O que se sabe e o que não se sabe sobre a nova investigação dos e-mails de Hillary Clinton

O diretor do FBI, James Comey, revolucionou na quinta-feira, dia 27 de Outubro, a campanha eleitoral norte-americana ao anunciar que a agência localizou novos e-mails que poderiam estar relacionados à investigação já encerrada sobre o servidor privado de Hillary Clinton.

Desde então, acumulam-se as novidades e as incógnitas sobre o caso que monopolizará o debate político até as eleições presidenciais de 8 de Novembro, em que Clinton enfrenta o republicano Donald Trump.

A seguir, respondemos as principais perguntas sobre a nova investigação a Clinton:

O que aconteceu na quinta-feira?

O que o FBI investiga agora?

Na carta, Comey explica que o FBI, a partir de um “caso não relacionado”, soube da “existência de e-mails que parecem ser pertinentes” na investigação sobre a candidata democrata, mas pondera que não sabe nada sobre o que dizem essas mensagens.

Os detalhes que Comey não deu, que reforçaram a confusão e a tormenta política sobre sua carta, foram passados por funcionários do Governo à mídia norte-americana. As novas mensagens foram encontradas em um computador utilizado por Anthony Weiner e Huma Abedin, sua esposa de quem está em processo de separação e que é o braço direito de Clinton. O FBI analisou o computador em sua investigação, iniciada em setembro, em função das mensagens de conteúdo sexual que Weiner mandou a uma menor e que levaram Abedin a anunciar a separação.

O que há nesses novos e-mails?

Essa é a principal incógnita. Para poder ler as mensagens, os agentes precisam de uma ordem judicial diferente da que foi obtida para levar o computador. Essa nova ordem foi recebida no domingo, dia 30 de outubro, com relação às mensagens de Abedin, e agora poderão começar a analisar os documentos da assessora de Clinton.

No computador, o FBI encontrou cerca de 650.000 mensagens, das quais vários milhares foram enviados ou recebidos pelo computador privado de Clinton em sua casa e que abrigava a conta eletrônica privada usada enquanto era chefe da diplomacia norte-americana, segundo pessoas que participaram da investigação informaram ao jornal The Wall Street Journal.

Calcula-se que o FBI demorará semanas para determinar quantos desses e-mails são duplicados dos cerca de 30.000 que já analisou em sua investigação inicial do computador de Clinton. Também para dirimir se as mensagens podem conter informação classificada ou novos dados relevantes na investigação para a candidata democrata.

Por que o FBI fez o anúncio antes das eleições?

O julgamento sobre se o chefe do FBI fez ou não o correto ao mandar sua carta na quinta-feira, a menos de duas semanas das eleições, certamente o perseguirá pelo resto de sua carreira. No texto, explica que acredita ser necessário comunicar o Congresso que foi retomada a investigação sobre Clinton que ele já tinha considerado concluída. Caso Comey não tivesse informado o Congresso antes das eleições do dia 8, poderia ser acusado de querer interferir no resultado.

No entanto, o Departamento de Justiça, ao qual é vinculado, advertiu Comey de que comunicar o Congresso sobre as novas mensagens violaria as diretrizes que recomendam não comentar investigações em curso nem interferir no processo democrático, segundo a mídia norte-americana. Comey não se manifestou.

O diretor foi informado sobre esses novos e-mails na quinta-feira, mas o pessoal do FBI sabia desde o início de outubro que tinham sido encontrados e-mails no computador obtido na investigação a Weiner. Desconhece-se por que não informaram Comey na época.

Os novos e-mails podem ser relevantes?

Sim e não, dependendo se os agentes encontrarem algo novo sobre o uso que Clinton fez deles. É um delito federal o mau uso de informação de segurança nacional, por exemplo se Clinton colocou intencionalmente em risco com seu e-mail privado a comunicação segura de informação oficial. Na investigação encerrada em julho, o FBI eximiu a democrata de qualquer delito.

Mas a agência não conseguiu encontrar todos os aparelhos eletrônicos usados pela então secretária de Estado e seus assessores, e por isso é relevante para a investigação que agora apareça um novo computador que possa conter mensagens relacionadas ao computador privado de Clinton. Nas pesquisas anteriores, os agentes entrevistaram Clinton e Abedin.

Qual foi a reação ao anúncio do FBI?

A democrata Clinton pediu a Comey que divulgue todos os dados sobre a nova investigação e qualificou seu comportamento de “profundamente preocupante”. Para o republicano Trump, o anúncio do FBI representou um balão de oxigênio em um momento em que as pesquisas davam a Clinton uma vantagem de cinco pontos. Trump acusou seu rival de “conduta ilegal”, mas evitou reforçar a polêmica.

O líder democrata do Senado, Harry Reid, sugeriu que Comey pode ter violado a lei Hatch, que impede funcionários de usar seu cargo para influenciar uma eleição. “Mediante suas ações partidárias, ele pode ter violado a lei”, escreve Reid em uma carta ao diretor do FBI, a cujo rascunho o Journal teve acesso.

A divulgação afetou as pesquisas?

A vantagem de Clinton frente a Trump nas pesquisas diminuiu desde sexta-feira de 5 pontos percentuais para 4,3, segundo a média da publicação Real Clear Politics. Mas se desconhece se se deve sobretudo à melhora que o republicano já vinha experimentando nos dias anteriores ou ao anúncio do FBI.

Uma sondagem do The Washington Post e ABC News, divulgada neste domingo e realizada entre terça e quinta-feira, concede a Clinton apenas um ponto de vantagem frente a Trump se os dois candidatos forem considerados de forma independente. Três em cada dez votantes garantem que o anúncio do FBI torna mais improvável que apoiem a democrata. Para seis em casa dez, o anúncio não muda nada.

JOAN FAUS

Foto: Reuters – Hillary Clinton em um comício de campanha em Des Moines.

Edição: konner@planobrazil.com

Fonte: El País

Escândalo de e-mails rebate no FBI

Diretor do FBI é acusado de infringir a lei ao revelar investigações sobre e-mails de Hillary Clinton. Senador democrata o acusa de ter dois pesos e duas medidas em relação a candidatos à presidência.

A poucos dias das eleições presidenciais no EUA, o senador democrata Harry Reid afirmou que o diretor do FBI, James Comey, pode ter infringido a lei ao fazer declarações públicas sobre as investigações dos emails da candidata Hillary Clinton.

O senador enviou neste domingo (31/10) uma carta a Comey, acusando-o de agir com dois pesos e duas medidas na maneira como lida com informações sobre os candidatos rivais.

Reid, líder da minoria democrata no Senado, afirmou que o diretor se precipitou ao tornar públicos detalhes das investigações sobre Hillary, ao mesmo tempo em que se omitiu de dar informações sobre as conexões do candidato republicano Donald Trump com a Rússia.

“Suas ações nos últimos meses vêm demonstrando um padrão duplo no tratamento de questões sensíveis, com o que aparenta ser uma clara intenção de privilegiar um partido político em detrimento do outro”, disse Reid.

“Meu gabinete determinou que essas ações podem ter violado a diretriz Hatch, que proíbe oficiais do FBI de usarem sua autoridade para influenciar uma eleição. Através de suas ações sectárias, o senhor pode ter violado a lei”, dizia a carta.

O veterano senador reclamou que as informações sobre os e-mails de Hillary Clinton não eram diferentes do material que foi anteriormente considerado sem provas de ilegalidade. Ao mesmo tempo, diz, Reid, as informações sobre o envolvimento de Trump com “interesses estrangeiros abertamente hostis aos EUA” continuam sendo mantidas em sigilo.

FBI obtém mandado para vasculhar e-mails

“Não há ameaça aos interesses americanos se publicados [os e-mails]. Ainda assim, o senhor continua a resistir aos pedidos para que o público tenha acesso a essas informações cruciais”, acusou o senador. Em setembro, os democratas pediram que o FBI que investigasse se o governo da Rússia estava tentando sabotar as eleições presidenciais.

As investigações sobre os e-mails de Hillary tinham sido encerradas em julho, sem que nenhuma irregularidade fosse encontrada. O anúncio de Comey de que o FBI analisa uma leva recentemente descoberta de e-mails pegou os democratas de surpresa. Não está claro se a correspondência eletrônica apreendida de um aparelho pertencente a Huma Abedin, assistente de Hillary, seriam ou não duplicatas dos e-mails já examinados.

O FBI obteve neste domingo um novo mandado para vasculhar os emails em busca de novas informações. A agência já examinava as comunicações de Abedin como parte das investigações sobre outro caso envolvendo o ex-congressista democrata Anthony Weiner, envolvido num escândalo sexual.

Hillary pediu a divulgação dos detalhes da investigação. Ela considerou este um caso “sem precedentes” e “profundamente preocupante”. “É muito estranho que algo assim seja publicado com tão pouca informação pouco antes de uma eleição”, disse a candidata.

A controvérsia sobre os emails já vinha ofuscando a candidatura democrata desde o início da campanha. Alguns especialistas acreditam que o FBI poderá realizar progressos significativos antes mesmo das eleições, no dia 8 de novembro.

RC/ap/afp/lusa

Foto: Comey, diretor do FBI, é acusado de dois pesos e duas medidas em detrimento da campanha de Hillary Clinton.

Edição: konner@planobrazil.com

Fonte: DW