E.M.Pinto

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A escolha de um novo treinador para substituir os T-45 Goshawk não é apenas uma decisão técnica da Marinha dos Estados Unidos, trata-se de um movimento estratégico com impacto direto sobre a formação de pilotos navais e a prontidão militar das próximas décadas.

E nesse cenário que num movimento calculado, a Sierra Nevada Corporation (SNC) parceira da EMBRAER nos Estados Unidos a qual produz em Jacksonville o A-29 Super tucano, anunciou, durante a convenção Tailhook 2025, o lançamento da aeronave denominada Freedom Trainer, um jato de treinamento projetado do zero para atender às demandas específicas da Marinha dos Estados Unidos.

Essa entrada tardia, mas ousada, no programa Undergraduate Jet Training System (UJTS) visa substituir a frota envelhecida dos T-45 Goshawk, aeronaves que há décadas formam pilotos navais em ambientes de alto risco, como operações em porta-aviões. O anúncio, feito em 21 de agosto de 2025, posiciona a SNC como um novo jogador em uma competição já dominada por gigantes como Boeing, Lockheed Martin e Leonardo, destacando-se por promessas de eficiência, robustez naval intrínseca e custos reduzidos que poderiam redefinir o treinamento de aviação militar.

O contexto dessa disputa é crucial para entender sua relevância estratégica. A Marinha americana enfrenta o desafio de modernizar sua formação de pilotos, preparando-os não apenas para voos básicos, mas para as complexidades de caças de quinta geração, como o F-35C. Os T-45 Goshawk, em serviço há mais de três décadas, sofrem com altos custos de manutenção, baixa disponibilidade e limitações em simular cenários reais de porta-aviões, onde um erro pode resultar em consequências catastróficas.

O UJTS, lançado para encontrar um sucessor, atraiu propostas como os da Boeing com o T-7A Red Hawk, já validado pela Força Aérea dos EUA, o qual oferece economias de escala, mas exige adaptações para o ambiente naval; o Leonardo M-346 Master, usado por forças aéreas internacionais o qual se destaca-se pela simulação versátil de aeronaves.A SNC enfrenta também o KAI TF-50N Golden Eagle, uma variante navalizada do treinador sul-coreano desenvolvido com a Lockheed Martin, que traz maturidade do projeto e capacidade supersônica.

Por último a posta da SNC enfrentará concorrentes como o modelo da Textron e Stavatti, tornando o campo extremamente competitivo. Nesse cenário, a escolha não é mera aquisição de equipamentos, mas um investimento de longo prazo na prontidão operacional da aviação naval, impactando décadas de superioridade aérea americana.

Concorrentes no programa UJTS

Para fazer frente aos concorrentes o Freedom Trainer da SNC se diferencia por ser um projeto “clean-sheet”, ou seja, concebido desde o início com foco exclusivo nas operações navais, sem compromissos herdados de designs terrestres. Trata-se de uma aeronave bimotora de dois assentos, equipada com motores Williams FJ44-4M, amplamente testados em jatos executivos como o Cessna Citation, acumulando 20 milhões de horas de voo globalmente.

Sua estrutura é projetada para uma vida útil de 16000 horas de voo, ou seja, o dobro do exigido pela Marinha, eliminando a necessidade de programas caros de extensão de vida (SLEP), que frequentemente afligem frotas antigas. Além disso, a fuselagem suporta até 35000 pousos com gancho (arrested landings) ou toques e arremetidas (touch-and-gos) em porta-aviões, um número impressionante que reflete sua robustez para o estresse extremo das operações embarcadas.

O design inclui asas de alto aspecto com slats de borda de ataque e flaperons, garantindo qualidades de manejo de nível um, capacidade de ângulo de ataque de até 27 graus (com potencial para 32) e manobras de -3G a +8G, permitindo simulações realistas de combates aéreos.

Diferentemente de concorrentes baseados em plataformas terrestres, que demandam adaptações caras e potencialmente ineficientes para o mar, o avião da SNC permite treinamento e integração em práticas de pouso em campo simulando porta-aviões (FCLP) até o touchdown completo, uma capacidade que, embora não mais obrigatória no UJTS recente, é defendida pela empresa como essencial para desenvolver a “memória muscular” dos pilotos, reduzindo o risco em fases avançadas. Isso pouparia horas valiosas em caças caros como o F/A-18 Super Hornet ou F-35C, transferindo mais treinamento para o treinador em si, o que poderia aumentar a eficiência e a segurança geral.

Além disso, a SNC promete durações de missões 30% a 40% maiores que as do T-45, otimizando o tempo de instrução por voo e maximizando a disponibilidade da frota.

Comparativo técnico e de custos estimados

No aspecto econômico, os argumentos da SNC são particularmente persuasivos em um contexto de orçamentos de defesa apertados. A empresa alega custos de ciclo de vida 40% inferiores aos dos treinadores atuais da Marinha e metade dos de aeronaves terrestres, graças à eficiência dos motores FJ44 e a uma filosofia de manutenção otimizada com materiais modernos e design estrutural inteligente.

Ademais, a SNC oferece direitos totais de dados digitais à Marinha, permitindo controle sobre upgrades futuros e integração de sistemas de terceiros, como o Augmented Reality Training System (ATARS) da parceira Red 6, que incorpora realidade aumentada para treinamentos imersivos. Essa parceria estratégica, anunciada simultaneamente, reforça a proposta como um “Family of Systems” completo, abrangendo não só o jato, mas também treinamento em solo, logística e infraestrutura conectada.

A experiência da SNC, embora mais focada em conversões de aeronaves e parcerias como a com a EMBRAER para o A-29 Super Tucano em Jacksonville, Flórida, adiciona credibilidade à sua capacidade industrial. No entanto, críticos podem questionar sua expertise em fabricação de jatos militares do zero, e o recente ajuste no RFI da Marinha, que relaxou a exigência de FCLP completo, pode diluir parte de seu diferencial.

Ainda assim, se comprovadas, essas promessas posicionam o Freedom Trainer não apenas como uma opção viável, mas como uma disruptora que poderia elevar o padrão de treinamento naval

Seja como for, o lançamento do Freedom Trainer pela SNC não é só uma adição ao UJTS, mas um argumento convincente pela inovação purpose-built em defesa. Com o RFP esperado para dezembro de 2025, a Marinha terá de equilibrar tradição, custo e performance para uma decisão que moldará o futuro de sua aviação. Resta ver se essa “liberdade” de design se traduzirá em vitória no campo de batalha da concorrência.

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