EUA iniciam construção do USS Wisconsin, segundo submarino da classe Columbia

A General Dynamics Electric Boat realizou o batimento da quilha do futuro USS Wisconsin (SSBN 827) em suas instalações em Quonset Point, Rhode Island, em uma cerimônia marcada pela simbologia da data e pela relevância estratégica do programa de submarinos da classe Columbia. O evento foi alinhado à numeração do casco — 827 — e contou com a soldagem das iniciais da patrocinadora do navio, Dra. Kelly Geurts, em uma chapa de aço, auxiliada pelo veterano soldador Robert Ray Jr., que acumula 49 anos de experiência no estaleiro. Embora submarinos não possuam uma quilha tradicional, a Marinha dos EUA enfatizou o caráter simbólico do ato, destacando que a placa será afixada permanentemente ao casco como ponto de origem da embarcação.

Marinha dos EUA inicia construção dos SSBN classe 'Columbia' - Poder Naval

Paralelamente, a ocasião foi celebrada em Wisconsin, com atividades no Museu Marítimo do estado e no Centro Histórico de Veteranos Richard I. Bong, reforçando o elo entre a nova unidade da frota de dissuasão nuclear norte-americana e a herança militar estadual. O Wisconsin será o terceiro navio de guerra a carregar o nome do estado, sucedendo os encouraçados USS Wisconsin (BB-9), de 1901, e USS Wisconsin (BB-64), comissionado em 1944 e participante ativo de três conflitos — Segunda Guerra Mundial, Coreia e Golfo — antes de ser transformado em navio-museu. Durante a cerimônia, o Almirante William Houston descreveu o submarino como uma plataforma que transportará “mais poder de fogo explosivo do que toda a Segunda Guerra Mundial”, uma referência direta aos 16 mísseis balísticos Trident II D5LE que comporão seu armamento principal, complementados por torpedos Mk 48.

A classe Columbia, concebida para substituir gradualmente os 14 SSBNs da classe Ohio a partir de 2027, será a maior já construída pelos Estados Unidos, com 171 metros de comprimento, 13 metros de boca e cerca de 22 mil toneladas de deslocamento submerso. Cada unidade contará com um reator nuclear S1B projetado para operar durante toda a vida útil estimada em 42 anos sem necessidade de reabastecimento, o que permitirá até 124 patrulhas de dissuasão por embarcação. O sistema de propulsão turboelétrica, associado a um motor de ímã permanente e a um propulsor a jato, garante maior furtividade e menor complexidade mecânica, enquanto a embarcação incorpora avanços como planos de popa em X, sonar de grande abertura derivado da classe Virginia, revestimentos anecoicos e o Sistema Tático Federado de Guerra Submarina, que integra sensores e controle de fogo.

O programa mobiliza mais de 3.000 fornecedores em todo o país, incluindo cerca de 300 empresas em Wisconsin, e é dividido entre a General Dynamics Electric Boat, responsável por aproximadamente 78% da construção, e a Huntington Ingalls Newport News, que responde por 22%. A produção segue um modelo modular, com cilindros pressurizados e sistemas internos montados verticalmente em Quonset Point, transportados em seguida pela barcaça Holland para integração final em Groton ou Newport News. Para sustentar esse esforço, a Electric Boat investiu US$ 2,2 bilhões em expansões de infraestrutura, ampliou sua força de trabalho em 5.000 novos profissionais e forma até 1.000 soldadores anualmente, combinando mão de obra qualificada e robótica colaborativa para elevar a produtividade.

O programa Columbia, anteriormente conhecido como SSBN-X, é considerado pelo Congresso a principal prioridade de aquisição do Departamento de Defesa. Estão previstos 12 submarinos entre os anos fiscais de 2021 e 2035, com custo total estimado hoje em mais de US$ 132 bilhões. A entrega do submarino líder, USS District of Columbia (SSBN 826), foi adiada para o período entre 2028 e 2029 devido a gargalos industriais, dificuldades na cadeia de suprimentos e efeitos da pandemia, o que também impacta o cronograma do Wisconsin, cuja entrega está prevista para 2031. O atraso aumenta a pressão sobre a Marinha, que precisa manter ao menos 10 SSBNs operacionais para sustentar o ciclo de patrulhas estratégicas.

O início formal da construção do USS Wisconsin representa não apenas um marco industrial e tecnológico, mas também um gesto de continuidade histórica. As celebrações no estado homônimo evidenciam que, além de reforçar a espinha dorsal da dissuasão nuclear norte-americana nas próximas décadas, o submarino carrega consigo a memória de uma tradição naval que conecta comunidades locais ao cenário global de segurança estratégica.

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