A Força de Defesa Nacional da África do Sul (SANDF) ainda não recebeu nenhum dos Veículos de Combate de Infantaria Badger, apesar do contrato com a Denel ter sido assinado em 2007 e de terem sido pagos US$ 440 milhões até o momento, segundo resposta parlamentar da ministra da Defesa, Angie Motshekga.
O Projeto Hoefyster, que envolve o desenvolvimento do Badger Infantry Fighting Vehicle (IFV), foi iniciado para substituir o Ratel IFV, equipamento projetado na década de 1970 pela Springfield Büssing e fabricado pela Sandock Austral. A proposta previa a entrega de 264 veículos distribuídos em cinco variantes: seção, apoio de fogo, comando, míssil e suporte. O contrato inicial incluía, além da produção dos veículos, a logística, munição e simuladores, com orçamento de aproximadamente US$ 69 milhões para a fase de desenvolvimento.
A primeira fase do contrato deveria ser concluída em maio de 2012, mas não foi cumprida. A segunda fase, que previa a industrialização e a produção de 244 veículos, teve um orçamento planejado de US$ 420 milhões, mas o valor real contratado em 2013 foi de US$ 474 milhões. Estimava-se que a entrega fosse finalizada até novembro de 2023. Até o momento, nenhum veículo foi entregue à SANDF.
Ex-ministros e parlamentares relataram que a Denel admitiu oficialmente não ser capaz de completar o projeto dentro das especificações, orçamento ou prazo. Em dezembro de 2021, o Conselho da Armscor decidiu cancelar o contrato de industrialização e produção, condicionado ao envolvimento de todas as partes interessadas. O deputado Chris Hattingh, da Aliança Democrática, afirmou que o número de veículos planejados foi reduzido de 244 para 88, representando apenas um batalhão. Segundo ele, a Denel mantém cerca de US$ 86 milhões em estoque do projeto, incluindo peças e subconjuntos, sem perspectiva de integração completa até 2025.
O atraso no projeto é atribuído a dificuldades financeiras da Denel, agravadas pela captura da empresa pelos Guptas, grupo empresarial sul-africano envolvido em esquemas de influência sobre instituições estatais. A Comissão Zondo, que investigou a captura do Estado, apontou que a VR Laser Services, fornecedora da Denel, foi usada como veículo para direcionar contratos e controlar a produção de componentes de aço para os veículos blindados do projeto. Contratos assinados em 2014 e 2015, com valores de dezenas de milhões de dólares, resultaram na produção de apenas 14 cascos de veículos para integração.
O relatório da Comissão Zondo detalhou que o controle da VR Laser pelos Guptas permitiu pressionar a Denel a expandir negócios internacionalmente, e que medidas foram tomadas para substituir executivos que não cooperavam com o grupo. Em 2015, a Ministra das Empresas Públicas, Lynne Brown, nomeou um novo conselho para a Denel, removendo o antigo, considerado competente e com histórico de contratos no valor de US$ 2 bilhões. O novo conselho suspendeu executivos-chave, incluindo o CEO e CFO, pagando grandes indenizações.
O relatório conclui que a captura do Estado causou danos significativos à reputação e capacidade operacional da Denel. A reconstrução da empresa será longa, e seu futuro financeiro permanece incerto, com risco de falência. Até o momento, a SANDF continua sem receber nenhum Badger, e o projeto, iniciado há 18 anos, permanece em desenvolvimento.
