Aparentemente, a Rússia começou a empregar drones da família Shahed para lançar minas antitanque, replicando, de certa forma, táticas anteriormente usadas pelos drones “bombardeiros” multirrotores ucranianos, embora com características e vantagens diferentes. Ainda não está claro quão difundido é esse novo uso dos Shahed, mas ele representa mais um desafio para a Ucrânia, vindo de um tipo de drone que tem causado preocupação no país há anos.
Recentemente, um vídeo viralizou nas redes sociais mostrando pelo menos um desses drones de asa delta liberando minas antitanque PTM-3 de cartuchos fixados sob a fuselagem, lembrando o formato de uma asa voadora. Cada cartucho contém uma mina que é ejetada por uma pequena carga explosiva, visível nas imagens. Pelo menos dois veículos ucranianos teriam sido atingidos pelas minas. O canal militar russo NGP-Razvedka, no Telegram, comentou: “Hoje, em nosso canal, estreiam as mais recentes táticas de drones contra alvos terrestres. Há algum tempo, o inimigo publicou mensagens alarmantes alegando que, sob a asa do Geranium [nome russo para Shahed], foram encontrados cassetes com minas suspensas com propósitos desconhecidos. Os soldados do NGP estavam testando algumas tecnologias, mas silenciosamente.”

Um cartucho PTM-3 foi recuperado nos destroços de um drone russo Shahed na região de Sumy. (Foto NPU
O canal também detalhou: “O Geranium realiza a mineração remota de rotas de suprimento inimigas em tempo real, resultando na queda de uma unidade de transporte, enquanto outra, com infantaria destruída, consegue escapar, embora não muito longe nesse estado. O sistema de orientação será refinado, as táticas de uso expandidas e a logística inimiga se tornará um completo pesadelo. O alcance do Geranium é superior a 1.000 km — você entende o que isso significa?”
O emprego de Shaheds para lançar minas foi confirmado pela primeira vez pela Polícia Nacional da Ucrânia (NPU) na semana passada, após a derrubada de um desses drones na região de Sumy. A NPU explicou que essa técnica permite ao inimigo minar remotamente estradas, campos e outras áreas. As minas PTM-3, de pequeno tamanho e com invólucro plástico, possuem detonador magnético que reage à presença de veículos próximos. A polícia ucraniana também alertou sobre o perigo dessas minas e dos drones inimigos que não explodiram, recomendando cuidado redobrado e contato imediato com as autoridades ao encontrar qualquer um desses dispositivos.

Restos de fiação e componentes de uma mina PTM-3 foram encontrados nos destroços de um drone russo Shahed. (Foto da NPU)
A PTM-3 é uma mina antitanque dispersível de origem soviética, lançável manualmente, por veículos, artilharia ou helicópteros. Ela se arma automaticamente após 60 segundos e possui detonador magnético que explode quando um veículo passa por cima, além de dispositivo antimanipulação sensível a movimentos.
O uso dos Shaheds para lançar minas é o mais recente desenvolvimento envolvendo essa arma projetada pelo Irã, que começou a ser utilizada pela Rússia em setembro de 2022. Desde então, os drones foram aprimorados e se tornaram um elemento central das operações russas na Ucrânia. A Rússia não apenas adicionou novas capacidades, como motores a jato e táticas para escapar das defesas aéreas ucranianas, como também aumentou drasticamente a produção dos drones, inicialmente fornecidos pelo Irã e agora fabricados internamente a uma taxa de cerca de 2.000 unidades por mês, com planos de quase triplicar essa produção. Esses drones representam atualmente a principal ferramenta de ataques de longo alcance russos no país.

O sistema de implantação PTM-3 foi fixado no Shahed. (Foto NPU)
Outra preocupação é a incorporação de inteligência artificial na fuselagem do Shahed-136, em desenvolvimento, o que poderia aumentar significativamente a autonomia e eficiência das operações. Ainda não se sabe com que frequência os Shaheds estão sendo usados para lançar minas nem quantos sistemas existem. É possível que alguns operem próximos às linhas de frente, controlados por humanos em tempo real, enquanto outros sigam rotas programadas autonomamente, lançando minas conforme planejado. O uso remoto poderia permitir a mineração de estradas a centenas de quilômetros no interior da Ucrânia, aumentando o risco para militares e civis.

O sistema de implantação de minas foi acoplado à asa do drone Shahed. (Foto da NPU)
Além dos Shaheds, a Rússia também estaria adaptando minas PTM-3 como ogivas para sua
linha de drones Lancet, utilizando-as como principal dispositivo cinético. Com peso de 4,9 kg, as minas têm impacto maior do que a ogiva padrão KZ-6. Segundo especialistas, o uso de apenas dois PTM-3s por Geran-2 (Shahed) mostra dificuldades da Rússia em desenvolver drones de transporte pesado, enquanto a Ucrânia já posicionou milhares de minas com precisão usando sua própria frota de drones pesados.

Um Shahed-136 antigo lançado pela Rússia contra a Ucrânia.
Com o aumento da produção de Shaheds e a abundância de PTM-3s, o uso generalizado dessas armas representa uma ameaça adicional à logística ucraniana, já pressionada pelos ataques contínuos de drones russos. Se os drones conseguirem dispersar essas minas em todo o território ucraniano, o impacto para militares e civis pode ser severo.