Washington autoriza possível fornecimento de caças Lockheed Martin F-16 Block 70 para a Força Aérea do Peru

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A recente aprovação pelo Departamento de Estado dos EUA de uma possível venda militar ao Peru, avaliada em US$ 3,42 bilhões, representa muito mais do que uma simples transação de equipamentos militares. O pacote, que inclui 12 caças F-16 Block 70 e um extenso conjunto de armamentos e sistemas de apoio, sinaliza um importante realinhamento estratégico na região andina e reflete as novas dinâmicas geopolíticas que se desenham na América do Sul.

A aquisição dos F-16 Block 70 representa um salto tecnológico significativo para a Força Aérea Peruana (FAP), atualmente equipada com aeronaves de gerações anteriores, como os Mirage 2000 e os MiG-29, ambos com capacidades limitadas frente às tecnologias atuais. Os novos caças incorporam sistemas de última geração, como o radar AESA AN/APG-83, que oferece capacidades avançadas de detecção e rastreamento de múltiplos alvos, além de sistemas de guerra eletrônica Viper Shield, que ampliam significativamente a sobrevivência em ambientes hostis. A configuração solicitada pelo Peru é particularmente robusta, incluindo mísseis ar-ar AIM-120C-8 AMRAAM de médio alcance e AIM-9X Block II Sidewinder para engajamentos de curta distância, além de capacidades de ataque de precisão ar-solo. Essa combinação transforma radicalmente o poder aéreo peruano, colocando-o entre os mais avançados da região.

Lockheed Martin entrega os dois primeiros caças F-16 Bloco 70 da Eslováquia - Airway

Embora o comunicado da DSCA afirme que a venda “não alterará o equilíbrio militar básico na região”, a realidade geopolítica sul-americana sugere interpretações mais complexas. O Peru compartilha fronteiras com cinco países, incluindo Chile, Equador e Colômbia, todos com programas ativos de modernização militar. O Chile, por exemplo, opera F-16 Block 50 e já manifestou interesse em atualizações, enquanto a Colômbia recentemente negocia a compra de aeronaves mais modernas. Essa dinâmica sugere uma corrida armamentista discreta, mas constante, onde cada país busca manter paridade relativa com seus vizinhos. Vale ressaltar que o Brasil, maior potência regional, mantém seu programa de desenvolvimento dos caças Gripen E/F em parceria com a Suécia, o que também pode ter influenciado a decisão peruana de buscar uma plataforma ocidental avançada.

Para Washington, a venda representa uma vitória diplomática e estratégica significativa. Em um momento em que China e Rússia ampliam sua influência na América Latina por meio de investimentos e vendas militares, os EUA consolidam sua presença no Peru, país tradicionalmente não alinhado automaticamente à política externa americana. A justificativa oficial de que os F-16 auxiliarão no combate ao narcotráfico e terrorismo é apenas parte da equação. Na realidade, a venda estabelece uma dependência tecnológica e militar de longo prazo, garantindo influência americana por décadas, já que sistemas complexos como esses exigem constante manutenção, atualizações e treinamento.

Chama atenção a ausência, até o momento, de acordos de compensação industrial (offset), comuns em transações dessa magnitude. Tais acordos geralmente incluem transferência de tecnologia ou investimentos no país comprador, o que poderia beneficiar a indústria de defesa peruana. A falta desses termos sugere uma posição negociadora potencialmente desfavorável para Lima.

Para o Peru, o investimento de US$ 3,42 bilhões representa um compromisso financeiro substancial, especialmente considerando os desafios econômicos e sociais que o país enfrenta. A decisão certamente enfrentará questionamentos internos sobre prioridades orçamentárias em uma nação onde persistem desigualdades sociais significativas. Por outro lado, a modernização militar pode ser interpretada como uma tentativa do governo peruano de fortalecer instituições estatais e projetar uma imagem de estabilidade após anos de turbulência política. A capacidade de controlar efetivamente o território nacional, especialmente em regiões remotas onde o narcotráfico opera com relativa liberdade, representa um desafio persistente para a governabilidade.

Infográficos e ilustrações do F-16 Bloco 70/72 : r/FighterJets

A aprovação pelo Departamento de Estado é apenas o primeiro passo em um longo processo. O Congresso americano ainda precisa avaliar a proposta, e as negociações finais entre Peru e os fornecedores podem alterar aspectos do acordo. A implementação completa, incluindo entrega e operacionalização das aeronaves, levará anos. O verdadeiro teste para essa aquisição será sua sustentabilidade a longo prazo. Sistemas de armas avançados exigem não apenas o investimento inicial, mas também recursos contínuos para manutenção, treinamento e atualizações. A história militar latino-americana está repleta de exemplos de modernizações ambiciosas que perderam efetividade por falta de suporte continuado.

Para além dos aspectos técnicos e militares, essa aquisição representa uma clara escolha geopolítica do Peru, alinhando-se mais fortemente com Washington em um momento de crescente competição entre grandes potências na América Latina. Como tal, deve ser analisada não apenas como uma transação militar isolada, mas como parte de um reposicionamento estratégico com implicações duradouras para o equilíbrio regional de poder.

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