A Bélgica aprovou a transferência gratuita de seus quatro navios de contramedidas de minas (MCM) da classe Tripartite para a Bulgária, em uma decisão que reforça as capacidades da OTAN no Mar Negro e abre espaço para maior cooperação militar com a Ucrânia. A medida, aprovada pelo Conselho de Ministros belga em 12 de setembro, prevê que a Bulgária assuma os custos de restauração da prontidão operacional das embarcações.
O pacote logístico inclui não apenas os quatro navios belgas, mas também três navios MCM holandeses, peças de reposição e um simulador tático. O entendimento foi alcançado após negociações trilaterais entre Bruxelas, Haia e Sófia, e será formalizado em um Memorando de Entendimento (MdE) que detalhará responsabilidades administrativas e técnicas.
Embora a transferência seja feita sem custos de aquisição para a Bulgária, o país terá de arcar com o comissionamento e a manutenção, preferencialmente em parceria com operadores e fornecedores belgas. Além disso, Sófia se comprometeu a apoiar a Ucrânia no treinamento e orientação de tripulações que já receberam navios da mesma classe. Em junho de 2025, Bélgica e Países Baixos doaram dois caça-minas Tripartite a Kiev, e um terceiro deve ser entregue ainda este ano.
A cessão dos Tripartite ocorre em paralelo ao processo de modernização das marinhas belga e holandesa, que já se preparam para receber seus primeiros navios do programa conjunto de Contramedidas de Substituição de Minas (rMCM), construídos na França. Ao todo, cada país terá seis novas embarcações equipadas com sistemas remotamente operados capazes de detectar e neutralizar minas navais com maior precisão e segurança.
Essas futuras plataformas MCM substituirão gradualmente os Tripartite, ampliando a flexibilidade operacional e incorporando tecnologias modulares que permitirão adaptação constante às ameaças emergentes. Para especialistas, essa renovação não apenas fortalece a defesa costeira e as linhas marítimas de comunicação da OTAN, como também garante maior interoperabilidade entre aliados.
A transferência para a Bulgária ocorre em um momento de crescente militarização da região do Mar Negro, especialmente após a intensificação das operações navais russas desde 2022. Para Sófia, a aquisição representa um salto qualitativo em uma área crítica de segurança marítima. Já para Bruxelas e Haia, a cessão dos Tripartite é um passo estratégico: permite apoiar um aliado exposto às pressões geopolíticas enquanto libera espaço para a introdução da frota de nova geração.
O movimento ainda acrescenta uma dimensão indireta de apoio à Ucrânia, que, mesmo sem acesso pleno ao Mar Negro, poderá se beneficiar do treinamento búlgaro para tripulações de caça-minas, elemento essencial em um cenário em que o bloqueio marítimo e a guerra de minas se tornaram parte central da guerra naval contemporânea.