As Forças Armadas do Mali (FAMA) receberam em 3 de setembro um novo lote de equipamentos militares fornecidos pela China, reforçando significativamente sua capacidade de combate em um cenário marcado por insurgência e instabilidade regional. A remessa, desembarcada em Bamako após transporte desde o porto de Conacri, na Guiné, incluiu veículos blindados de transporte de pessoal CS/VP14, veículos de apoio de fogo VN22B, obuses de 122 mm CS/SH1 montados em caminhões, veículos táticos leves CTL-181A e barcos, compondo parte de um pacote maior de 160 unidades adquiridas da Norinco. Entre os destaques, estão 24 CS/VP14, seis VN22B equipados com canhões de 105 mm e nove VN22 multifuncionais.
O CS/VP14 é um veículo 4×4 projetado para transportar até dez soldados e dois tripulantes, com proteção certificada pelo STANAG 4569 nível 3b, capaz de resistir a explosões de até 8 kg de TNT sob o casco e 16 kg sob cada roda, além de munição perfurante de 7,62 mm. Equipado com motor Deutz de seis cilindros e 331 cavalos de potência, alcança velocidades superiores a 105 km/h. O veículo é relativamente novo, tendo iniciado produção em massa no final de 2023, e já integra os exércitos do Quênia e de Burkina Faso. O VN22B, por sua vez, atua como plataforma de apoio de fogo móvel, equipada com canhões de 105 mm que permitem às tropas malianas aumentar o alcance e a intensidade do combate contra insurgentes.

obuses de 122 mm CS/SH1 (PCL-09)
O fornecimento faz parte de um contrato assinado em setembro de 2024 entre o Mali e a Norinco, prevendo a entrega de equipamentos militares, treinamento de pessoal e transferência de tecnologia. Este contrato reflete não apenas a cooperação bilateral crescente entre Pequim e Bamako, mas também o interesse do Mali em diversificar suas fontes de armamento diante de um contexto regional instável. A entrega já havia começado em julho/agosto de 2025, incluindo CS/VP14 e veículos Dongfeng EQ2050, embora a operação de transporte tenha sido marcada por um acidente fatal em Conacri, que matou três civis.
O arsenal maliano atual é diversificado e inclui veículos blindados adquiridos ou doados por diferentes países. Desde 2021, o Mali recebeu VN2C, BTR-70, BRDM-2, Puma M36, caminhões Kia KM450 e veículos multifuncionais Dongfeng EQ2050, com contribuições de Emirados Árabes Unidos, Alemanha e África do Sul. Veículos blindados de transporte de pessoal, utilitários KIA e Toyota, e blindados Leopard doados por parceiros internacionais compõem a frota, que agora combina mobilidade, proteção e capacidade de fogo. Esta variedade permite às FAMA conduzir operações em diferentes tipos de terreno, incluindo áreas urbanas, florestas e regiões semiáridas do Sahel, ao mesmo tempo em que incrementa sua resiliência contra ataques de guerrilhas e ataques improvisados.

Durante a viagem de Conacri, em 1º de setembro, um dos veículos de transporte colidiu com um veículo civil na Guiné, matando três pessoas. Na imagem o veículo de transporte danificado, carregado com dois CS/VP14s.
O contexto estratégico reforça a relevância desta expansão militar. O Mali enfrenta grupos insurgentes islâmicos e milícias locais há mais de uma década, e a instabilidade política interna agrava o desafio de conter a violência. O fornecimento de blindados chineses fortalece não apenas a capacidade operacional imediata, mas também sinaliza a intenção do país de manter uma presença militar capaz de sustentar operações prolongadas no Sahel. Além disso, a diversificação das fontes de equipamento, incluindo parcerias com China, África do Sul e países europeus, reduz a dependência logística de um único fornecedor, estratégia crucial em um ambiente marcado por sanções, bloqueios e flutuações diplomáticas.
Em nível regional, a chegada dos CS/VP14 e VN22 também se insere em um contexto de modernização militar de países vizinhos, como Burkina Faso, Quênia e Nigéria, que têm buscado equipamentos móveis e protegidos para enfrentar ameaças insurgentes. A capacidade de deslocamento rápido, proteção contra explosivos improvisados e poder de fogo móvel torna esses veículos particularmente adequados para o tipo de conflito assimétrico que domina o Sahel.
A aquisição chinesa evidencia ainda o papel crescente de Pequim como fornecedor de equipamento militar na África, oferecendo soluções que combinam custo competitivo, tecnologia moderna e suporte logístico em regiões onde a presença de fornecedores tradicionais europeus ou norte-americanos é limitada. Para o Mali, os novos blindados não apenas ampliam a capacidade de combate, mas também consolidam uma parceria estratégica com a China, alinhada com treinamentos e transferência tecnológica previstos no contrato de 2024.
Com uma frota diversificada e cada vez mais moderna, o Mali busca manter a capacidade de sustentar operações militares complexas, melhorar a proteção das tropas e projetar força em um cenário de conflito prolongado, reforçando sua posição como um ator estratégico no combate ao extremismo no Sahel.