O Ministério da Defesa da Eslováquia decidiu interromper a produção do obus autopropulsado Zuzana 2, de 155 mm, desenvolvido pela estatal Konštrukta Defense, redirecionando investimentos e esforços industriais para o sistema Eva, uma plataforma de artilharia mais leve e moderna. A informação foi divulgada pelo jornal eslovaco Denník N, que citou fontes do governo e representantes da indústria de defesa.
A decisão ocorre em meio a uma reestruturação da política de defesa eslovaca e reflete as mudanças no mercado internacional de artilharia após o início da guerra na Ucrânia. Segundo o Denník N, o conflito alterou as preferências dos compradores, que passaram a priorizar mobilidade, automação e flexibilidade logística em detrimento de sistemas pesados e complexos.
O Zuzana 2, desenvolvido a partir do projeto anterior Zuzana 2000, foi projetado para operar com alta precisão e cadência de tiro elevada, mas seu peso superior a 28 toneladas e a necessidade de manter a tripulação próxima ao canhão reduziram sua atratividade frente às novas exigências do campo de batalha. Além disso, o alto custo unitário e o ritmo de produção lento tornaram o sistema menos competitivo em relação a obuses sobre rodas mais simples, como o CAESAR francês ou o Bohdana ucraniano.
Em 2022, Bratislava firmou um contrato para o fornecimento de 24 unidades do Zuzana 2 à Ucrânia, como parte do apoio militar ao país. Oito unidades foram entregues a partir dos estoques já existentes, mas a produção das 16 restantes não foi concluída, em razão de limitações industriais e da dificuldade de obtenção de componentes críticos. Fontes citadas pelo Denník N indicam que o processo de fabricação teria se tornado quase artesanal, incapaz de atender à demanda do mercado e às necessidades de exportação.
O sistema Eva, que agora concentra os esforços do setor de defesa eslovaco, utiliza o mesmo canhão de 155 mm, porém em uma configuração mais leve e modular, montada em caminhões táticos 6×6 ou 8×8. A plataforma prioriza a automação e a capacidade de redistribuição rápida, reduzindo a exposição da tripulação e simplificando a manutenção. A versão mais recente, denominada Eva BIA, teria vencido uma concorrência de aquisição na Malásia em 2024, segundo informações da imprensa local.
A Konštrukta Defense também iniciou negociações com a Fábrica de Máquinas-Ferramentas Pesadas de Kramatorsk, parte do grupo NAUDI, responsável pela produção do obus ucraniano Bohdana. O objetivo é explorar cooperação técnica e produção conjunta, combinando a experiência eslovaca em sistemas de controle de tiro e automação com a comprovada eficiência ucraniana no design de obuses sobre rodas utilizados em combate.
Autoridades eslovacas avaliam que essa reformulação pode reposicionar o país no mercado global de artilharia, marcado por alta concorrência e rápida evolução tecnológica. Entretanto, analistas locais ouvidos pelo Denník N destacam que o sucesso do programa Eva dependerá da capacidade de sustentar uma linha de produção contínua, do apoio político à exportação e da adaptação constante às exigências táticas modernas observadas na guerra da Ucrânia.
Com o fim do programa Zuzana 2, a Eslováquia encerra um ciclo de mais de duas décadas na produção de obuses pesados de alta automação, sinalizando uma transição estratégica para sistemas mais leves e economicamente viáveis, alinhados às demandas operacionais contemporâneas e às tendências emergentes da indústria europeia de defesa.