A Marinha da Turquia iniciará em setembro de 2025 as operações com o veículo aéreo de combate não tripulado Bayraktar TB3 a bordo do navio de assalto anfíbio TCG Anadolu (L-400). A confirmação veio do contra-almirante Recep Erdinc Yetkin e de Selçuk Bayraktar, presidente da empresa Baykar, durante o festival Teknofest Mavi Vatan, realizado no fim de agosto.
Com isso, a Turquia se tornará o primeiro país a empregar, de forma regular, um UCAV de asa fixa com capacidade de ataque a partir de um navio de grande porte. Trata-se de um marco para a aviação naval global, já que até então operações dessa natureza estavam restritas a testes experimentais em marinhas mais tradicionais.
O Bayraktar TB3, evolução direta do TB2, foi projetado especificamente para uso embarcado, com asas dobráveis para hangaragem e autonomia superior a 24 horas. Pode transportar até 280 kg de carga útil, incluindo as munições inteligentes MAM-L e MAM-T da Roketsan, permitindo executar missões de inteligência, vigilância, reconhecimento e ataque a grandes distâncias. A integração de comunicações via satélite e sistemas de aviônica com suporte de inteligência artificial reforça a ambição de Ancara em operar drones navais de forma autônoma e em escala.
O TCG Anadolu, maior navio já construído para a Turquia, é fruto da adaptação de um projeto espanhol da classe Juan Carlos I. Originalmente planejado para receber caças F-35B, o navio foi convertido em porta-drones, após a exclusão turca do programa Joint Strike Fighter. Com deslocamento de 27 mil toneladas e 232 metros de comprimento, o Anadolu combina a capacidade de assalto anfíbio com uma ala aérea otimizada para aeronaves não tripuladas, helicópteros e veículos de desembarque.
Desde 2024, o TB3 já demonstrou sua capacidade em convés curto, realizando pousos e decolagens sem auxílio de cabos ou catapultas. Em abril de 2025, testes no Golfo de Saros validaram missões autônomas com uso da configuração de asa dobrável e lógica de pouso baseada em visão. Esses marcos transformaram o programa em um projeto confiável, pronto para a transição de experimentação para emprego operacional.
A estratégia turca não se limita à aviação embarcada. Ela se insere em um plano mais amplo de guerra multidomínio, que inclui veículos não tripulados de superfície e submarinos da família ULAQ, já testados com armamentos reais. Essa integração homem-máquina busca criar uma frota distribuída, atritável e menos dependente de grandes plataformas tripuladas.
Comparativamente, outras potências seguem caminhos distintos. Os Estados Unidos avançam com o avião-tanque não tripulado MQ-25 Stingray, cujo objetivo inicial é ampliar o alcance dos caças embarcados. O Reino Unido experimenta com drones táticos como o Schiebel S-100 e realizou, em 2023, testes com o drone Mojave STOL a bordo do HMS Prince of Wales. Já a China aposta em infraestrutura de maior porte, com catapultas eletromagnéticas no porta-aviões Fujian e o desenvolvimento do navio anfíbio Tipo 076, concebido para operações com drones de asa fixa.
Nesse contexto, a Turquia se destaca como pioneira ao operacionalizar de imediato um UCAV armado de média altitude em um grande navio de convés. A entrada em serviço do TB3 no Anadolu não apenas reforça a autonomia tecnológica de Ancara, mas também inaugura um novo capítulo na aviação naval global, antecipando tendências que outras marinhas ainda testam em caráter experimental.
Para a Turquia, setembro de 2025 marcará mais do que a estreia operacional de um novo drone: será o momento em que a Marinha turca se coloca na vanguarda de um novo paradigma de poder aéreo naval.