E.M.Pinto
Desde a aposentadoria do AIM-54 Phoenix em 2004, a Marinha dos Estados Unidos ficou sem um míssil Ar-Ar de longo alcance capaz de engajar alvos estratégicos na faixa de centenas de quilômetros. O AIM-120D AMRAAM, embora eficiente, não preenchia essa lacuna por seu alcance limitado (cerca de 160 km). Nesse contexto, começaram a circular rumores sobre a adaptação de um míssil já existente para esta função,apontado por alguns estrategistas como uma variante RIM-174 Standard ERAM (SM-6), um sistema de defesa antiaérea Superfície -Ar lançado de navios da família Standard Missile.
Desde 2015, veículos especializados como o Naval News já levantavam hipóteses sobre um “SM-6 lançado do ar”. Imagens da arma surgiram em 2018 e 2021 e mostravam aeronaves F/A-18 Super Hornets carregando mísseis semelhantes ao SM-6, alimentando a ideia de que a Marinha trabalhava em um programa sigiloso.
Esse programa foi tratado como um “Special Access Program”, definidos como iniciativas secretas que buscam dar aos EUA vantagens estratégicas sobre adversários tais como a Rússia e China. A confirmação veio em 2024, quando o míssil foi oficialmente batizado como AIM-174B Gunslinger.
De fato se confirmou o que era especulado, o AIM-174B é, em essência, uma adaptação Ar-Ar do RIM-174 SM-6, mas sem o booster de lançamento Mk 72, necessário para disparos a partir de navios. Essa modificação o torna compatível com caças como o F/A-18E/F Super Hornet por exemplo, atualmente o único vetor da Marinha e Fuzileiros conhecido capaz de transportá-lo.
Em termos de design, o míssil mantém praticamente a mesma aparência do SM-6, com dimensões robustas que chegam a 4,7 m de comprimento e massa de 860 kg, cerca de cinco vezes mais pesado que o AIM-120 AMRAAM. O Míssil é composto por:
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Motor de foguete sólido o qual fornece empuxo sustentado em altitudes elevadas, aproveitando a velocidade inicial da aeronave lançadora.
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Guiagem múltipla a qual combina navegação inercial com radar ativo e semiativo, aumentando a precisão em distâncias extremas.
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Ogiva de fragmentação de 64 kg, projetada para destruir alvos de grande porte, como aviões-tanque, aviões de alerta aéreo antecipado (AWACS) e bombardeiros pesados.
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Perfis de voo avançados que podem realizar o chamado lofting, subindo a altitudes entre 24 mil e 30 mil metros antes de mergulhar sobre o alvo, ampliando o alcance potencial para 300–400 km, embora a Marinha só confirme oficialmente 240 km do teste de lançamento, entratnto algumas fontes relatam o alcance máximo de 620km.
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O design do AIM-174B não busca apenas replicar a função do Phoenix, mas superar suas capacidades. Graças à tecnologia herdada do SM-6, o míssil pode, em teoria, desempenhar funções adicionais de defesa antimíssil, ataques antinavio e até operações contra alvos terrestres.
Especificações técnicas do AIM-174B Gunslinger
Característica | Dados aproximados |
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Origem | Estados Unidos |
Fabricante | Raytheon |
Entrada em serviço | 2021 (?) – presente |
Lançador | F/A-18E/F Super Hornet |
Massa | 860 kg |
Comprimento | 4,7 m |
Diâmetro | 0,34 m |
Envergadura | 1,07 m |
Ogiva | Explosiva, fragmentação |
Peso da ogiva | 64 kg |
Motor | Foguete sólido |
Velocidade máxima | Mach 3,5 (≈ 4.288 km/h) |
Alcance oficial confirmado | 240 km (130 milhas náuticas) |
Alcance estimado (perfil loft) | 300–400 km+ |
Guiagem | Inercial + radar ativo/semi-ativo |
Variedades confirmadas | YAIM-174, XAIM-174, NAIM-174, AIM-174B, CATM-174B |
Isso o coloca-o na categoria de um sistema multifuncional, capaz de redefinir o papel dos caças navais dos EUA em cenários de alta intensidade, sobretudo no Indo-Pacífico. Ao conjugar o histórico de secretismo com um design versátil e poderoso, o Gunslinger busca consolidar a manutenção da superioridade aérea e naval norte-americana.
Versões da arma
Designação | Significado |
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XAIM-174 | Versão experimental inicial do míssil, usada para validar conceito e aerodinâmica. Protótipo de laboratório/voo. |
YAIM-174 | Versão de pré-produção ou protótipo avançado, já em testes operacionais de campo e de integração com caças. |
NAIM-174 | Variante instrumentada para testes de voo, equipada com sensores, telemetria e sistemas de coleta de dados. Não usada em combate. |
AIM-174B | Variante operacional de série. O “B” indica a segunda versão ou uma modificação significativa da versão inicial (AIM-174A teria sido o conceito original). |
CATM-174B | Captive Air Training Missile – versão inerte, sem motor ou ogiva, usada para treinamento de pilotos e testes de integração (pode ter peso e dimensões idênticas ao míssil real). |
O surgimento do AIM-174B Gunslinger, foi revelado oficialmente pela Marinha dos Estados Unidos durante o exercício RIMPAC 2024, e pode-se dizer que a arma é um divisor de águas na corrida armamentista aérea. Desenvolvido pela Raytheon, o míssil.
O AIM-174B entra em um contexto de competição militar com Rússia e China, que já operam ou desenvolvem mísseis semelhantes:
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Rússia: o R-37M, com alcance acima de 300 km, empregado em caças MiG-31 e Su-35.
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China: o PL-21, ainda em desenvolvimento, mas com pretensões de superar os sistemas ocidentais.
Ao equipar o Super Hornet, o míssil amplia a capacidade de dissuasão da Marinha dos EUA, sobretudo em operações navais no Indo-Pacífico, onde o poder aéreo chinês cresce rapidamente.
Especialistas sugerem que o Gunslinger pode ser empregado não apenas contra aeronaves estratégicas, mas também em ataques antinavio e até em defesa antimíssil, aproveitando a herança tecnológica do SM-6, do qual deriva. Isso reforça sua versatilidade como peça-chave da chamada “zona de negação aérea” imposta pelos EUA.
Comparativo de alcance de mísseis ar-ar
Míssil (País) | Alcance estimado | Status |
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AIM-120D AMRAAM (EUA) | 160 km | Em serviço |
AIM-54C Phoenix (EUA, retirado) | 184 km | Retirado em 2004 |
AIM-174B Gunslinger (EUA) | 240–400 km | Em serviço (2024–) |
R-37M (Rússia) | 300–400 km | Em serviço |
PL-21 (China) | 300+ km | Em desenvolvimento |
O AIM-174B Gunslinger marca o retorno dos EUA ao seleto grupo de nações com mísseis ar-ar de alcance extremo. Sua integração amplia a profundidade estratégica da aviação naval americana, capaz de neutralizar ameaças muito além da linha de frente. Mais do que um simples armamento, ele se apresenta como instrumento de dissuasão, assegurando vantagem tecnológica diante de adversários estratégicos em um cenário de crescente tensão global.
A acapacide de ataque a alvos em superfície é um diferencial desta arma em relação aos demais produzidos pela China e Rússia.
Fonte
- US Navy’s newest air-to-air missile could tilt balance in South China Sea, Reuters, [LINK]
- The AIM-174B Has Been Nicknamed ‘Gunslinger’,TheAviationist, [LINK]
- This new air-to-air missile appears to be the US Navy’s answer to the growing reach of China’s weapons, Business Insider, [LINK]
- AIM-174B Loadout Brings Back U.S. Navy’s Cold War Roots, Naval News, [LINK]
- Allied Arsenal: Building Strength Through Shared Production, war on the rocks [LINK]