Por: Hiram Reis e Silva
Frederico Westfalen e a 333° palestra
“Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!
É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desceu sobre a barba, a barba de Arão, que desceu sobre a gola das suas vestes;
como o orvalho de Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordenou a bênção, a vida para sempre”.
(Salmo 133 – Bíblia Sagrada)
– Carlos Afonso Urnau Athanasio
O Ir:. (Irmão) maçon Carlos Afonso Urnau Athanasio foi nosso contemporâneo no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de Porto Alegre (CPOR/PA) nos idos de 1986. Na época, ele era aluno do Curso de Cavalaria, comandado pelo então, capitão Marco Dangui Pinheiro, e eu instrutor chefe do curso de Engenharia. Vinte e três anos passados, o Ir:., agora Dr. do TCE/RS, me faz um convite para ministrar uma palestra, sobre a Amazônia e o Projeto desafiando o Rio-mar, em sua nova querência. Sempre digo que convite de amigo é uma convocação e parti escoltado por dois irmãos maçons e ex-alunos do Colégio Militar de Porto Alegre, os Coronéis do Exército Brasileiro – Deoclécio José de Souza e André Flávio Teixeira.
– Frederico Westphalen
Na tarde de 30 de setembro, o Ir:. Carlos nos propiciou a grata oportunidade de desfrutar da companhia do escritor Wilson A. Ferigollo em um ‘tour’ pela bela cidade e suas cercanias. O livro intitulado ‘Rostos e Rastros no Barril – 1954/2004’, de Ferigollo, mostra como a bela cidade construiu sua identidade alicerçada no vigor dos colonizadores harmoniosamente mesclada à fibra guasca nativa. Transcrevemos, abaixo, um trecho do livro do amigo Wilson que me foi ofertado por ele e os amigos rotarianos.
“No segundo governo de Borges de Medeiros a região do Alto Uruguai passou a receber atenção, criando-se a Comissão de Terras e Colonização do Norte, com sede em Palmeira, conforme Decreto 2250 de 13.02.1917, sob o comando do Engenheiro Frederico Westphalen. O objetivo principal da Comissão era desbravar e distribuir terras aos agricultores que desejassem fixar residência ao Norte do Estado. A colonização da Vila Barril foi uma verdadeira salada de sobrenomes, temperada de italianos, poloneses, açorianos e alguns alemães, que mesclados aos nativos residentes à costa dos rios, deu origem a essa população que tem proporcionado uma nova cultura. Ao natural os sobrenomes italianos foram dominando o território que estava sendo desbravado.
A colonização do município de Frederico Westphalen iniciou em 1918, quando as três primeiras famílias solicitaram reserva de áreas rurais, estabelecendo-se inicialmente no então povoado denominado de Vila Mussolini e que, em 1945, sofreu alteração para Osvaldo Cruz.
Contam os historiadores que dezenas de pessoas residiam na região, mas não existem documentos comprovando, e a vinda dos agricultores passou a ser a fonte ou referência. A promessa de glebas de terras férteis e as facilidades de escolha e a garantia de 25ha foi ponto fundamental para atrair agricultores, trocando as terras velhas ou cansadas e reduzidas pela nossa região.
A tenacidade, a disposição para o trabalho e a coragem, somadas à fibra espartana, foram os elementos necessários para o êxito e bem-estar dos colonos aqui chegados. Ao se instalarem nos lotes demarcados, ou não, pelo governo, os migrantes encontraram todo o tipo de obstáculos e dificuldades, desde a falta de moradias, a falta de sementes, ferramentas e atendimentos à saúde”. (Rostos e Rastros no Barril)
Os parágrafos abaixo são do Site de Prefeitura de Frederico Westphalen e tem, também, a participação de Ferigollo.
“Os primeiros carreteiros João Tombini, Ângelo Serafini, José Copatti sob o comando do comerciante estabelecido na Boca da Picada, Antonio Marino Zanatto faziam o transporte de produtos manufaturados e da produção agrícola. Numa dessas viagens, um barril de aguardente caiu da carroça, danificando a tampa e para não jogar fora a vasilha, eles tiveram a idéia de colocá-lo na fonte, sob a sombra, ligando com uma taquara. A localização do barril à beira da estrada com água limpa e muita sombra colaborou para o surgimento da expressão ‘vou descansar, comer e dormir no barril’. Assim o lugarejo foi crescendo na selva do Vale Alto Uruguai.
Mais tarde, pelo Decreto 30 do Prefeito de Palmeira das Missões, por decisão de uma assembléia de moradores foi fixado o nome de Vila Frederico Westphalen, homenageando o Engenheiro que colonizou a região sob o comando do Governo do Estado”.
– Palestra na URI
Na noite de 30 de setembro, no auditório da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, concedi uma breve entrevista para o jornal ‘O Alto Uruguai’ e, logo em seguida, fui apresentado ao público presente pelo Ir:. Carlos, cujo texto reproduzo abaixo.
“Que sejam minhas primeiras palavras as palavras de boas vindas a todos os presentes, reiterando a saudação já feita pelo Sr. Presidente do Rotary Club Barril, companheiro Gersom Batistella. Pois tenho a honra e a satisfação de apresentar o palestrante de hoje, velho amigo, companheiro de farda e Irmão, o Senhor Coronel de Engenharia do Exército Brasileiro, Hiram Reis e Silva.
O nome do palestrante que apresento, carrega a realeza e a dedicação a um ideal por uma causa. Na antiguidade, necessitando da construção de um Templo, o Rei Salomão chamou seu melhor construtor, o Mestre Hiram, para tal finalidade, o que resultou na obra o Templo do Rei Salomão, na vetusta Jesuralém, Obra de engenharia estudada por arqueólogos e desvendada por historiadores modernos.
Também, por ser ‘Reis’, o Coronel Hiram realça a sua condição sem perder a simplicidade do Soldado que é, fiel às tradições da caserna e de uma Instituição, como o Templo do Rei Salomão, Milenar. Ao ser indagado pelo Rei Salomão, quando da conclusão da Obra do Templo, o que desejava em retribuição aos serviços prestados, o Mestre Hiram disse, com a simplicidade que marcou a sua existência: ‘quero, somente, um lugar dentre vós’, renunciando, assim às riquezas materiais que faria jus pelo trabalho realizado.
Assim é a vida dos militares que diante do dever a ser cumprido e de um ideal, renunciam a quase tudo, tendo como simples pagamento a certeza de que a missão conferida foi cumprida com êxito. Do Mestre Construtor antigo ao nosso Palestrante não há um traço que os diferencie no ideal que carregam em seus corações.
Lá, a construção de um Templo, materializando o sonho e o desejo de um Rei Justo e Perfeito. Aqui, militar dedicado, bom pai, professor exemplar da cátedra que detém junto ao Colégio Militar de Porto Alegre, há quase uma década.
Amigo dos seus amigos, Obreiro dedicado ao saber, à cultura e às tradições do Estado e do País que serviu e serve, agora, como propagador da causa Amazônica. Nosso Palestrante Comandou Unidades e construiu estradas na Amazônia, domando o terreno, o clima hostil e as adversidades próprias daquela Região.
Numa rápida definição daquilo que veremos e ouviremos do nosso Palestrante, se é que isto é possível, é que estaremos vendo e ouvindo, sem intervenção de satélite, a um episódio da National Geografic!
A Selva nos Une!
A Amazônia nos Pertence!
Tudo pela Amazônia!
Selva!
Assim se saúdam os que serviram na e pela Amazônia, Lema que demonstra o carinho e o zelo que o Militar tem com aquela Região e o que ela significa para o Brasil”.
Realizamos nossa amazônica palestra que foi prestigiada por autoridades do legislativo, membros do Rotary, corpo docente da URI, universitários e importantes formadores de opinião do município. O interesse do público pelo tema foi materializado pelas perguntas inteligentes e postura dos mesmos durante a exposição.
– Escola Nossa Senhora Auxiliadora
No dia seguinte, depois de uma entrevista para a emissora ‘Luz e Alegria’, acompanhados pelos meus fiéis escudeiros, nos dirigimos à Escola Nossa Senhora Auxiliadora. O público desta vez era formado por estudantes do Ensino Fundamental a partir da 5ª ano e minha proposta era trabalhar os atributos da área afetiva tais como: determinação, garra, coragem, senso de organização e de planejamento, dedicação, persistência, compromisso com a tarefa, idealismo, patriotismo e, por isso, relatei apenas minha descida pelo Solimões de caiaque.
Foi um momento de puro encantamento observar aqueles olhinhos brilharem à cada nova imagem apresentada ou a cada fato relatado. Ao final do evento, os pequenos me presentearam com abraços, beijos e pedidos de autógrafo como se fosse eu uma personalidade importante. Chorei, eu e meus amigos, perante aquela espontânea e efusiva manifestação da gurizada. Posso afirmar, sem medo de errar, que, de todas as palestras realizadas, foi a que mais me marcou e emocionou. Muito obrigado crianças!
– E-mail do Ir:. Carlos
“Hiram! Meu querido Irmão, SFU (Saúde, Força e União)!
Não tenho como expressar o que vivi, nas últimas 24 horas! Da extrema alegria de estar com companheiros de farda de mais de 20 anos à tristeza em vê-los partir, com um aceno de mão do querido Irmão Teixeira e a direção prudente do não menos querido Irmão Deó!
Não resisti e chorei escondido quando vi um grupo de meninas dizerem ao Hiram que agradeciam a palestra e queriam beijá-lo; ou os meninos que se seguiram, pedindo um autógrafo nas anotações da palestra! Tudo isto foi demais para mim e ainda estou processando.
O sacana do Teixeira, como próprio do FE e do MI, mexeu com as minhas ‘abelhas’, deixando-me mais do que reflexivo; quase contemplativo com as ‘coisas’ do outro mundo; ou melhor, do mundo que poucos vem (sem acento). Escrevo e vem à lembrança a cena das crianças em volta do Hiram. Não teve quem não tremeu com aquilo, haja coração!
Hiram, não tenho palavras para agradecer e vi, na saída, as lágrimas do mano Deó (há mais de 20 anos atrás fui até à 13ª Cia Com em São Gabriel, comandada por ele, para pegar emprestado uma mochila para rádio de um M41); que peça a vida me pregou. Ao mano Deó devo um novo jantar e mais alguns dias, para outra carne de panela.
(…) Queridos! Vai Custar a fechar a influência, no meu peito, da passagem de vocês, aqui! Hiram, beijo no teu coração! Deó, querido, até breve! Minha casa é tua! Teixeirão! Que missão tu me deixaste! Próprio de FE! As idéias irão e voltarão!
TFA (Tríplice e Fraternal Abraço), aos Irmãos!”
– Conclusão
O encantamento de cada momento, vivenciado em Frederico Westphalen, estremeceu nossas entranhas e fez brotar uma semente de esperança ao observar aqueles jovens corações e mentes que conosco se emocionaram. Parabéns Frederico Westphalen! O vigor e a virtude de um povo são aquilatadas pelos seus mais jovens representantes que, no caso, demonstram, muito bem, que os ensinamentos ancestrais continuam norteando suas ações e suas vidas. Obrigado a todos vocês que nos brindaram com seu carinho e atenção.
Solicito Publicação
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br
E-mail: hiramrs@terra.com.br
NOTA DO BLOG: Os artigos publicados na seção Amazônia Nossa Selva não necessariamente reflentem a opinão do Blog PLANO BRASIL, simplesmente por se tratarem de textos de autoria e responsabildades do autor.