A Coreia do Sul deu um passo decisivo para entrar no clube restrito das potências hipersônicas. Em setembro de 2025, Seul revelou imagens inéditas do Hycore, seu primeiro míssil de cruzeiro hipersônico em testes de voo, desenvolvido pela Agência para o Desenvolvimento da Defesa (ADD) em parceria com a Hanwha Aerospace. Para além da tecnologia, a mensagem é clara: o país não pretende ficar para trás na corrida estratégica que hoje mobiliza Estados Unidos, China, Rússia e até a Coreia do Norte.
As imagens mostraram o lançamento do míssil a partir de uma plataforma terrestre e a separação de seu propulsor, deixando para trás a era das maquetes e das renderizações de computador. O Hycore é real — um protótipo funcional que já se aproxima da fase de implantação. Seu design lembra o norte-americano X-51 Waverider, otimizado para voar a mais de Mach 6,2 e realizar manobras evasivas em plena trajetória.
Com quase nove metros de comprimento e pesando 2,4 toneladas, o míssil foi projetado para percorrer cerca de 800 quilômetros, combinando cruzeiro em alta altitude com um planeio hipersônico final, sustentado por um motor scramjet de modo duplo — uma das tecnologias mais complexas da atualidade. Essa combinação reduz drasticamente o tempo de reação de qualquer adversário e coloca em xeque os sistemas de defesa antimísseis mais avançados da região.
Mas o Hycore não é apenas uma arma de dissuasão contra Pyongyang. Ao ser adaptado para diferentes plataformas — submarinos, navios, bases terrestres e até o caça furtivo KF-21 —, o míssil amplia a capacidade sul-coreana de projetar poder em todo o Indo-Pacífico. Em sua versão antinavio, pode ameaçar até mesmo grupos de porta-aviões em águas disputadas, um recado direto a Pequim e Moscou.
Para os sul-coreanos, o anúncio tem também um peso simbólico. É a prova de que o país, antes dependente de fornecedores externos, agora domina áreas de ponta como a propulsão scramjet e a engenharia de materiais resistentes a temperaturas extremas. Especialistas lembram que, paralelamente, Seul também trabalha em veículos planadores hipersônicos (HGVs), cobrindo as duas frentes dessa tecnologia.
Apesar do entusiasmo, ainda há obstáculos. O cronograma oficial prevê a conclusão das etapas técnicas até 2029, com entrada em serviço no início da década de 2030. Até lá, será preciso equilibrar o pesado investimento com outros programas estratégicos, como o caça KF-21 e a ambição de operar submarinos de propulsão nuclear.
Ainda assim, o Hycore já reposiciona a Coreia do Sul no tabuleiro estratégico global. Ao revelar seu míssil, Seul envia uma mensagem dupla: ao público interno, reforça a confiança na defesa contra um vizinho imprevisível; ao mundo, mostra que está pronta para competir de igual para igual com as potências que ditam as regras da guerra do futuro.
