Só na manhã do dia 26 de novembro nos Estados Unidos cessaram um pouco os tumultos causados pelos eventos na cidade de Ferguson, no estado de Missouri. Os protestos contra a liberação do policial que em agosto matou a tiros um afro-americano desarmado de 18 anos de idade se alastraram a 35 estados, desde Nova York até a Califórnia.
Em tribunal, o júri decidiu que o policial não tinha violado as instruções para agências de aplicação da lei.
Na própria cidade de Ferguson, o governador declarou o estado de emergência e chamou a Guarda Nacional para ajudar a polícia. Contra os manifestantes foram usados carros blindados, a polícia usou granadas com gás lacrimogêneo e cassetetes de choque elétrico. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, dirigiu-se duas vezes aos norte-americanos. Ele anunciou que todos os responsáveis pelos tumultos, incêndios e saques serão severamente punidos segundo a lei.
Mas o mais impressionante não é isso. Tais coisas não são algo fora do comum para os Estados Unidos. O impressionante são os números e a reação da Casa Branca às manifestações.
Segundo as estatísticas mais recentes do FBI, em 2013, nos Estados Unidos foram cometidos pela polícia 461 “assassinatos justificados”. Tal elevado número de vítimas de violência das autoridades nunca ainda fora visto na história da recolha desses dados. Um “assassinato justificado” é a eliminação física de uma pessoa por funcionários da polícia, do FBI ou de outras agências governamentais, cometida em serviço e justificada pelas circunstâncias. Eles são cerca de três por cento do número total de assassinatos de todos os tipos, cometidos nos Estados Unidos naquele ano.
Mas o mais surpreendente é a reação do presidente do país, Barack Obama.
Obama anunciou na Casa Branca que todos os participantes dos tumultos em Ferguson serão punidos segundo a lei e instou os manifestantes a mostrar moderação.
Nada semelhante a esses apelos “à moderação” aconteceu durante os excessos dos saqueadores em Kiev no ano passado e este ano. Funcionários governamentais norte-americanos, incluindo senadores e altos funcionários do Departamento de Estado, pelo contrário, quase semanalmente instigavam os rebeldes de Kiev a fazer novas provocações. Mas em Kiev a polícia foi até mesmo proibida de usar gás lacrimogêneo e suas armas foram apreendidas.
Neste caso, os EUA estão agindo segundo o princípio “reparo no argueiro no olho de outro e não vejo a trave no meu”. Esta é uma prática norte-americana bastante comum, diz o analista político Serguei Mikhailov:
“Por trás dos eventos em Ferguson vê-se bem claro a frustração que a população afro-americana sente com os processos sociais e políticos que estão acontecendo no país. Quando Barack Obama, o primeiro presidente negro da história dos EUA, foi eleito para o cargo no ano de 2008, os afro-americanos associaram a isso grandes esperanças de melhoria das condições de vida, de reforço de seus direitos. Mas essas esperanças viraram ilusões”.
Ferguson é essencialmente um subúrbio de uma das maiores cidades do estado de Missouri, Saint Louis. Dois terços da população da cidade são afro-americanos. Mas entre os quase 60 oficiais regulares da polícia apenas três têm a pele escura. De que “harmonia racial” se pode falar nesta situação?
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