Travessia das Lagoas Litorâneas

Por: Cel Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)

Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

Travessia das Lagoas Litorâneas

Cidreira – Tramandaí

Por Hiram Reis e Silva, Cidreira, RS, 29 de novembro de 2009

“… Que importa que haja ondas revoltas,

ameaçando um casco acorrentando.

Quero respirar, no último momento,

a esperança diluindo-se em espumas,

espumas desmanchando-se em esperanças …”.
(Arita D. Pettená)

Depois do revés sofrido na Lagoa dos Patos resolvi mudar de ares e fui para o litoral continuar meu treinamento. Não desisti da Travessia para Rio Grande e pretendo executá-la futuramente com o apoio do Coronel da Polícia Militar Sérgio Pastl, experiente velejador, apaixonado pela Lagoa e conhecedor de seus mistérios.

Domingo, 29 de novembro de 2009, amanheceu com céu de brigadeiro. Sem nuvens e ventos do quadrante Este de 4 a 5 nós. Era um convite irrecusável, havia programada a travessia pelas lagoas litorâneas de Cidreira a Tramandaí na terça-feira que, segundo a previsão meteorológica, seria o dia ideal. Havia marcado os acessos aos canais no GPS transferindo os dados colhidos no Google Earth.

– Lagoa da Fortaleza

Parti da Lagoa da Fortaleza, às 11h30min, como estava sem leme controlei a direção do caiaque com o corpo, inclinando-o lateralmente para compensar o vento e as ondas de través. Rumei direto para o canal que a une à Lagoa Manoel Nunes onde existe uma represa construída pela Corsan, que impede o acesso dos peixes que demandam do Rio Tramandaí, um verdadeiro crime ambiental. A montante da represa o movimento intenso do cardume próximo à superfície anunciava que a cheia tinha permitido o acesso das tainhas à Lagoa da Fortaleza. Um trio de colhereiros cor-de-rosa acompanhavam inquietos meu deslocamento, mais adiante tarrãs, uma formidável maguari, marrecas piadeiras e pés-vermelhos levantaram vôo anunciando ruidosamente minha passagem.

– Laguna Manoel Nunes

Era interessante navegar no canal. A correnteza e a altura das águas contrastavam com a navegação que eu fizera, no mesmo local, no inverno, quando tive de tracionar o caiaque, a mão, puxando os juncos ou arrastando-o na foz rasa e assoreada do canal. A pequena Lagoa Manoel Nunes está quase que totalmente tomada pelas algas o que certamente impede ou pelo menos dificulta o uso de redes de pesca e espinhéis pelos adeptos da pesca predatória.

– Laguna do Gentil

Seguindo a orientação do GPS acessei, sem dificuldades, a estreita entrada do canal do Gentil, totalmente camuflado pelos juncos. Logo em seguida, num pequeno barranco, avistei três colhereiros, talvez os mesmos que vira anteriormente, acompanhados, desta feita, de marrecas piadeiras e um solitário quero-quero. Acostei numa margem, inundada pelas cheias, espantando um cardume de tainhas que descansavam nas águas mornas e rasas e retirei a máquina fotográfica para fotografar o bando. Mais adiante, um bosque a oeste, mostrava as cicatrizes dos ventos fortes que haviam assolado o litoral recentemente. A grande figueira, ao sul, havia resistido heroicamente e se mantido de pé, mas despojada de seus frondosos galhos, a esguia palmeira teve seu tronco quebrado ao meio e as árvores da primeira linha fora arrancada e expunha funebremente suas raízes retorcidas. As areias brancas e os bosques próximos ao sinuoso canal compõem o quadro magnífico deste belo canal. A Lagoa do Gentil mostra ao longe raras edificações na sua margem. Aportei, me hidratei e verifiquei o GPS confirmando o alinhamento, que já conhecia, de uma grande antena que sinalizava a entrada do próximo canal.

– Lagoa da Custódia

A entrada do largo Canal estava perfeitamente sinalizada pela cor amarelada dos juncos que tinham sido arrancados pelo tornado. Cruzei com sisudos pescadores que pilotavam um pequeno barco e logo depois com outros, junto a uma grande e mal conservada ponte de madeira que tarrafeavam sem sucesso. As águas haviam coberto as praias de areias brancas foz do canal. A Lagoa da Custódia estava totalmente tomada de construções nas suas margens Este e Nordeste. Calibrei o GPS e identifiquei meu último ponto de ataque, o Canal Tramandaí.

– Lagoa do Armazém

Diferente dos demais, as margens do canal estavam tomadas por construções, a visão, antes agradável e bucólica, fora substituída pela poluição, mau cheiro, e o descaso com o meio ambiente daqueles que moravam às suas margens. Na foz, avistei, a cidade de Tramandaí. Remei rápido na direção apontada pelo fiel GPS. Por mais de uma vez o remo cravou no leito assoreado da Lagoa e, depois, do rio. Foram cinco horas de navegação, a maior parte dela por belos e agradáveis recantos.

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)

Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

E-mail: hiramrs@terra.com.br

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