A Europa e a origem dos seus problemas

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Roberto Fendt

Recebo de amável leitor mensagem contendo os pontos principais de entrevista de um professor de Economia chinês que reside na França. De acordo com o Professor Kuing Yamang, vai mal a Europa, não de agora, mas de há muito. Haveria diversas razões para isso.

Primeiro, o seu modelo social é muito exigente em recursos, mas os europeus não estariam dispostos a trabalhar para obter esses recursos. Estariam interessados apenas no lazer e no entretenimento, na ecologia e no futebol pela televisão. Estariam vivendo além dos próprios meios.

Segundo, as indústrias europeias deslocaram-se progressivamente para outros mercados, onde o custo do trabalho não é onerado por uma carga tributária brutal necessária para manter um sistema generalizado de assistência social.

Terceiro, porque, não trabalhando o suficiente para manter o padrão de vida dos recipientes da assistência social generalizada, os europeus estão endividados e as futuras gerações de europeus não terão de onde tirar os necessários recursos para pagar a conta.

Quarto, e em decorrência, os europeus caminham para a destruição dessa qualidade de vida que obtiveram sem o correspondente esforço de trabalho para custeá-la. Uma consequência dessa opção pela boa vida precoce é o estado permanente de déficits em seus orçamentos públicos. Déficits geram dívidas que não terão como ser pagas, como se apontou no parágrafo anterior.

Quinto, não somente os europeus estão endividados, mas além de manter orçamentos deficitários, seus governos “sangram os contribuintes”, e a Europa é um “inferno fiscal” para seus quem cria riquezas, na linguagem enfática do professor.

Sexto, afirma ainda que não se produz riqueza simplesmente dividindo o que se tem. É preciso trabalhar para gerar riqueza. Os valores estão invertidos e os que trabalham e geram a riqueza são punidos por impostos. Os que não trabalham e não geram riqueza são beneficiados pelo “welfare state”, o estado do bem-estar social.

Sétimo, um sistema dessa natureza tem consequências perversas, já que o deslocamento da capacidade produtiva aumenta apenas o nível de vida e bem-estar da China e de outros países emergentes beneficiários dos investimentos europeus.

Oitavo, existem funcionários públicos demais na Europa. Um em cada cinco empregos está no governo. A despeito dos benefícios que recebem e da baixa produtividade, vivem em greve. Para os governos, contudo, melhor que essas pessoas estejam em atividade, embora com baixa produtividade, que desempregadas. Além disso, são todos eleitores.

Por fim, por todas as razões arroladas anteriormente, em duas gerações os europeus serão os pobres e os chineses os ricos.

O venerável “professor” chinês é uma parábola. É uma advertência aos europeus sobre os riscos do estado do bem-estar social que tão laboriosamente construíram. Reproduz, em linhas gerais, o discurso do senador romano Marco Túlio Cícero em 55 a. C.

Para ele, o orçamento nacional deveria ser equilibrado; as dívidas públicas deveriam ser reduzidas; a arrogância das autoridades deveria ser moderada e controlada; os pagamentos a governos estrangeiros deveriam ser reduzidos, se a Nação não quiser ir à falência; e as pessoas deveriam novamente aprender a trabalhar, em vez de viver por conta pública.

A questão é: como vender aos cidadãos-eleitores dos países europeus a ideia de que o sonho acabou?

A parábola do professor chinês, como qualquer parábola, é reducionista. Não é possível reduzir a um punhado de razões a complexidade do processo social. Menos ainda projetar o futuro com base nessas razões.

Mas o fato de serem impressionistas e nos levarem a refletir sobre os graves problemas que afligem a Europa contemporânea mostra que as “razões” têm pelo menos um fundo de verdade.

Por que a periferia da Europa decidiria também viver além dos próprios meios se não tivesse nos vizinhos o exemplo a seguir? Se o modelo deu certo para os alemães e franceses, por que também não para os gregos, portugueses, irlandeses e espanhóis? Como os políticos da periferia poderiam negar aos cidadãos de seus países os mesmos benefícios que os primos ricos já desfrutam? Afinal, não foi para isso que entraram para a União Europeia e alguns, mais afoitos, também para a área do euro?

A questão agora é como vender aos cidadãos-eleitores desses países a ideia de que o sonho acabou. Porque criar quimeras nas nuvens e prometer o céu na terra é a parte fácil da política. A parte difícil é levar as pessoas a caírem de volta “na real”.


Fonte: Diário do Comércio via Diário da Rússia

16 Comentários

  1. o texto é bom o chines levantou algumas questoes importantes sobre o que vem ocorrendo na europa,(realmente o serviço publico, e a ideia do “mundo das mil maravilhas” nao é bem assim nao , alguns na europa estao vivendo neste mundo, sem saber o que é realmente o mundo real) só que agora a casa caiu né(quantos “viajantes”(os aventureiros) europeus eu ja conheci , aqui no brasil mesmo), parece que estes “viajantes” agora vao virar (“acomodados em casa”), mas enfim acho que deu para entender né , a casa deles e o local de trabalho sera a nova viagem diaria a que terao que se “submeter”(até parece que isso é um esforço né rsrs.) (isso se tiver trabalho para “eles”).

  2. Sobre a Grécia:
    1)Importações em alta, exportações em baixa (diferença considerável); 2) Alto endividamento público (não é ruim, ruim é não conseguir pagar nem os juros); 3)Falta de autonomia (não emite sua própria moeda e é dependente das decisões da Alemanha e França); 4)Lambança dos banqueiros e sua crença na “mão invisível”; 5)”Não vamos perder um centavo sequer, seu fundo de pensão e de investimento é que sofrerá as consequências”; 6)Fraco desempenho na poupança.

    A coisa está muito feia lá. E o Brasil? O Brasil vai bem.

  3. O texto se aplica como uma luva a certa politica social-demagoga que tem sido implantada pelas terras de uma certa Republica Bananeira ao sul.

  4. Isso é fruto da arrogância daqueles que sempre enxergaram os povos do 3º mundo como raças inferiores, que só serviam para fazer o serviço que os europeus recusavam ,daqueles que sempre tiveram “”soluções”” para os problemas dos pobres do mundo,que de cima de seus pedestais ditavam cátedras !

  5. Isso me lembra a Roma antiga: pessoal só pensava no “pão e circo” e não queria saber de trabalhar e deixavam tudo nas mãos de escravos (terceiro mundo).

  6. Pois entao,a classe politica e a maioria de funcionarios publicos do brasil sofrem tambem deste mal,querem desfrutar dos prazeres da vida as custas de uma massa burra e tambem adepta da lei de Jerson.Duvido que abrirao mao da vida boa!

  7. o plobrema da europa, (fora a alemanha e que aprendeu uma dura e merecida lição na segunda guerra e ficaram espertos, e a suecia tambem )e q se acustumaram a serem colonizadores, e a porem os outros para trabalhar para eles, mas o mundo esta mudando, ou vc se adapta ou fica obsoleto, não da mais para querer ser um pais escritorio, com a economia baseada em especulação e que não produz mais nem um lapis q usa, ” limpar privada, lavantar parede, ha isso a imigrante faz por comida “, e como bem disse o jakson e melhor o brasil abrir o olho, muitos aqui tem esse mesmo tipo de visão inutil !!!

  8. Amigos, o Sistema capitalista e cheio de crises e coisas looucas, como esta crise! jaja estaram todos recuperados e muito bem…. lembrem na de 1929… O capitalismo mesmo nao sendo um sistema perfeito, sera dificil de quebrar!

  9. Precisamos livrar o mundo das guerras, da pretensão de países mandarem em países. E então todo o resto se dará jeito. Sem revanchismos e arrogâncias internacionais. Paz para nossos filhos, netos e demais.

    O difícil e lamentável é que tem um predador e seus asseclas que só pensam em conflitos bélicos.

  10. O mundo não tem graves problemas econômicos. O que está ocorrendo é a ocupação do espaço econômico mundial pela China e Índia. Devido a isso, está havendo uma espécie de adaptação. Alguns PIBs cairão entre 5% a 15%, e outros subirão. Os americanos não irão cair, pois eles podem emitir a moeda mundial (dólar), e o mundo tem aceitado isso sem questionar, o que é um absurdo. O Brasil vai mal, porque governa para os banqueiros e especuladores financeiros, não investe na produção como deveria, as taxas de juros são leoninas, a carga tributária é estratosférica,etc. Somos um besouro querendo voar. O que está nos salvando são as empresas multinacionais que cede parte dos seus lucros pra nós, e a China, que importa minérios, alimentos, etc. Não somos bom exemplo para nenhum país do mundo. O anarquismo brasileiro está nos ajudando, pois as multis ainda conseguem obter lucros aqui dentro, pois a nossa falta de controle permite uma economia subterrânea salvadora.
    Tem motorista de táxi no RJ ganhando R$ 10.000,00 / mês e sem pagar nenhum IR, ou seja, igual a um General de Exército. Corrupção, impunidade, assassinatos, falta de logística, etc.Se tivéssemos um pouco mais de organização e disciplina, passaríamos a crescer 8%aa, pois somos potencialmente muito ricos.

  11. O Euro e a Comunidade Europeia vai se esfacelar em poucos anos…simplesmente não dá para continuar. Só não acabou por medo de encarar a realidade. Atualmente o único que ainda “dá lucro”; ou seja trabalha para gerar mais riqueza que gastos é a Alemanha. E vem carregando nas costas esse bando de preguiçoso faz décadas…Não tem saída; ou os Alemães saem fora, ou vão cair no chão junto com os outros agarrados em suas tetas…O Brasil da “dona” Dilma que nem sonhe em dar uma de otário, e financiar esses falidos! Tem que seguir os Russos ( que os conhece muito mais; pois estão mais perto e já rolou muito sangue por lá…E já falaram que NÃO!) Dinheiro da Russia não sai pra pagar banqueiro europeu…Acorda Brasil!! Deixa falir, depois saímos comprando téc. de caça, míssil, satélite, química, etc…a preço de banana. Fora que vai ter um monte de cientista super graduado desempregado que iria adorar vir trabalhar aqui e morar perto da praia..rsrsrs. Tem q ter visão estratégica!!!

  12. É algo me diz que uma nova sombra negra de pobreza,violência,guerra e conflitos pairam sobre a Europa.
    Não duvido nada que malucos queiram a voltado comunismo.

  13. Com licença, vou copiar o comentário de outra matéria, acho importante destacar o fato da Europa não ter recursos naturais:
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    “Europa não tem futuro”
    Eu publiquei essa frase pela primeira vez faz mais de 2 anos no antigo blog PBrasil, depois muitas vezes voltei analisar a situação daqueles países concluindo sempre que inicialmente a causa dos problemas são (1)os altos salários e (2)a falta de recursos naturais.
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    Sempre coloquei que o efeito secundário dessa situação é a migração de empresas europeias para o Brasil. Agora todo se confirma, os empresários europeus não querem pagar salários altos.
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    Para o Brasil é uma enorme oportunidade da qual infelizmente o povo brasuca não vai poder tirar muito proveito.
    Pois é, é assim, é preciso qualificação profissional, é preciso estudo e nós estamos muito fracos na educação.
    Isso tem solução? Não. Já é um fato consumado, como comentei outras vezes, a migração de profissionais para o Brasil será parte das grandes migrações previstas para este século.
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    Isto é o que eu critico dos ‘intelectuais’ brasileiros, eles não veem a realidade, eles tem sua cabezinha na Europa, então, todo o que fala que Europa passa para um segundo plano no mundo, diretamente eles negam, não comentam, e acho que é um problema geral dos intelectuais de esquerda, não só BR mas tb hispânicos como o Pepe Escobar.
    Eles nunca deixaram Europa, migraram para o Brasil, mas seu cérebro ficou lá.
    A esquerda brasuca, é uma esquerda europeizada, não tem jeito, e isso é grave quando o negócio é ver a realidade.
    Não basta com ser neto de europeus, não basta com ser ‘socialista’, é preciso sempre oferecer argumentos sólidos, objetivos, também não basta repetir as besteiras das “crises cíclicas” do “proletariado” como uma classe social ‘santa’ impoluta e incorruptível nem da ‘plusvalia’ suposta teoria ‘científica’, hehe.
    [o patrão ganha contratando empregados, mas a plusvalia marxista foi uma das tantas mentiras dos que hoje se denominam ‘sionistas’. Se Marx vivesse seria sionista, né? rsrs, ele era um admirador público do Rothschild, e o ‘burguês’ lhe correspondia seu amor rsrs, como relatou varias vezes Bakunin, era uma admiração mútua].
    Europa seus filhos e seus netos cometeram vários pecados, acho o pior deles foi a soberbia.
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    3.Xenofobia
    Enquanto a cultura, eles têm muitas coisas boas, mas devemos destacar como principal contra o racismo e a xenofobia, essa sempre coloquei como a terceira causa do declínio europeu, se eles soubessem lidar com imigrantes talves teriam uma saída.

    Resumindo: 1.Altos salários. 2.Não tem recursos naturais nem território. 3.Sociedade xenófoba.

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