Militares brasileiros ajudam na revisão do Manual do Batalhão de Infantaria da ONU

O Brasil é um dos países que mais contribuem com tropas para missões de paz da ONU. (Exército Brasileiro)

O workshop da Organização das Nações Unidas reuniu oficiais com grande experiência em missões de paz para atualizar o manual, de acordo com as mudanças tecnológicas.

Nelza Oliveira/Diálogo

Militares das Forças Armadas do Brasil participaram em Salvador, Bahia, de 5 a 9 de novembro de 2018, do 4° Workshop da Organização das Nações Unidas (ONU) para a revisão do Manual do Batalhão de Infantaria (UNIBAM, em inglês), coordenado pela Subchefia de Operações de Paz do Ministério da Defesa do Brasil. O workshop contou ainda com a presença de representantes da ONU e de países membros, tais como: Bangladesh, Camboja, Estados Unidos, Finlândia, Holanda, Marrocos, Nigéria e Paquistão. Foram no total 19 participantes.

O UNIBAM foi lançado em 2012 pelo Departamento de Operações de Manutenção da Paz (DPKO, em inglês) e de Apoio de Campo da ONU, com o objetivo de melhorar o desempenho das forças militares de paz. A publicação descreve padrões, tarefas, estruturas, requisitos de equipamentos e ferramentas de autoavaliação para componentes de infantaria em operações desse tipo, para aprimorar o desempenho das tropas. O documento foi desenvolvido com contribuições dos Estados membros, ex-comandantes de batalhão, praticantes de manutenção da paz, especialistas em treinamento, entre outros.

A Assessoria de Comunicação Social do Ministério da Defesa explicou à Diálogo que a revisão está prevista para ser feita a cada cinco anos, por conta das mudanças tecnológicas, e nos diversos ambientes operacionais em que as tropas da ONU atuam. O workshop realizado no Brasil foi o quarto e último da primeira revisão do UNIBAM. Foram realizados dois workshops anteriores em Bangladesh, em fevereiro e outubro de 2018, e um na Nigéria, também em outubro de 2018. O próximo passo será preparar pacotes de adestramento das tropas da ONU, que serão enviados para os centros de treinamento das tropas de operações de paz de cada país que contribui com tropas para a organização, para que possam preparar seus contingentes de acordo com a nova doutrina.

O Brasil foi selecionado para participar da revisão do UNIBAM por sua ampla participação nas operações de paz da ONU. O país já participou de aproximadamente 50 missões da ONU e liderou os 13 anos de Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, uma das mais longas da história, com a participação total de mais de 37.000 militares.

“A oportunidade de contribuir para a revisão do manual acontece em função do excelente desempenho do Brasil em missões de paz. Nossa atuação nos habilita a opinar em diversos capítulos do manual e, com isto, contribui para a possibilidade de participação do Brasil em futuras missões”, disse o General de Exército José Eduardo Pereira, vice-chefe de Operações Conjuntas do Ministério da Defesa do Brasil. “O fato de organizar um evento como esse nos dá a oportunidade de divulgar essa capacidade a outros países. A capacidade de planejamento dos brasileiros foi provada no apoio a eventos como a Copa do Mundo, as Olimpíadas e os Jogos Mundiais Militares.” 

Etapas até a publicação

O 4° workshop do comitê de revisão do UNIIBAM contou com a presença de representantes da ONU e de países membros. (Foto: Keven Kobalchini, Ministério da Defesa do Brasil)

A revisão do UNIBAM durante o workshop teve início após as discussões dos capítulos pelos subgrupos de trabalho. As propostas são apreciadas pelo Coronel do Exército Brasileiro (EB) Ulisses de Mesquita Gomes, chefe da Divisão de Política, Doutrina e Treinamento do Escritório de Assuntos Militares do DPKO, que é responsável pela produção dos manuais e pela montagem dos pacotes de treinamento das tropas da ONU.

O Cel Ulisses concorreu com 134 oficiais de diversos países para ocupar esse cargo. O oficial considera que sua aprovação se deu, entre outros fatores, devido ao rigor da seleção do EB e da sua preparação no Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil, com sede no Rio de Janeiro, que desde 2010 treina militares brasileiros e estrangeiros que irão compor as missões de paz da ONU. “Atualmente, além da revisão em andamento, estão previstas as revisões dos manuais de aviação e de engenharia, bem como a criação do curso para comandantes de batalhões de infantaria da ONU, projeto dos quais o Brasil também participa”, afirmou o Cel Ulisses.

Depois da aprovação do oficial, as propostas seguem para análise na ONU, quanto ao enquadramento às normas já existentes e especialmente em relação aos pontos apresentados no Relatório Cruz, criado sob a coordenação do General de Divisão do EB Carlos Alberto dos Santos Cruz, que foi secretário nacional de Segurança Pública e comandante das forças de paz no Haiti e na República Democrática do Congo para a ONU. O Relatório Cruz tem por objetivo diminuir as baixas de capacetes azuis em missões de paz. O UNIBAM será publicado e suas orientações serão cumpridas por todos os componentes das missões de paz.​​​​​​​ 

Dividindo experiência

workshop reuniu oficiais com grande experiência em missões de paz. Muitos militares aproveitaram o evento para dividir suas experiências em missões de paz, como o Capitão de Mar e Guerra (FN) do Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil Alexandre Mariano Feitosa, oficial que participou da missão no Haiti e serviu no DPKO, em Nova Iorque, como responsável pelo planejamento das missões no Oriente Médio.

“A reunião de revisão do manual materializa o respeito e a atenção que o Brasil tem no cenário internacional, fruto do desempenho brasileiro em operações de paz”, disse o CMG Feitosa. “Sinto-me orgulhoso por poder representar o Corpo de Fuzileiros Navais, a Marinha e o Brasil, em um trabalho tão relevante.”

Já o Tenente-Coronel do EB José Paulino Sobrinho Junior fez sua preparação para missões de paz em Kingston, no Canadá, antes de ser observador por dois anos no Saara Ocidental. Ele chegou a comandar um destacamento composto por 15 a 20 militares internacionais, fazendo o monitoramento do cessar fogo na região. “Deixei a região com o sentimento de orgulho por perceber o quanto o Brasil é valorizado e, principalmente, por contribuir para a paz mundial”, afirmou o Ten Cel Paulino.

Fonte: Dialogo Americas