O governo francês oficializou o início de um ambicioso programa de defesa destinado a desenvolver um míssil balístico de médio alcance (MRBM) capaz de atingir alvos a até 2000 km. Batizado de Missile Balistique Terrestre (MBT), o projeto marca o retorno da França à categoria de nações que investem em vetores terrestres de longo alcance, um domínio que o país havia abandonado desde os anos 1990.
O financiamento inicial do MBT está previsto na proposta orçamentária nacional de 2026, inserido no plano de desenvolvimento estratégico até 2030. A ArianeGroup, tradicional fabricante de veículos espaciais e mísseis estratégicos, foi escolhida como contratante principal, uma decisão considerada natural, dada sua experiência na concepção do míssil balístico intercontinental M51, atualmente em serviço nos submarinos nucleares franceses.
De acordo com os números divulgados, o investimento começará de forma modesta, com € 15,6 milhões em 2026, € 20 milhões em 2027 e € 44 milhões em 2028, antes de um salto significativo para € 820 milhões nos anos seguintes. O lançamento do primeiro protótipo está previsto para 2030, com um custo total estimado em € 900 milhões.
A curta duração do cronograma, apenas quatro anos de desenvolvimento ,se explica pela continuidade tecnológica que o ArianeGroup pretende aproveitar. Assim como no programa M51, o novo míssil deve herdar soluções técnicas de motores de foguete sólido derivados do propulsor P241 usado no lançador Ariane 5, além de empregar sistemas já consolidados de separação de estágios, guiagem inercial e propulsão sólida de alta performance.
Durante o Salão Aeronáutico de Paris, em Le Bourget, a empresa já havia revelado maquetes de mísseis balísticos com alcances entre 1000 e 2500km, demonstrando que o conceito estava em gestação antes mesmo da aprovação oficial do programa.
Outro ponto de destaque é a possível integração de veículos planadores hipersônicos (HGVs), tecnologia na qual a França vem investindo de forma independente após o declínio da cooperação com os Estados Unidos. Essa característica poderá elevar significativamente a capacidade de penetração e a velocidade do MBT, inserindo-o na nova geração de sistemas estratégicos globais.
Com o Missile Balistique Terrestre, Paris busca reforçar sua autonomia tecnológica e consolidar a ArianeGroup como pilar central da indústria aeroespacial e de defesa europeia.