a prontidão operacional. Exercícios envolvem forças navais, aéreas e terrestres. Um exemplo é o exercício “Arctic Edge“, que envolve forças dos EUA, incluindo a Guarda Costeira dos EUA.
Através de sua Marinha, os Estados Unidos tem aumentado sua presença na região ártica. Navios de guerra são enviados para operações de patrulha e treinamento. Em 2018, o submarino USS Connecticut participou de exercícios sob o gelo no Ártico.
A presença americana no Ártico não é novidade, o sistema de alerta NORAD (Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte) inclui instalações de radar no Ártico para monitorar aeronaves e mísseis há décadas e só tem expandido suas operações apartir dos satélites da Força Aeroespacial Americana.
Os Estados Unidos possuem uma base aérea permanente em Thule, na Groenlândia, a qual é considerada uma instalação estratégica para os EUA. Ela é usada para alerta antecipado de mísseis e satélites, além de fornecer apoio aéreo estratégico. Outras instalações, como a Base da Força Aérea de Elmendorf-Richardson no Alasca, são importantes para as operações no Ártico.
Embora os Estados Unidos tenham uma presença limitada de quebra-gelos em comparação com outras nações, eles estão explorando opções para adquirir novos quebra-gelos para apoiar operações na região. E possuem interesses estratégicos no Ártico, especialmente à medida que as rotas de navegação se abrem e os recursos naturais se tornam mais acessíveis.
Além de atividades militares, os EUA também estão envolvidos em pesquisas científicas no Ártico, monitorando as mudanças ambientais e climáticas.
Outro ator muito importante na região, o Canadá também tem reforçado sua presença militar no Ártico para proteger sua soberania e interesses na região. Isso inclui patrulhas navais e exercícios militares. o Canadá mantém uma presença militar significativa no Ártico, dada a sua vasta extensão de território ártico ao norte. O país tem incentivado e ralizado operações conjuntas no Ártico, envolvendo a Marinha Real Canadense, Força Aérea Real Canadense e Exército Canadense.
Além disso, participa de exercícios multinacionais e nacionais para melhorar a interoperabilidade e a prontidão militar na região ártica. Um dos recentes exercícios foi denominado “Nanook”, o qual visaou testar as capacidades das Forças Canadenses em condições árticas.
O Canadá mantém a Força Operacional Conjunta do Norte, uma unidade militar dedicada à região ártica. Isso inclui pessoal treinado para operar em condições árticas e mantém uma rede de estações de alerta e vigilância ao longo de sua fronteira ártica para monitorar atividades aéreas e marítimas.
Tal como a Rússia, o país manteém uma frota de quebra-gelos,permanentes que desempenham um papel crucial na manutenção da presença do Canadá no Ártico, facilitando o acesso e a patrulha.
A principal base canadense na região é a Canadian Forces Station Alert, localizada no extremo norte da Ilha Ellesmere, é a estação militar mais ao norte do mundo. Ela desempenha um papel crucial na vigilância e na defesa do Ártico.
O país tem investido em capacidades específicas para operações no Ártico, incluindo veículos off road, equipamentos especializados e aeronaves adaptadas para ambientes gelados. O país está cada vez mais envolvido em pesquisas científicas e vigilância ambiental na região ártica.
O Canadá mantém uma abordagem de “Sovereign Arctic Operations” para afirmar sua soberania no Ártico e garantir que possa responder efetivamente a qualquer desafio.A qual fundamenta a defesa das suas reivindicações de soberania no Ártico, incluindo disputas sobre a Passagem do Noroeste (NWP).
Apesar de não ser um país ártico, a China tem demonstrado seu interesse devido às oportunidades econômicas, como rotas de navegação mais curtas. A China tem investido em quebra-gelos inclusive nucleares e participado de atividades de pesquisa científica, gerando preocupações sobre suas intenções futuras.
Desta forma a China participa como observadora no Conselho do Ártico desde 2013. Apesar de não ser um estado ártico, a China busca influenciar decisões e políticas na região e tem feito investimentos em empresas e projetos relacionados a recursos naturais, energia e infraestrutura no Ártico, visando oportunidades econômicas. Além disso, tem realizado expedições científicas no Ártico para estudar as mudanças climáticas e entender melhor a região. Isso inclui o uso de quebra-gelos para explorar rotas de navegação no verão.
A China está interessada nas rotas de navegação árticas, como a Rota Marítima do Norte, como uma alternativa potencialmente mais curta para o transporte entre a Ásia e a Europa. Atualmente estabelece estações de monitoramento ambiental no Ártico para coletar dados sobre as condições climáticas e ambientais e expressa seu interesse em participar em projetos de infraestrutura no Ártico, incluindo portos e desenvolvimentos logísticos.
Outras nações árticas também atuam de forma mais modesta tal como Noruega e Dinamarca que também estão fortalecendo suas capacidades militares no Ártico, considerando os desafios e oportunidades associados às mudanças na região.
Os meios envolvidos na militarização incluem a implantação de forças navais, a construção e modernização de bases militares, a aquisição de quebra-gelos, a realização de exercícios militares e o desenvolvimento de capacidades para operações em condições climáticas adversas. Essas atividades refletem as preocupações sobre segurança, soberania e o potencial aumento das tensões geopolíticas naquela região.
A passagem pelo artico central
A passagem pelo Oceano Ártico central depende de uma redução significativa da espessura do gelo naquela área. é a região mais inacessível atualmente para os navios. Acredita-se que à medida que o gelo marinho continua a derreter, os navios com capacidade de quebrar gelo poderão navegar pelas águas centrais do Ártico.
Com um aumento global de temperatura previsto de 2ºC até 2050 e um aumento ainda mais acentuado de 4ºC no inverno espera-se que as alterações climáticas tenham efeitos mais dramáticos no Ártico do que em qualquer outro lugar da Terra.
Caso isto venha ocorrer, as companhias marítimas provavelmente conseguirão reduzir a distância em vez de navegar pelo Canal do Panamá, pelo Canal de Suez ou pelo Estreito de Malaca.
Análise
A abertura da Rota do Ártico levanta várias questões, incluindo desafios ambientais relacionados à exploração de recursos no Ártico, preocupações sobre a segurança marítima devido às condições extremas, e disputas geopolíticas sobre as reivindicações territoriais na região. Além disso, o aumento da atividade humana na área também pode ter impactos ambientais negativos, como o aumento da poluição e ameaças à vida selvagem. A região do Ártico tornou-se um ponto focal importante nas discussões sobre mudanças climáticas, sustentabilidade e governança global.
A NSR oferece um atalho mais curto entre a Europa e a Ásia, em comparação com as rotas tradicionais através do Canal de Suez ou do Cabo da Boa Esperança. Isso pode resultar em economias significativas de tempo e custos para o transporte marítimo.
A diversificação das rotas de transporte marítimo reduz a dependência de rotas tradicionais e estratégias geopolíticas associadas a essas rotas. Isso é particularmente relevante em um contexto de incertezas geopolíticas e preocupações com a segurança em algumas áreas tradicionais de navegação.
O Ártico abriga vastos recursos naturais, incluindo petróleo, gás, minerais e pesca. O desenvolvimento econômico dessas regiões pode se beneficiar do acesso facilitado proporcionado pela NSR.
O derretimento do gelo no Ártico devido às mudanças climáticas está abrindo a NSR por períodos mais longos, tornando-a mais acessível. Isso pode levar ao aumento do tráfego marítimo na região.
O aumento do tráfego na NSR pode impulsionar o desenvolvimento econômico em regiões árticas, criando oportunidades para atividades como construção naval, serviços portuários, logística e turismo.
O controle e o acesso à NSR têm implicações geopolíticas e estratégicas. O aumento da presença e influência em regiões árticas pode ter ramificações no equilíbrio de poder global.
A abertura da NSR também levanta preocupações ambientais, pois o aumento do tráfego marítimo pode ter impactos negativos nos ecossistemas locais e aumentar o risco de acidentes ambientais.
Com o derretimento contínuo do gelo, a NSR pode evoluir para uma rota comercial mais viável ao longo do tempo, abrindo possibilidades para novas rotas e oportunidades de comércio.
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