A Marinha da República de Singapura (RSN) lançou no estaleiro ST Engineering Marine Benoi o Victory, primeiro de uma nova classe de seis Navios de Combate Multifuncionais (MRCV). Projetada para operar como nave-mãe de sistemas não tripulados aéreos, de superfície e submarinos, a embarcação representa o maior e mais avançado navio de guerra já construído localmente.
A cerimônia de lançamento foi presidida pelo ministro da Defesa, Chan Chun Sing, com a presença de representantes do Ministério da Defesa, da RSN, da Agência de Ciência e Tecnologia de Defesa (DSTA) e da indústria de defesa nacional. O evento marcou a conclusão da construção em estaleiro e o início da fase de integração de sistemas, ensaios e testes de aceitação.

Com cerca de 150 metros de comprimento, 21 metros de largura e deslocamento aproximado de 8.000 toneladas, o Victory incorpora um sistema de propulsão elétrica integrada (IFEP) capaz de gerar até 30 megawatts de energia — equivalente ao consumo de cerca de 50.000 residências. O navio atinge velocidade superior a 22 nós e possui autonomia de mais de 21 dias de operação sem necessidade de reabastecimento, permitindo missões prolongadas em águas distantes.
A nova classe foi concebida com foco em modularidade e flexibilidade de missão. Um amplo compartimento interno (“mission bay”) permite acomodar até oito módulos de contêineres de 20 pés, configuráveis para diferentes funções, como guerra antissubmarino, operações de vigilância marítima, assistência humanitária e resposta a desastres. O projeto prevê a integração total de veículos não tripulados — aéreos (UAVs), de superfície (USVs) e subaquáticos (UUVs) — operando de forma coordenada com a tripulação e o sistema de combate do navio.

O sistema de combate (CMS) foi desenvolvido pela DSTA em parceria com os Laboratórios Nacionais DSO, incorporando recursos de inteligência artificial, automação e fusão de sensores. Entre os principais sensores estão o radar multifunção de painel fixo da Thales, um radar de controle de fogo, sistemas eletro-ópticos da Safran e sonar de casco otimizado para operações em águas rasas — elemento importante para a defesa costeira e para o ambiente marítimo do Sudeste Asiático.
O Victory é armado com o canhão STRALES de 76 mm da Leonardo, capaz de disparar munições guiadas DART; a estação remota de armas Typhoon Mk30-C de 30 mm da Rafael; e mísseis superfície-ar MICA e ASTER da MBDA. Também incorpora lançadores de mísseis superfície-superfície, ainda em definição, além de sistemas de defesa próximos (CIWS) e contramedidas eletrônicas integradas.

A automação e o alto grau de digitalização permitem que o MRCV opere com uma tripulação reduzida em comparação a fragatas de tamanho semelhante. O projeto de engenharia empregou tecnologias de gêmeo digital (“digital twin”) e modelagem 3D para todas as etapas de construção, além de processos automatizados de soldagem e montagem nos polos navais de Benoi e Gul, refletindo a transformação industrial do setor naval de Singapura.
O desenvolvimento do MRCV é resultado de uma cooperação entre a DSTA, a ST Engineering e o DSO National Laboratories, com colaboração internacional da Saab Kockums, responsável pelas superestruturas compostas, e da dinamarquesa Odense Maritime Technology (OMT), que forneceu suporte ao projeto do casco e arranjo interno.
O programa prevê a substituição progressiva das atuais corvetas de mísseis da classe Victory, em serviço desde a década de 1990. As próximas unidades da nova classe receberão os nomes Valour, Vigilance, Valiant, Vigour e Vengeance, preservando a tradição da RSN.
Após o lançamento, o Victory entrará na fase de integração de sistemas de combate, testes de mar e treinamento da tripulação pioneira. O comissionamento está previsto para ocorrer antes de 2028, quando a RSN iniciará a incorporação plena da classe.
O MRCV amplia significativamente a capacidade de Singapura de operar em múltiplos domínios — marítimo, aéreo, subaquático e cibernético — e de proteger suas linhas marítimas de comunicação e rotas comerciais estratégicas no Estreito de Malaca e no Mar do Sul da China, áreas vitais para o comércio global e para a segurança nacional da cidade-Estado.




