Depois de quase duas décadas de desenvolvimento, atrasos e incertezas, a Força Aérea Sul-Africana (SAAF) finalmente começará a receber neste mês os primeiros mísseis ar-ar A-Darter em versão operacional. A confirmação veio da Denel Dynamics, empresa estatal responsável pelo projeto, durante uma apresentação ao Parlamento em 13 de junho.
Segundo a Denel, oito mísseis inertes de treinamento e quatro unidades para aquisição de alvos já foram entregues. Agora, os primeiros quatro mísseis prontos para combate estão prestes a chegar às mãos da SAAF — parte de um lote total de 42 unidades.
Essas entregas fazem parte do chamado Projeto Kamas, que corresponde à fase de industrialização do A-Darter. Ela sucedeu o Projeto Assegaai, que cuidou do desenvolvimento da arma. No entanto, nem tudo saiu como o planejado. Problemas financeiros, perda de pessoal qualificado e atrasos técnicos frearam o avanço do programa, que deveria ter sido concluído em 2017. O míssil só ficou pronto tecnicamente em 2019.
Agora, com reforço de capital de giro e uma reestruturação interna, a Denel aposta na retomada do cronograma e no impulso à sua capacidade de produção.
Um míssil de curto alcance com alma de quinta geração
Apesar do alcance relativamente curto — cerca de sete quilômetros — o A-Darter não é um míssil comum. Ele foi projetado para o combate aéreo moderno, onde agilidade e precisão fazem toda a diferença. Seu sistema de busca por imagem infravermelha (IIR) de duas cores permite identificar alvos reais em meio a contramedidas como chaffs e flares, e sua capacidade de travar em alvos antes ou depois do lançamento (LOBL/LOAL) oferece flexibilidade tática importante para os pilotos.
Um dos seus diferenciais mais impressionantes é a capacidade de engajar alvos em até 180 graus do eixo da aeronave. Isso significa que o míssil pode literalmente fazer uma curva em U no ar e continuar perseguindo um alvo que já tenha passado pela frente da aeronave lançadora. Tudo isso suportando cargas de até 80 Gs — um nível de manobrabilidade que poucos armamentos desse tipo conseguem atingir.
A ogiva, fornecida pela Rheinmetall Denel Munition (RDM), é do tipo fragmentada e equipada com espoleta de proximidade e sistemas de segurança eletrônicos que evitam detonações prematuras.
Cooperação com o Brasil e novos rumos
O A-Darter é fruto de uma parceria com o Brasil, firmada em 2006. A ideia era desenvolver um míssil moderno, com tecnologia nacional, para equipar caças como o Gripen e o Hawk. Apesar dos percalços no caminho, o míssil foi integrado com sucesso aos Gripen C/D da África do Sul e pode, futuramente, equipar também os treinadores Hawk Mk 120.
O Brasil chegou a tentar qualificar o A-Darter para o novo Gripen E, mas a integração inicial não teve sucesso. Ainda assim, há sinais de que a Denel estuda retomar esse processo no futuro.
Um novo horizonte: além do alcance visual
Hoje, a SAAF não conta com um míssil além do alcance visual (BVR) desde a aposentadoria do R-Darter. Essa lacuna crítica pode ser preenchida pelo novo Míssil de Ataque Conjunto, anteriormente conhecido como Marlin.
Trata-se de um projeto ambicioso: um míssil multifunção com guiagem por radar ativo, capaz de ser lançado de aviões, navios ou sistemas terrestres. Ele já foi testado no campo de provas de Overberg e, segundo a Denel, desperta interesse tanto dentro quanto fora da África do Sul.
O plano é integrá-lo também ao sistema nacional de defesa aérea terrestre (GBADS), ampliando a capacidade do país de enfrentar ameaças aéreas em diferentes cenários.
Com a retomada das entregas do A-Darter e o desenvolvimento de novas armas como o Míssil de Ataque Conjunto, a Denel tenta virar a página de anos difíceis — e provar que ainda pode ser um nome de peso na indústria de defesa global.





