Em seu primeiro ano como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump demonstrou uma “apatia” e um “desinteresse” pela América Latina inéditos nos tempos modernos, segundo especialistas.
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Gerardo Lissardy
A questão vai além do relato de que Trump teria se referido a nações da América Central e do Caribe de forma preconceituosa, das decisões do presidente de interromper programas que evitam a deportação de milhares de imigrantes latinos ou do fato de o presidente querer construir um muro na fronteira com o México, país que classificou como o “mais perigoso do mundo”.
Também não se resume à política comercial de Trump, que retirou os EUA do Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP), firmado com países latinoamericanos e asiáticos, e que colocou o Nafta – acordo de livre comércio entre EUA, México e Canadá – em cheque.
O que caracteriza esse estremecimento sem precedentes das relações é uma combinação desses fatores com o fato de o republicano sequer ter designado, em um ano de governo, a equipe do Departamento de Estado responsável pelos assuntos relacionados à América Latina.
“Já se comentou em outras administrações que Washington não se importa com a América Latina, e isso é um fato, mas agora é dramaticamente pior”, avalia Michael Shifter, presidente do Diálogo Interamericano, um centro de análise sobre a América Latina, baseado em Washington.
“O desinteresse pela região como região não tem precedente”, afirmou Shifter.
E as consequências disso já se vislumbram: uma deterioração da imagem dos Estados Unidos na América Latina e a crescente influência da China na região.
“Não existe um projeto”
O principal gesto de aproximação de Trump com a América Latina no seu primeiro ano de governo foi provavelmente um jantar que ofereceu aos presidentes de Brasil, Colômbia e Panamá e à vice-presidente da Argentina, em setembro, na semana da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York.
Mas nem mesmo esse breve encontro decorreu sem contratempos. Durante a conversa com os outros governantes, Trump expressou seu “assombro” com a rejeição, pelos países da América do Sul, de uma “alternativa militar” na Venezuela, e chegou a perguntar se eles estavam certos dessa decisão. O presidente dos EUA também teria surpreendido os convidados presentes com sua desinformação sobre temas regionais.
Da Casa Branca, Trump incrementou sanções econômicas contra altos funcionários da Venezuela e impôs sanções financeiras ao governo de Nicolas Maduro, que classifica como uma “ditadura”.
Mas Trump evitou, até o momento, o que seria um golpe bem mais duro para Maduro – aplicar um embargo petroleiro à Venezuela, como já foi sugerido pelo presidente argentino, Mauricio Macri, e o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro.
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Defensores dos direitos humanos, como José Miguel Vivanco, da ONG Human Rights Watch, têm criticado Trump por silenciar diante de abusos cometidos por outros governos e de irregularidades denunciadas na recente reeleição do presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, um aliado de Washington.
O presidente interrompeu ainda as conversas entre Estados Unidos e Cuba iniciadas por seu antecessor Barack Obama após meio século de hostilidades entre os dois países.
Especialistas encaram todas essas medidas como respostas pontuais da Casa Branca à máxima de Trump de colocar “os Estados Unidos sempre em primeiro lugar”, não como parte de uma política internacional clara e estratégica.
“O governo norte-americano não é visto como um sócio confiável pela América Latina”, diz Oliver Stuenkel, professor de relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“Os Estados Unidos não têm um projeto para a América Latina. Um diplomata brasileiro me disse que não sabem nem com quem falar.”
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Presença da China
A América é a região do mundo onde mais decaiu a imagem de liderança dos Estados Unidos, conforme levantamento divulgado na semana passada pela Gallup, empresa americana de pesquisas de opinião. O percentual de aprovação do continente em relação ao governo dos EUA passou de 49% no último ano de Obama para 24% na gestão de Trump.
A autoridade com cargo mais alto na hierarquia do governo norte-americano a visitar a América Latina no ano passado foi o vice-presidente, Mike Pence, mas Trump ainda não pisou em qualquer país latinoamericano desde que assumiu a Casa Branca e poderá dar outro sinal de indiferença se faltar à Cúpula das Américas, marcada para abril, no Peru.
O secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, chamou a atenção por sua ausência na Assembleia-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), em junho de 2017, em Cancun, no México. O tema do encontro foi a crise na Venezuela.
Por outro lado, a China tem demonstrado crescente interesse pela América Latina, com três visitas do presidente Xi Jinping à região desde 2013 e reuniões como a realizada na segunda, no Chile, entre o chanceler chinês e ministros de relações exteriores latino-americanos.
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A China é o primeiro parceiro comercial do Brasil e segundo parceiro comercial da maioria das nações da América Latina. O peso relativo das importações de produtos da região cresceu a partir do ano 2000, enquanto o dos Estados Unidos se reduziu. Investimentos e empréstimos chineses são vitais para países como a Venezuela.
Para alguns especialistas, a tendência de aumento da influência da China na região se acelerou com o governo Trump.
Luis Rubio, presidente do Conselho Mexicano de Assuntos Internacionais, destaca que o distanciamento dos EUA também gera incentivos para que seja explorada uma aproximação comercial entre Brasil e México, o que antes era considerado “inconcebível”.
“Todo mundo está vendo que (as negociações) com Washington estão mais complicadas, então estão surgindo outros tipos de vínculos”, diz Rubio.
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As relações entre EUA e América Latina devem continuar esfriando nos três anos que faltam de governo Trump?
Provavelmente sim, avaliam especialistas, sobretudo por causa de duas questões sensíveis.
A primeira é a renegociação do Nafta. Esta semana se inicia em Montreal uma nova rodada de discussões entre os EUA, o México e o Canadá que pode ser crucial para salvar o tratado comercial ou causar um estremecimento do comércio entre países da América do Norte.
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“O mais grave que já ocorreu na América Latina foi a mudança de posicionamento de Trump em relação ao Nafta”, aponta Rubens Barbosa, ex-embaixador brasileiro em Washington.
A segunda questão sensível é a possibilidade de o governo dos EUA começar a deportar centenas de milhares de imigrantes latinos que perderam amparo legal nos últimos meses com decisões de Trump e de cujo futuro depende um pacto político em Washington.
“Pode piorar”, adverte Shifter sobre a deterioração da relação entre EUA e América Latina. “É possível que ainda não tenhamos visto o ponto mais baixo da curva.”
Fonte: BBC Brasil.com
Quanto mais estivermos longe do Tiozinho melhor !
não e questão de desinteresse mas os governos latinos atuais ja são paus mandados dos estados unidos , o wikiliguis mesmo ja falava que o temer se reportava a embaixada americana para que interesse se os governos latinos atuais são vassalos e tudo que os gringos pedirem eles entregaram facil , facil
Melhor assim, pois sempre que o EUA se virava para a américa do sul rolava uma alta dose de imperialismo, ingerência, subserviência e dependência econômica. Se eu pudesse escolher, nossas relações com o EUA permaneceriam do jeito que estão para todo o sempre.