A Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) estuda a conversão de jatos executivos em aviões-tanque como parte do programa Sistema de Reabastecimento Aéreo de Próxima Geração (NGAS), buscando alternativas a KC-135 e KC-46 diante de ameaças antiaéreas crescentes. O anúncio foi feito pelo General John Lamontagne, chefe do Comando de Mobilidade Aérea (AMC), durante a Conferência Aérea, Espacial e Cibernética de 2025, em Washington, DC.
O NGAS é descrito pela USAF como uma futura família de capacidades de reabastecimento, abrangendo aviões-tanque convencionais, jatos executivos convertidos, plataformas combinadas e projetos furtivos. Lamontagne afirmou que a análise está sendo feita de forma ampla, considerando desde aeronaves tradicionais, como KC-135 e KC-46, até aeronaves furtivas gerenciadas por assinatura e sistemas de asa combinada.

Proposta da IAI para um Gulfstream G550 Tactical Smart Tanker (TST)
Atualmente, a USAF possui cerca de 370 KC-135 e 96 KC-46, tendo concluído a aposentadoria dos KC-10 no ano passado. O contrato com a Boeing prevê a entrega de 188 KC-46, com aquisição adicional de 75 unidades. A substituição completa dos KC-135 e o preenchimento da lacuna deixada pelos KC-10 ainda não foram definidos.
A proposta de jatos executivos convertidos inclui aeronaves com velocidade de cruzeiro e teto de serviço comparáveis aos aviões-tanque maiores, mas com menor demanda operacional e logística. Esses aviões poderiam decolar e pousar em pistas mais curtas e operar de bases próximas às áreas de ação, oferecendo flexibilidade operacional. Entre as limitações, estão o alcance máximo, o tempo em operação e, principalmente, a quantidade total de combustível disponível para descarregar nos receptores, que não se compara aos KC-135 ou KC-46.
Esses jatos executivos poderiam atender a missões de rotina, treinamento, transporte de caças e atividades de testes, liberando os aviões-tanque maiores para operações mais exigentes. Custos de aquisição mais baixos permitem ampliar a frota e, quando não estiverem em missões de reabastecimento, poderiam ser usados como transporte leve.
Historicamente, a ideia não é nova. Em 2010, a Israel Aerospace Industries apresentou um conceito de avião-tanque baseado no Gulfstream G550, com lança central, destinado ao treinamento. A USAF e outros ramos já operam variantes de Gulfstream e Bombardier Challenger, incluindo aeronaves altamente modificadas, como o EA-37B Compass Call e o E-11A BACN. A Boeing 737 também é citada como potencial base para conversão.
A USAF explora conceitos de sistemas de lança independentes, capazes de integrar jatos táticos e operar em um modelo “hub-and-spoke” multicamadas, aumentando a eficácia do reabastecimento em ambientes dispersos. Essas operações se alinham aos conceitos de Emprego Ágil em Combate (ACE), que priorizam a dispersão para complicar a seleção de alvos inimigos e reduzir vulnerabilidade, estratégia adotada também pelo Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA.
Lamontagne ressaltou que a sobrevivência em ambientes de alta ameaça continua sendo prioridade, considerando a expansão de mísseis antiaéreos com alcance de até 1.000 milhas prevista até 2050. Plataformas furtivas são avaliadas, mas o custo é uma questão central. Segundo o general, a análise de alternativas de 2024 indicou que os custos de uma plataforma furtiva do tamanho do KC-135 poderiam variar entre os níveis do F-35 e aeronaves tradicionais. Solicitações recentes à indústria visam refinar essas estimativas.
Ilustração de um Boeing 737 convertido para aeronave de reabastecimento tática KC-737 (Tanker version)
O cronograma do NGAS ainda não é definitivo, mas a meta da USAF é iniciar a implementação de capacidades de reabastecimento aéreo de última geração antes de 2040. Autoridades militares alertam sobre limitações da frota atual e sobrepressão operacional, agravadas por problemas de qualidade no KC-46. Para mitigar o déficit, a Força Aérea e a Marinha têm recorrido a empreiteiros privados para apoiar reabastecimentos não relacionados a combate.
De acordo com Lamontagne, “quase todas as opções estão sobre a mesa” para atender aos requisitos do NGAS, incluindo aviões-tanque convencionais, furtivos e jatos executivos convertidos. A prioridade é garantir capacidade de sobrevivência e operação eficiente em cenários de alta ameaça, mantendo a flexibilidade logística e operacional.