Ciência versus intuição

A TEORIA econômica é uma ciência mais simples do que seus cultores neoclássicos ou ortodoxos supõem. Toda a matemática que usam para desenvolver seus modelos alienados da realidade é, além de desnecessária, prejudicial, porque os conduz a transformar o mercado em um mito, e a propor sua desregulamentação, cujo resultado são graves crises financeiras.

Não é surpreendente que os países asiáticos dinâmicos, que ouvem muito menos que nós os economistas ortodoxos do Norte, tratem de administrar sua taxa de câmbio e não incorrer em deficit mas em superavit em conta-corrente. Se o Brasil apresentasse também um superavit, cresceria muito mais e com muito mais segurança do que hoje.

Não é surpreendente que os países asiáticos tratem de administrar taxa de câmbio e não incorrer em déficit

LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA *

A TEORIA econômica é uma ciência mais simples do que seus cultores neoclássicos ou ortodoxos supõem. Toda a matemática que usam para desenvolver seus modelos alienados da realidade é, além de desnecessária, prejudicial, porque os conduz a transformar o mercado em um mito, e a propor sua desregulamentação, cujo resultado são graves crises financeiras.

Mas isso não significa que a teoria econômica seja um conjunto de conhecimentos intuitivos. Pelo contrário, ela só se torna inovadora quando rompe com o senso comum.

Adam Smith rejeitou o senso comum quando disse que a riqueza da nação não estava em seu ouro e seus templos, mas na produção; Marx, quando mostrou que o lucro resultava de uma troca de valores equivalentes no mercado.

Schumpeter, quando ensinou que não é a posse do capital mas a capacidade do empresário de inovar e de ter acesso ao crédito que é decisiva; Keynes, quando argumentou que é o investimento que determina a poupança.

Hoje os economistas estão diante de um quebra-cabeça. A intuição lhes diz que “os países ricos em capital devem transferir seus capitais aos países pobres em capital”, ou seja: países em desenvolvimento deveriam incorrer em deficit em conta-corrente e financiá-los com empréstimos ou investimentos diretos.

Entretanto, os países asiáticos dinâmicos, que crescem bem mais do que os latino-americanos, têm superavit em conta-corrente (superavit comercial inclusive serviços, juros e dividendos); a China, sempre.

No governo Lula, o Brasil apresentou taxa maior de crescimento quando teve superavit em conta-corrente; desde que voltou ao deficit, tem crescido menos. Na maioria dos casos, um país em desenvolvimento crescerá mais se apresentar superavit em conta-corrente e, assim, financiar os países ricos.

O modelo da doença holandesa explica essa surpreendente verdade. Para um país neutralizar a doença holandesa ou a maldição dos recursos naturais, precisa deslocar a taxa de câmbio do equilíbrio corrente (que zera sua conta-corrente) para o equilíbrio industrial (que torna competitivas empresas que usam tecnologia no estado da arte mundial). Ao lograr fazê-lo, o país terá superavit em conta-corrente, e os países ricos incorrerão em deficit.

O países em desenvolvimento devem, portanto, tentar crescer com despoupança externa ou superavit em conta-corrente.

Um segundo argumento mostra o que ocorre com o país que tenta crescer com poupança externa. As entradas de capitais necessárias para financiar esse deficit apreciam a taxa de câmbio, aumentam artificialmente salários reais e o consumo, de maneira que mesmo quando se trata de investimentos diretos, aumentam afinal mais o consumo do que o investimento. Em seguida, o país, além de ter de remeter lucros e juros para fora, fica ameaçado de crise de balanço de pagamentos.

Não é surpreendente que os países asiáticos dinâmicos, que ouvem muito menos que nós os economistas ortodoxos do Norte, tratem de administrar sua taxa de câmbio e não incorrer em deficit mas em superavit em conta-corrente. Se o Brasil apresentasse também um superavit, cresceria muito mais e com muito mais segurança do que hoje.

* Luiz Carlos Bresser-Pereira é professor emérito da Fundação Getúlio Vargas, onde ensina economia, teoria política e teoria social. É presidente do Centro de Economia Política e editor da “Revista de Economia Política” desde 2001. Foi ministro da Fazenda, da Administração e Reforma do Estado, e da Ciência e Tecnologia. 

Fonte: Folha

3 Comentários

  1. “…. A TEORIA econômica é uma ciência mais simples do que seus cultores neoclássicos ou ortodoxos supõem. Toda a matemática que usam para desenvolver seus modelos alienados da realidade é, além de desnecessária, prejudicial, porque os conduz a transformar o mercado em um mito, e a propor sua desregulamentação, cujo resultado são graves crises financeiras.
    Não é surpreendente que os países asiáticos dinâmicos, que ouvem muito menos que nós os economistas ortodoxos do Norte, tratem de administrar sua taxa de câmbio e não incorrer em deficit mas em superavit em conta-corrente. Se o Brasil apresentasse também um superavit, cresceria muito mais e com muito mais segurança do que hoje. …”==== o BRASIL tem de fazer CERTOS AJUSTE E CUIDAR MELHOR DA N INFRAESTRUTURA,então, o resto vai acontecer naturaslmente, sequência do agora. Sds.

  2. SEGUINDO OS MESMOS PASSOS DOS ASIÁTICOS

    Esse ano vai ser o ano da educação,pois o governo se deu conta o quanto é importante e estrategicamente falando,a educação e o conhecimento são importante pra o Brasil.

    Só falta o governo brasileiro valorizar a categoria dos professores,em especial o do ensino fundamental.

    Ultimamente o que esta em pauta na reuniões interministerial e nos pactos que o Brasil que está fazendo com os outros países tem como o conhecimento,o carro chefe para o governo da Dilma.

    Hoje ela esta nos EUA e a maioria dos seus contatos por lá, é com os grandes centros de informação e de conhecimento.

    Espero que esta busca seja eterna e não passageira como uma chuva de verão pois, como é para todos aqueles que queira buscar o conhecimento,ele é dinâmico.

    *********************(trechos do texto principal)
    Britânica BG planeja investir US$ 2 bi em pesquisa no Brasil

    A empresa britânica BG Group planeja investir US$ 2 bilhões em pesquisa e desenvolvimento no Brasil no setor de petróleo e gás até 2025, conforme revelou o presidente das operações da companhia no País, Nelson Silva, ao jornal Financial Times.

    (*)Por:Sílvio Guedes Crespo

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    (…)O Financial Times lembra que, com a escassez de mão de obra especializada em alguns setores no Brasil tem levado outras empresas a investirem em formação profissional no País.

    A Boeing, por exemplo, também quer construir um centro de tecnologia global, mas em São Paulo.

    Analistas acreditam que a iniciativa que procura aumentar as chances de a empresa americana ganhar um contrato de venda de caças para as Forças Armadas brasileiras no valor de US$ 5 bilhões. (…)
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    (**)Fonte:Estadão

    http://blogs.estadao.com.br/radar-economico/2012/04/09/britanica-bg-planeja-investir-us-2-bi-em-pesquisa-no-brasil/

    ESSE É O CAMINHO PARA O SUCESSO,A EDUCAÇÃO!

  3. Excelente a matéria.
    O homem do Plano Bresser em grande forma.
    Se não tivesse tido tantos problemas políticos, na ocasião do seu Plano Bresser, teríamos saído da hiperinflação 5 anos antes.
    Prá variar, o problema político era o Sr. Sarney e o Sr. Ulysses.

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