Rússia propõe à Índia a produção local do carro de combate T-14 Armata, de próxima geração, dentro do programa ‘Make in India’

T-14 Armata – Wikipédia, a enciclopédia livre

Em um movimento que pode redefinir o equilíbrio de forças no Sul da Ásia, a Rússia ofereceu à Índia a criação de uma joint venture para o desenvolvimento e a produção local de uma variante especializada de seu carro de combate principal T-14 Armata. A proposta integra o programa indiano Next Generation Main Battle Tank (NGMBT) e surge em um momento em que Nova Déli busca acelerar a modernização de suas forças blindadas e, simultaneamente, impulsionar a capacidade industrial nacional no âmbito da iniciativa “Make in India”.

A oferta antecede a visita oficial do presidente Vladimir Putin a Nova Déli, prevista para o final de 2025, e sinaliza a determinação de Moscou em preservar sua posição privilegiada no mercado de defesa indiano, em meio à pressão crescente de fornecedores ocidentais e às restrições impostas por sanções internacionais. O Armata, revelado em 2015, representa o carro de combate russo mais avançado em décadas e rompe com a herança de plataformas soviéticas como os T-72 e T-90, que ainda dominam os inventários de Rússia e Índia.

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Diferentemente desses modelos, o T-14 incorpora tecnologias de quarta geração, entre elas uma torre não tripulada equipada com o canhão de 125 mm 2A82-1M, projetado para disparar munições guiadas a laser e com possibilidade de futura adaptação para um canhão de 152 mm. A tripulação de três homens opera a partir de uma cápsula blindada no casco dianteiro, elevando a proteção contra ataques diretos e munições de ataque superior. O sistema de proteção ativa Afghanit (APS), que integra radar AESA e interceptores de alta energia, coloca o T-14 entre os raros carros de combate concebidos para enfrentar, de forma integrada, a ameaça crescente de drones e mísseis antitanque modernos.

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Para o Exército Indiano, a proposta russa inclui um alto grau de  transferência de tecnologia. Um dos principais pontos de adaptação será a substituição do motor russo 12N360, considerado pouco confiável, pelo motor nacional DATRAN-1500HP, atualmente em fase de testes para produção em série até 2027. Projetado para operar em ambientes de grande altitude e temperaturas extremas, o novo motor promete desempenho superior em teatros de operações cruciais para a Índia, como Ladakh e o Rajastão. A produção local também reduziria os custos em relação ao modelo importado, tornando a plataforma mais viável para aquisição em massa.

T-14 Armata

O modelo segue a experiência bem-sucedida do T-90 Bhishma, que já alcançou cerca de 80% de componentes locais e estabeleceu um precedente para a produção conjunta em defesa. Além da motorização, a Rússia estaria disposta a compartilhar tecnologias críticas de controle de tiro, integração do Afghanit e soluções modulares de atualização, ampliando a base tecnológica da indústria indiana.

O contexto estratégico para essa cooperação é claro. O Exército da Índia ainda depende de quase 3.200 tanques de concepção soviética — T-72 Ajeya e T-90 Bhishma — cuja eficácia vem sendo questionada diante da introdução de plataformas mais modernas pela China e pelo Paquistão. Enquanto Pequim amplia o emprego do ZTZ-99A e experimenta sistemas de proteção ativa e veículos não tripulados, Islamabad moderniza a família Al-Khalid e busca cooperação chinesa para o desenvolvimento do Al-Khalid-III. Nesse cenário, a Índia considera o T-14 como um reforço estratégico capaz de sustentar sua dissuasão em um eventual conflito em duas frentes.

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Para Moscou, a parceria também é fundamental. O programa Armata enfrenta atrasos, custos elevados e sanções que limitaram sua produção a menos de 100 unidades até 2024, com emprego real em combate restrito a testes na Ucrânia. A entrada da Índia significaria injeção de capital, apoio industrial e viabilidade para superar gargalos técnicos, além de manter a Rússia competitiva frente às ofertas ocidentais de carros de combate como o M1A2 Abrams SEPv3, o Leopard 2A8 e o Leclerc XLR.

Ainda assim, os riscos não são desprezíveis. A integração do novo motor indiano ao chassi Armata é uma aposta de alto risco tecnológico, enquanto os sistemas eletrônicos russos, até recentemente dependentes de componentes ocidentais, enfrentam desafios de adaptação. Para Nova Déli, há também o risco de atrasos já recorrentes em programas estratégicos, como ocorreu com o MBT Arjun e o caça Tejas.

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No plano regional, uma eventual adoção de uma variante indiana do Armata poderia desencadear uma nova corrida armamentista. O Paquistão tende a acelerar a produção do Haider (VT-4 de origem chinesa) e a pressionar Pequim por apoio tecnológico mais profundo, enquanto a China avança em blindados de nova geração, veículos não tripulados e guerra centrada em redes de IA. A doutrina indiana de Grupos de Batalha Integrados se beneficiaria diretamente da capacidade de rede e da proteção ativa do T-14, ao passo que o Paquistão tende a manter formações mistas com apoio de drones ISR chineses.

Assim, o acordo proposto vai muito além de uma aquisição militar: trata-se de uma aposta estratégica que pode definir a próxima fase da competição blindada no Sul da Ásia. Se a Índia conseguir operacionalizar um NGMBT baseado no T-14, com sistemas ativos de proteção e integração digital avançada, poderá obter uma vantagem qualitativa decisiva. Caso contrário, corre o risco de ver sua frota atual se tornar obsoleta diante de adversários que avançam rapidamente na adoção de novos sistemas tripulados e não tripulados.

 

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