Estados Unidos aprovam venda de US$ 4,7 bilhões em defesa aérea ao Egito com NASAMS e mísseis AIM-120 AMRAAM

Os Estados Unidos aprovaram uma venda militar estrangeira de grande escala para o Egito, avaliada em US$ 4,7 bilhões, que representa a maior transação do tipo entre os dois países nos últimos anos. O pacote inclui a entrega de sistemas de defesa aérea NASAMS (Norwegian Advanced Surface-to-Air Missile System) e um amplo arsenal de mísseis ar-ar AIM-120 AMRAAM, além de uma série de equipamentos de apoio, radares, veículos e serviços técnicos. A medida reflete um esforço estratégico por parte de Washington para fortalecer a segurança do Egito diante de ameaças crescentes na região e, ao mesmo tempo, consolidar a aliança militar entre os dois países em meio a um cenário global competitivo.

A autorização, anunciada pelo Departamento de Estado dos EUA em 25 de julho de 2025, ainda precisa ser aprovada pelo Congresso, mas representa uma etapa praticamente final em um processo que se arrasta há anos. Segundo a Agência de Cooperação de Segurança da Defesa (DSCA), o acordo compreende a venda de 76 lançadores NASAMS, 60 unidades de controle de fogo, 151 radares AN/MPQ-64F1 Sentinel — fundamentais para detecção de ameaças aéreas de médio alcance — e 504 mísseis AIM-120C-8 AMRAAM, uma das versões mais avançadas desse tipo de armamento. A transação também inclui 118 veículos de apoio, sistemas de comunicação, equipamentos de comando e controle, peças de reposição, ferramentas especializadas, suporte técnico e treinamentos operacionais.

Two US NASAMS air defense missile systems have already been delivered to  Ukraine

A versão AIM-120C-8 do AMRAAM que será fornecida ao Egito traz melhorias significativas de alcance e precisão em relação às versões anteriores. Guiado por radar ativo, o míssil permite interceptações além do alcance visual (BVR), algo que os F-16 egípcios não eram capazes de realizar até então. Isso representa um marco tecnológico para a força aérea do país, que, apesar de possuir mais de 200 caças F-16, vinha operando com mísseis obsoletos como o AIM-7 Sparrow e o AIM-9 Sidewinder. A chegada dos AMRAAMs, portanto, rompe uma limitação crítica e reequilibra o cenário de poder aéreo no norte da África e no Oriente Médio, onde países como Israel, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã vêm ampliando agressivamente suas capacidades aéreas.

Já os sistemas NASAMS, desenvolvidos pela norueguesa Kongsberg em parceria com a norte-americana Raytheon, têm ganhado popularidade mundial após demonstrarem alta eficácia em zonas de conflito como a Ucrânia, onde vêm sendo usados com sucesso na interceptação de mísseis de cruzeiro e drones. No caso do Egito, os NASAMS deverão proteger pontos estratégicos como o Canal de Suez, instalações militares no Sinai, áreas urbanas densamente povoadas como Cairo e Alexandria, e infraestrutura crítica nacional, como usinas elétricas e bases aéreas.

 

Além do aspecto militar, o acordo também fortalece as relações diplomáticas e geoestratégicas entre Egito e EUA, que nos últimos anos foram marcadas por altos e baixos. Em meio ao aumento da influência russa e chinesa no norte da África e no mundo árabe, Washington busca reafirmar sua posição de liderança e evitar que aliados históricos migrem para esferas rivais. Vale lembrar que o Egito adquiriu nos últimos anos equipamentos militares de vários fornecedores, incluindo caças Rafale da França, sistemas de defesa aérea S-300VM da Rússia e drones Wing Loong da China, gerando preocupação nos EUA quanto à diversificação de parceiros do Cairo.

No entanto, o atual pacote militar pode sinalizar um realinhamento mais firme com o Ocidente, pois além de representar um salto tecnológico, exige integração com infraestrutura e protocolos da OTAN — o que demanda interoperabilidade, treinamento avançado e, consequentemente, uma relação duradoura com os EUA. Especialistas também apontam que o Egito poderá eventualmente integrar sua defesa aérea a redes regionais aliadas a Washington, aumentando sua capacidade de resposta a ameaças assimétricas, como ataques com drones e mísseis balísticos por grupos não-estatais ou países hostis.

Egyptian Air Force F-16 Fighting Falcons conduct aerial training operations with U.S. Air Force partners in support of exercise Agile Phoenix within the U.S. Air Forces Central area of responsibility June 28, 2022. Agile Phoenix is a joint agile combat employment exercise focused on enhancing interoperability and ensuring regional security. (U.S. Air Force photo by Staff Sgt. Christian Sullivan)

No plano comercial, a RTX Corporation (antiga Raytheon Technologies) será a principal beneficiária do contrato, tanto na produção dos mísseis e radares quanto na oferta de suporte técnico e logístico. O acordo é um importante impulso para o setor industrial de defesa dos EUA e para sua estratégia de conter o avanço de concorrentes globais em mercados-chave como o Oriente Médio e o norte da África.

Em suma, a venda dos sistemas NASAMS e mísseis AMRAAM ao Egito é um movimento que combina interesses de segurança, diplomacia e indústria, com efeitos de longo prazo tanto para o equilíbrio regional quanto para a posição estratégica do país africano. Ao mesmo tempo em que moderniza substancialmente sua defesa aérea, o Egito fortalece seu papel como aliado de primeira linha dos Estados Unidos numa região marcada por volatilidade, competição de potências e desafios transnacionais complexos.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *